terça-feira, 22 de abril de 2014

TERESINA - Piauí

TERESINA

22 a 25 de Setembro/2013

O Val nos convenceu, e continuamos com o grupo dele. Ele prometeu nos deixar em Peritoró, também no Maranhão, o local mais próximo à Teresina, no Piauí, nosso último destino.

Deixamos Carolina para trás, vislumbrando ainda, mesmo no final da tarde de sábado, as belezas naturais da Chapada das Mesas. A estrada (BR 010) estava tranquila, sem muito movimento, e as camionetes imprimiram uma boa velocidade.

Passamos pela cidade de Estreito (MA) e Porto Franco (MA), e margeamos Tocantinópolis (TO), todas ficam à margem do rio Tocantins, que divide os estados do Maranhão e Tocantins. Foi ali que o Val parou num posto de gasolina e perguntou a todos se queríamos pernoitar por ali, e se aguentávamos mais um trecho, até Grajaú. Todos concordaram em seguir, pois estaríamos cada vez mais perto do destino, deixando a viagem do domingo mais sossegada.

Pegamos a BR 226 à direita e seguimos mais 150 km até lá. Dos parques de Carolina até Porto Franco foram mais de 100 km. Chegamos por volta das 20h30 e logo procuramos um local para pernoite, à beira da estrada, um Hotel bem confortável. Depois de um bom banho seguimos em grupo até uma espécie de praça da alimentação, com comidas típicas. O Val insistia em comer tatu. Confesso que fiquei feliz por ele não ter encontrado; não sei se conseguiria comer – não estou acostumado. Procuramos outros pontos de comida, e acabamos nos separando, pois o grupo dele foi a um restaurante, de um lado da estrada, e nós três seguimos para o outro, numa pizzaria.

O domingo amanheceu, para variar, muito quente. Logo pegamos a estrada. O visual era o mesmo: cerrado e mais cerrado. Até que chegamos à região de uma reserva indígena. Conflitos entre índios e brancos existem em todos os lugares do Brasil, todos nós sabemos. O governo tenta fazer o possível, ou talvez não, para resolver as questões fundiárias, e delimitar áreas de reservas. O problema é que essas regiões às vezes se tornam perigosas; transitar por essas rodovias, de noite, nem pensar, dizem os experientes.

Ocorre que num determinado momento, justamente quando entrávamos na reserva, o asfalto, que até então estava lisinho, bem cuidado, passou a ficar completamente esburacado. Percebemos em seguida, que o poder público não consegue gerir o problema. Só havia visto a cena em documentários na televisão, e achava que era pontual, e que isto não existia mais. Estou falando de duas coisas feitas pelos índios, a fim de conseguirem algum dinheiro, como um “pedágio”: primeiro, alguns pequenos índios, homens, com pás, cobriam alguns buracos para facilitar a passagem dos automóveis, e lá vinha o pedido de dinheiro (logo em seguida provavelmente abriam o buraco novamente, para o próximo incauto); segundo, grupo de mulheres, meninas e outras crianças, esticavam barbantes, com alguns penduricalhos, de um lado ao outro da estrada, provocando a diminuição da velocidade e novamente o pedido por dinheiro. Separamos muitas moedas, e por alguns quilômetros fomos distribuindo em cada barreira dessas.

Quando a coisa ficou mais tranquila, o Val perguntou se queríamos conversar com os índios. Nem respondemos e ele parou no acostamento, sendo acompanhado pela camionete do Cleydson. Uma pequena barraca estava lá, sem ninguém, com alguns objetos de artesanato confeccionados pelos indígenas. Logo um grupo de senhoras saiu do fundo do terreno, onde havia uma casa, e correu para nos receber. Depois de olhar alguns utensílios, apenas a Gorete comprou algo.
Enquanto as mulheres do nosso grupo viam os objetos, nós, homens, observamos ao fundo, ao lado da casa, um grupo de indígenas com espingardas e revólveres. Felizmente estavam apenas testando suas miras em algumas latas. Mas que o estampido dos tiros assustou, assustou.

