quarta-feira, 3 de setembro de 2014

JERICOACOARA A PARNAÍBA

ROTA DAS EMOÇÕES 2014

De 29 a 31 de agosto

JERICOACOARA A CHAVAL

Era preciso deixar Jeri; não tem jeito, pois a aventura continua. Então, pela manhã, não muito cedo devido à maré, percorremos as estreitas ruas de areia da vila, empurrando nossas bicicletas até a beira da praia. Passamos pela duna Por do Sol, depois deslizamos suavemente pela parte dura da areia, ao sabor do vento; logo estávamos na região de mangue seco (onde se vê os cavalos-marinhos).


Ao chegarmos ao braço de mar, que separa os municípios de Jijoca e Camocim, tentei cruzar a barra pela areia da praia, mas a maré não estava baixa o suficiente, e estava começando a “naufragar”, com bicicleta e tudo. Havia pedido para o pessoal ficar na areia firme, enquanto tentava a travessia, acompanhado pelo Sergio Benthien. Desisti. Decisão sabia, pois apesar do nosso bugueiro do dia anterior ter afirmado categoricamente que era possível passar, pescadores informaram que não teríamos chance, pois com a vazante, forma-se um canal de fortes correntezas, e apesar de parecer curto o trecho, é muito difícil fazê-lo. Deveria ter seguido meus instinto e fazer o que fiz das outras vezes: pegar a balsa.






Contornamos a ponta da areia, e retornamos por dentro da barra até as balsas; negociamos o preço e seguimos em diante. Devo ressaltar que agora as balsas estão propulsionadas por motores, tipo rabeta; antes as movimentavam com longos troncos de bambu. Tivemos que passar pelo trecho de areia fofa, fazendo um “empurrabike” por um tempo. Felizmente o lugar é bonito, com árvores de mangue e suas raízes altas, e que deixam uma imagem contrastante com a cor do mar.

Mais um longo trecho de areia, praias desertas, em torno de 20 km, e cruzamos o braço de mar de Tatajuba e Nova Tatajuba. Passamos pela praia do Coqueiro Solitário e chegamos fácil, digamos, à barra do rio em Camocim. Dali era só atravessar para a cidade e continuar a viagem. Porém, resolvemos descansar um pouco no bar e restaurante, que fica numa barraca junto ao atracadouro da balsa. Bebemos e comemos por ali mesmo. Foi uma delícia... E para complementar, apareceu uma “figura”, o Beto. Um paulista de Guarujá, madeireiro, que viajava por aquelas bandas, a serviço. Baixo, com um barrigão enorme, pernas curtas e era quase careca. Chegou do nada de outra mesa, com um copo de bebida na mão (segundo ele colocaram wisky na água de coco), pegou um banquinho, sentou-se e começou a contar piada, principalmente de gaúcho, com sotaque e tudo, pois soube que éramos do sul. Tivemos que aguentar as brincadeiras, mas foi divertido afinal. Quando ele resolveu parar de falar e retornou para sua mesa, tínhamos praticamente certeza que era um gaúcho enrustido (rs).



 



Atravessamos para o outro lado e fomos direto lavar as bicicletas num lava-jato.  Já era conhecido. Nós mesmos fizemos o serviço. Perto das duas horas da tarde fomos procurar uma bicicletaria; a bicicleta do Fábio precisava de um câmbio traseiro novo. Demorou muito o serviço, mas a bicicleta ficou novamente em boas condições. Apesar de termos ainda quase 50 km pela frente, por asfalto, isso não incomodava, pois o calor era maior naquele horário. Passamos por Barroquinha, mas ao contrário da expedição do ano passado, não ficamos por lá – a hospedagem é muito precária. Chegamos a Chaval no começo da noite, com faróis ligados, mas ainda cedo, perto das seis horas. Mais de 90 km percorridos no dia.



CHAVAL A PARNAÍBA

Pouco depois das oito da manhã deixamos a cidade de Chaval. Deixávamos também o Estado do Ceará, para atravessar o Piauí. Cinco quilômetros e paramos na divisa para uma foto especial. É preciso dizer que a passagem pelo Ceará foi esplêndida; tudo deu muito certo, seja a maré, o vento a favor, a integração do grupo, etc. Todos muito felizes, curtindo muito a jornada. A esperança é que esses “bons ventos” continuassem no Piauí.

 


A paisagem na estrada, na saída de Chaval é muito legal. É completamente diferente do que víamos até então: pedras brancas de formatos interessantes, misturado com os cactos na mata, formavam um cenário bem cangaceiro, levando a mente a imaginar que dali a pouco o bando de Lampião e Maria Bonita cruzariam a estrada, fugindo dos soldados das volantes.




