sexta-feira, 17 de maio de 2013

ROTA DOS TROPEIROS - De Itararé a Apiaí


ROTA DOS TROPEIROS
De Itararé a Apiaí
16/17 de maio de 2013.

Amanheceu chovendo em Itararé, na quinta-feira, dia 16. Justamente no dia em que acordamos mais cedo, e as oito já estávamos prontos para partir. O objetivo era chegar até Barra do Chapéu, ou até mesmo a Apiaí, a 100 km de Itararé. Tomamos uma decisão: esperar melhorar um pouco o tempo. Havia a opção, caso a chuva não parasse, de seguir até Bom Sucesso do Itararé, que fica no caminho proposto, via asfalto, o que aumentaria o percurso em pelo menos 15 km. Todas são cidades do estado de São Paulo.

Ficamos vendo televisão, analisando mapas, e não é que a chuva cessou. Partimos às 10h00, e achamos por bem pegar a estrada de chão, que corta caminho. Foram 20 km de subida, praticamente em linha reta, contínua, porém não era íngreme, num ambiente de reflorestamento. Então a paisagem era única: pínus, pínus, pínus – eucalipto, eucalipto, eucalipto; não dava para dizer que era feia, mas também não era bonita. Era sim sossegada, pois não havia movimento algum, era só nossa, pelo menos até chegar ao asfalto. Depois da subida tivemos mais 16 km em superfície plana, ainda em estrada de chão.

O asfalto chegou e com ele uma descida alucinante de 1 km, em curvas, e daí sim, uma vista deslumbrante: trata-se da montanha de pedras, esculpidas pela ação continua dos ventos e das chuvas, com diversos formatos, do tipo das que encontramos no Parque de Vila Velha, próximo a Ponta Grossa, no Paraná. As principais formações são a do Camelo, da Galinha, do Gorila, dos Cristais e do Elefante. Fica no município de Bom Sucesso do Itararé, a 3 km da formação rochosa.

“Um lugar cheio de beleza, cenários surpreendentes e relaxantes. Assim pode ser definido o pequenino município de Bom Sucesso do Itararé, hoje com menos de quatro mil habitantes. A área faz parte do futuro Geoparque Itangua, que também engloba outras três cidades, numa extensão de 80 km: Nova Campina, Itararé e Itapeva.
A origem do primeiro núcleo de Bom Sucesso de Itararé foi a implantação, em 1929, da serraria Junqueira Mello, no bairro de Terra Boa. A emancipação do distrito é resultado de uma série de desmembramentos administrativos a partir da condição de povoado, sendo sua formação histórica marcada pelo tropeirismo e pela extração de minérios.
A grande concentração de cânions e montanhas na região é o maior atrativo para quem decide visitar a cidade. Quem visita a cidade não pode deixar de conhecer a casa da Sra. Rosa Pontes. As habilidosas mãos da simpática artesã transformam argila em verdadeiras obras de arte, conhecimento transmitido por cinco gerações da família descendente dos índios Caingangs. O barro ganha vida através de belíssimos vasos, cachepôs, jarras, moringas, farinheiras, bombonieres e a tradicional galinha-pote.” (fonte: revista Aventura & Ação - 2011)

Apesar da quilometragem baixa (40 km), resolvemos ficar por ali mesmo, na pequena Bom Sucesso do Itararé. Já havíamos sido orientados pela Veruska, que antes do portal de entrada da cidade, havia uma pousada/restaurante, da Da. Ozélia, muito simples, porém bem cuidada pela proprietária. Eram 15h00, e a Da. Ozélia nos preparou um enorme e saboroso PF (prato feito). A opção por ficar ali até que foi válida, porque pudemos descansar bem, e descobrimos depois que demoraríamos mais de três horas para chegar a Morro do Chapéu, e muito mais até Apiaí. Não chegamos a conhecer a cidade, que fica a 2 km daquele ponto, deixaríamos para fazer isso pela manhã, já que obrigatoriamente passaríamos por ela.

Acordamos cedo, ao som de música sertaneja, daquelas originais, e também do motor de um trator, estacionado defronte à janela de nosso quarto. O barulho do trator não chegava a ser um problema, mas a fumaça lançada ao ar penetrava para dentro do quarto, e passou a incomodar pela quantidade de gás carbônico. O jeito foi se arrumar logo, tomar um café e partir.

Ao contrário do dia anterior, que depois da chuva chegou até a ameaçar um mormaço, nesta sexta-feira, dia 17, as coisas mudaram radicalmente. Céu com “cara feia”, e temperatura abaixo dos 10°, com certeza. Agasalhamo-nos bem e partimos, orientados pela Da. Ozélia a pegar um atalho quando chegássemos ao asfalto, talvez uns 15 km adiante. Seria a melhor forma de chegar a Apiaí, e depois dali para Iporanga.

Olha que a estradinha até que estava boa para pedalar, mas a região é extremamente montanhosa; muitas subidas, e com grau de elevação que dificultava pedalar, e em função do peso que carregávamos, via de regra tínhamos que fazer um “empurrabike”. Isso mina a gente, e só não foi pior justamente porque estava frio, do contrário...