Continuamos a viagem e logo chegamos a Barra do Corda. Corda é o nome do rio que passa pela pequena cidade, e barra, porque o rio deságua justamente naquele ponto no rio Mearim. Encontramos um lugar para fazer um aperitivo e seguimos até a casa da avó da Betania. Lá a família dela foi muito receptiva e chegou a oferecer um almoço. Alguns comeram um pouco de guisado e voltamos para a estrada.
Famílias se divertem no rio do Corda

Lanche à beira do rio do Corda

Val e família

Rio do Corda desaguando no Mearin


Poucos quilômetros depois paramos em Presidente Dutra, outra pequena cidade da região central do Maranhão. Paramos para visitar outros parentes de nossos condutores. Nos fundos da casa simples havia uma criação de pequenas tartarugas. Bebemos água e refrigerante e, antes de sair da cidade, deu tempo de chupar um bom sorvete caseiro e comprar rapadura, servida em pequenos tabletes, fácil de degustar.
"Sossegada" Presidente Dutra...

Sossegada Presidente Dutra


Na forma prometida, o Val nos deixou em Peritoró, pouco menos de 200 km de Teresina. Naquele ponto, a BR 135, onde circulávamos, encontra a BR 316. É uma confluência muito agitada, embora o lugar seja bem pequeno. Na estação de ônibus, percebemos que teríamos várias opções de locomoção até a capital piauiense. Depois de alguns acertos daqui e dali (o funcionário e o motorista queriam ganhar um “trocado” extra para levar as bicicletas – é claro que não caí nessa), escolhemos nosso ônibus e embarcamos, não sem antes comprar alguma coisa para beber e comer durante o trajeto. É preciso dizer que toda a família do Val nos acompanhou para despedida; eles foram sensacionais conosco, e nos proporcionaram conhecer um pouco do costume regional. Temos muito a agradecer.

Digo, também, que não fizemos esse trecho pedalando, por absoluta falta de tempo. Nosso avião partiria na quarta-feira, dia 25 de setembro, e estávamos no domingo, 22. Não conheceríamos Teresina, nosso objetivo. Percebemos, por outro lado, que esse trecho é extremamente deserto, de paisagem monótona e acostamento complicado, sem contar o calor sufocante. Foi uma medida segura, acredito.

Ainda dentro do ônibus, conversando com outras pessoas, sabendo que queríamos ir até o centro da cidade, nos disseram que era melhor descer antes de passar a ponte, em Timon, do lado do Maranhão, pois a rodoviária de Teresina era mais longe. Foi o que fizemos. Desembarcamos, montamos as bicicletas e seguimos uma avenida de duas pistas, com pouco movimento e logo chegamos à antiga e bonita ponte de ferro que atravessa o rio Parnaíba e separa os dois estados.

Já estava noite e quando chegamos ao centro da cidade, percebemos o quanto estava deserto. O centro, como na maioria das grandes cidades, é a parte antiga, sem muitas residências, apenas comércio, justificando a ausência de pessoas, ainda mais no domingo. Chegamos a um pequeno hotel, mas como o preço passava do nosso “bolso”, o próprio atendente indicou outro, mais em conta, perto de uma das principais praças da cidade. Lá nos abrigamos. Dali, teríamos como explorar todas as regiões da capital.

Fizemos isso. Logo de saída, na manhã de segunda, passamos pedalando pelo Palácio de Karnak, imponente e bela sede do governo estadual desde 1926. Antes era um palácio imperial. Em seguida, logo ao lado, a Igreja de São Benedito, cuja obra foi iniciada por franciscanos em 1874 e terminada doze anos depois. É um dos três principais templos católicos da cidade; os outros são a Igreja de Nossa Senhora das Dores e a padroeira Catedral de Nossa Senhora do Amparo.



Continuamos pela principal avenida do centro da cidade, a Frei Serafim, e atravessamos a ponte Juscelino Kubitschek, sobre o rio Poty, também chamado de Poty Velho. Do outro lado do rio já se vê uma cidade mais moderna, com um belo Shopping na avenida que beira o rio, a famosa Raul Lopes. Aliás, há não muito tempo atrás, fizeram uma bela ciclofaixa, rigorosamente pintada de vermelho, estreitando o espaço para os outros veículos. Interessante que no dia da chegada à capital, vimos no noticiário local, muitos motoristas de carro e motociclistas sendo multados por trafegarem pela ciclofaixa. Depois, pela cidade, vimos campanha de conscientização no trânsito. Aproveitando, o trânsito é bem complicadinho; mototaxistas brigam constantemente com motoristas e os acidentes se proliferam, tanto é que presenciamos um.