Apesar de interessante, a estrada é “pesada” para pedalar. O vento não colabora; não estamos mais no litoral (neste trecho não é possível, ou fácil, seguir por lá) e o calor no asfalto é muito maior do que à beira mar. Infinitas retas, em sobe e desce, deixaram o  cenário desanimador. Mas ao avistarmos novamente o litoral, as coisas modificaram, pois apareceram as dunas, o próprio mar, o vento a favor, descida... Logo chegamos à praia de Coqueiro para descansar e almoçar. Já havíamos parado duas vezes no caminho para hidratação, mas era preciso comer alguma coisa. Tomamos banho de mar, curtimos a tarde e fomos para a cidade de Parnaíba, passando por Luiz Correia.










Infelizmente não cruzei novamente com o amigo Genário, um guia da região que conheci noutra oportunidade, e que mora por lá. Ele estava a caminho do aeroporto, em viagem de trabalho, e conversei com ele apenas por telefone. Talvez encontre com ele em Barreirinhas, no Maranhão, onde escrevo agora.
Era hora, agora, da despedida de um dos membros do grupo, o Sergio Benthiem. Ele havia deixado claro de antemão que não poderia fazer a expedição até o final, e voltaria de Parnaíba para Curitiba, passando novamente por Fortaleza. Preferiu fazer um reconhecimento da região do aeroporto, dar uma volta pela cidade, e acabou se hospedando em pousada diferente da nossa. De noite cruzamos ainda com ele, assim como na manhã do dia seguinte, quando pegaria seu voo.

Como ainda era cedo, por volta das quatro da tarde, procuramos por uma bicicletaria para conserto, desta vez da bicicleta do Wendell. A partir de certo momento, o cassete (catracas traseiras) estava girando em falso, ficando sem tração. Chegamos a empurrá-lo num trecho, mas às vezes a tração voltava. Apesar de ser um sábado, tinha loja aberta, felizmente. Desmontaram a peça inteira, limparam, lubrificaram e parece que tudo voltou ao normal. Abrigados, tomamos um bom e revigorante banho e fomos jantar.
É preciso lembrar, ainda, um fato curioso e ao mesmo tempo impressionante: Linhares, um ciclista da região, de bicicleta speed, que cruzou conosco entre Luiz Correia e Parnaíba. Assim que percebeu o grupo, deu meia volta, e emparelhou conosco, perguntando sobre nossa aventura. Mas a aventura maior, sem dúvida, era a dele. Ele pedalava apenas com uma perna...


PARNAÍBA

Escolhi levar o pessoal nesse dia de “folga” para conhecer a Pedra do Sal, um dos locais preferidos do piauiense para curtir as praias do seu curto litoral. Fica aproximadamente a 20 km da cidade. Manhã preguiçosa de domingo e saímos depois das dez. Bicicletas levezinhas sem a carga de viagem. Porém a ida é com vento contra; rendimento baixo é claro. Passamos antes na agência para acertar o transporte de barco pelo delta. Passamos pela ponte sobre o rio Igaraçú e continuamos pela estreita e perigosa estrada até lá. Percebemos que estão duplicando a estrada, sendo certo que as coisas vão melhorar nesse sentido. A região também contempla uma “plantação de ventiladores gigantes” (rs).

Encontramos uma acolhedora barraca de praia e por lá ficamos. Ela se encontra praticamente na divisa do mar de praias bravas, com o mar em enseada, junto às pedras, de praia mansa. Bebemos muita cerveja; era merecido. Tudo estava muito bom. Eu disse “bebemos”, porque também aderi, um pouco, ao “suco de ceveda” refrescante.  Resolvemos não almoçar, mas sim apenas fazer uma “boquinha” para fazer uma refeição melhor de noite.

Num determinado momento, apareceu outra “figura” em nossa mesa. Tratava-se do Bob, um simpático e folclórico senhor com cerca de 80 anos de idade. Parecia uma mistura de Sivuca, com Raul Seixa e Falcão. E já checou dizendo: “Eu sou palhaço, artista, ator, mágico, cantor (sic). Já trabalhei até com o Rei. Vocês sabem; o Rei Roberto Carlos. Vou cantar um trecho da música, vocês vão conhecer. Eu hoje estou aqui vivendo estes momentos lindos... Eu sou palhaço, mas ninguém liga pra mim; estou velho e as pessoas não dão bola, mas eu sou cantor, vou cantar mais um trecho de música... Eu sou corno; sou corno sim, kkkk. Vocês me dão um dinheirinho? Eu falo muito, não? Kkkk. Me dão um trocado aí para eu sair da mesa...” Saiu.

Enquanto estávamos por lá, passaram muitos vendedores também, mas uma coisa chamou a atenção: um sujeito tinha espetado num pau várias arraias, já limpas. Confesso que não gostei do que vi. Vendiam ovo de codorna, camarão assado, amendoim, castanha, queijo coalho, pastel, crepe, e tantas outras coisas. Vale lembrar que a praia estava bem movimentada, pois domingo diversos ônibus saem do interior do estado para essas praias.


Na volta, no meio da tarde, retornamos para a cidade, com vento a favor, e fomos tomar um sorvete especial, de frutas típicas da região nordeste. O dia estava completo, só faltava chegar a noite para jantar e descansar.




















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