Por volta do meio dia, e 36 km pedalados, chegamos a Barra do Chapéu, um pequeno município encravado entre as montanhas. Aproveitamos para almoçar. O objetivo passou a ser Iporanga, serra abaixo. Mas mesmo saindo cedo do almoço, descobrimos que seria difícil atingir a meta. Se no primeiro trecho havia subidas, no segundo elas eram ainda em números maiores, e mais íngremes ainda. O que minimizou o sofrimento é que a estrada era pavimentada, e quando precisamos emburrar as bikes, essas deslizavam melhor, facilitando o trabalho.

Não era tarde, talvez umas quatro horas, quando finalmente chegamos a Apiaí. Mesmo sabendo que o restante do percurso seria em descida, preferimos procurar abrigo e dormir por aqui mesmo, lugar de onde escrevo este relato. Sou sincero em afirmar que o percurso do dia também não tinha uma paisagem muito bonita. Salvo alguns trechos, principalmente no alto das colinas, quando era então possível olhar ao longe e sentir a força das montanhas. Infelizmente a região, como toda aquela do Alto Ribeira, aqui perto, parece um pouco menosprezada pela administração dos estados do Paraná e São Paulo.

Eu até não ia contar, mas depois dos fatos, que poderiam ser graves, acabou não passando de um susto, e ficou até cômico no final. Ocorre que logo depois de escrever este texto, fui tomar banho, mas antes sentei no “trono” para o “2”. Enquanto isso, a Carmo foi secar seus cabelos. Ela pegou o secador e o ligou na tomada de uma extensão, daquelas vermelhas em que o fio fica enrolado. A única tomada do quarto fica atrás da cabeceira da cama; quando ligou o secador percebeu que a força não era a mesma, como se a voltagem estivesse errada. Falou mais alto para mim, para que eu escutasse lá do “trono”. 

Enquanto eu pensava qual seria o problema, ela disse: - Sergio, o secador desligou, acho que queimou. E, logo em seguida, gritando. – Sergio, Sergio, acuda, tá pegando fogo; ai ai ai, fogo. Levantei imediatamente do “trono”, abri a porta do banheiro e fui ajudá-la. Percebi imediatamente que a extensão não suportou a carga do secador e entrou em “curto”. A fiação esquentou e realmente começou a pegar fogo e a fumaça de cheiro forte de fio queimado começou a invadir o quarto. Pedi primeiro para ela arrastar a cama e para ela pegar a toalha, que ela usou ao tomar banho e estava úmida, para abafar. 

Por sorte nem precisou, pois quando cheguei à cabeceira da cama, o fio da extensão, que estava queimando, se soltou (quebrou é claro, por causa do fogo), e não havia mais curto ou superaquecimento, apenas pegava um pouco de fogo, e que se apagou sozinho. Outra sorte é que não havia qualquer objeto de pano próximo ao fio, caso contrário o efeito seria desastroso. Que susto!

A comédia veio em seguida. Enquanto a Carmo foi avisar o dono da hospedagem sobre o ocorrido, e já havíamos aberto a janela para tirar a fumaça, voltei ao banheiro para tomar banho. Foi durante o banho que percebi onde estava quando a Carmo me chamou desesperada (Desenho, ou dá para entender? kkkkk).

Pra encerrar, a Carmo continuava com o proprietário acertando os detalhes, inclusive vendo uma nova extensão, enquanto eu tomava banho. Nisso, ela voltou ao quarto, quando percebeu que a porta estava trancada. Resmungou bastante, falava junto da porta: - Sergio, porque você trancou a porta? Abra pra mim. Bateu mais algumas vezes, e como eu não atendi, sentou-se num sofá e esperou por um tempo, sem entender nada. Depois de alguns instantes começou a rir sozinha. Estava batendo no quarto errado...









Barra do Chapéu

3 comentários:

  1. Pois é Guilherme. Esse passeio está maravilho. Já passamos pelo Vale do Ribeira e agora estamos no Lagamar. Logo estaremos em Superagui para curtir aquela praiona deserta, só para nós...

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  2. Caro amigo Sergio Riekes, quero lhe falar do meu grande respeito e admiração pelo que você tem feito pelo cicloturismo em Curitiba e no Paraná.

    Suas viagens são maravilhosamente ilustradas pelas grandes fotos que compõem a história toda. A narrativa clara e direta do seu texto passa a emoção do que você e a Carmo estão vivendo no momento.

    Parabéns, meus sinceros parabéns por tanta dedicação, por tanto carinho com o ciclismo.

    Para a Carmo, meu respeito e profunda admiração pela grande companheira que o Sérgio tem.

    Sempre juntos os dois escrevem a quatro mãos essa bela página que já é parte da história do ciclismo e do cicloturismo no Paraná.

    Sinto verdadeiro orgulho de ser amigo de vocês.

    Um grande abraço

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