Rio Poty










Circulamos depois pela região sul, até chegarmos à beira do rio Parnaíba. Interessante encontrar novamente esse rio, mais acima, posto que serpenteia entre os dois estados, por quase quatrocentos quilômetros até formar o majestoso delta. Pedalamos então pela Avenida Maranhão, quando chegamos à Ponte Velha, metálica, aquela que atravessamos na chegada: Ponte João Luiz Ferreira. Levou 17 anos para ser construída, e foi inaugurada em 1939. Agora de dia, deu para ver sua imponência. Cruzamos até Timon e voltamos, isso para aproveitar a vista de Teresina.





Aproveitamos que estávamos na região de muito comércio, e procuramos por caixas de bicicleta, para acondicioná-las, já pensando no retorno. Encontramos e carregamos de forma desengonçada até nosso hotel. Depois voltamos à beira rio para almoçar. Interessante observar que o pessoal aproveita a água do rio para lavar todo tipo de veículo, inclusive ônibus. Provavelmente a gurizada que fica por ali cobra uma taxa, e a calçada fica uma lambança só; confesso que não é nada agradável ver aquilo.



Final da tarde, e a opção de passeio é de seguir até o encontro dos rios Poty e Parnaíba, quando o primeiro se lança no leito do segundo, junto a um belo por do sol. Interessante foi encontrar ali a estátua do “Cabeça de Cuia”. Demos algumas risadas com isso, porque durante nossa expedição, alguns brincavam com o Neimar, o chamando de “Cabeça de Cuia”. No final, fomos conhecer o “verdadeiro”. É claro que ele não gostava das brincadeiras, mas tudo bem; sobreviveu...
“Cabeça de Cuia é uma lenda da região nordeste do Brasil, mais precisamente criada no estado do Piauí.Trata-se da história de Crispim, um jovem garoto que morava nas margens do rio Parnaíba. Sua família era necessitada. Um certo dia, chegando para almoço, sua mãe lhe serviu, como de costume, uma sopa rala, com ossos, já que faltava carne na sua casa frequentemente. Nesse dia ele se revoltou, e no meio da discussão com sua mãe, arremessou o osso contra ela, atingindo-a na cabeça e matando-a. Antes de morrer sua mãe lhe amaldiçoou a ficar vagando no rio e também como efeito da maldição, Crispim ficou com a cabeça muito grande, no formato de uma cuia, daí o nome "cabeça de cuia". A mãe ainda lhe disse que sua perna penduraria até que ele se relacionasse sexualmente com sete Marias virgens. Dada essa lenda, muitas garotas antigamente evitavam lavar as roupas às margens do Rio Parnaíba.
A Prefeitura de Teresina instituiu, em 2003, o Dia do Cabeça de Cuia, a ser comemorado na última sexta-feira do mês de abril.” (fonte: Wikipédia) 




Encontro dos rios




Aproveitamos o último dia disponível, terça-feira, para passear de bicicleta em Teresina. O calor era impressionante, e em certo momento, perto do meio dia, o termômetro da rua marcava 40°. Poucas pessoas se arriscam a fazer exercícios nesse horário, e, de bicicleta, só encontramos com guardas do batalhão ambiental.


Passamos pela  Central de Artesanato Mestre Dezinho, um local que além de vender produtos originais, conta muito da história do Piauí. Continuamos pelo centro até chegarmos ao bairro de nome esquisito: “Porenquanto”. Dali foi um pulo, ou melhor, uma pedalada, até a linda Ponte Estaiada Mestre João Isidoro França. Do outro lado do rio Poty há um elevador que leva até o alto da torre, onde existe um mirante 360°, sendo possível admirar e conhecer melhor toda a capital piauiense. Subimos e observamos tudo rapidinho. É que o tempo de visita é limitado, e o funcionário gentilmente pede para descermos após cinco minutos. A taxa de entrada é bem pequena. Vale muito à pena.







Já montados na bicicleta novamente, fomos até os bairros Fátima, Horto e Jóquei, onde almoçamos. Enquanto estávamos no restaurante, houve uma queda de energia, só não sei se era apenas no bairro ou em toda a cidade.
Ficamos realmente felizes por escolher voltar de Teresina para nossa terra, podendo conhecer a última das capitais do Nordeste. É saudade que fica, mas quem sabe não voltamos para lá outro dia, assim como já fizemos em outros lugares. Mais uma grande aventura de cicloturismo pelo nosso rico e lindo país. Qual será a próxima?







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