quinta-feira, 18 de junho de 2015

COSTA DO SOL

COSTA DO DESCOBRIMENTO, COSTA DAS BALEIAS, COSTA DOURADA, COSTA VERDE E BELA, OS PASSOS DE ANCHIETA, COSTA DO SOL E RIO DE JANEIRO


- De Marataízes a São João da Barra (27 de maio)

Esse era um dia importante, pois deixaríamos o Espírito Santo, para entrar no Estado do Rio de Janeiro.

Mas primeiro tínhamos que deixar o Hotel de Marataízes. Nem vou dizer o nome. O café da manhã estava mais para uma “lavagem” do que uma comida. Como disse o Neimar: “Nem tudo são flores...”. Ocorre que o Hotel está abrigando famílias de desalojados, vítimas da destruição de suas casas, por força do avanço do mar. A Prefeitura está mantendo esse grupo lá. Assim, com todo o respeito, mais parecia um pombal. Nós havíamos procurado por pousadas, mas eram à beira da praia e mais caras. Ficamos no Hotel porque estava ao lado da bicicletaria. Deixa pra lá...

E lá fomos nós para a estrada. O dia estava maravilhoso, com céu azul e temperatura agradável. Saímos da cidade pela avenida beira mar, com ciclovia, mas logo depois caímos na estrada.





Passamos pelas primeiras plantações de abacaxi...
 







E começou a gangorra... Como a estrada passava sobre as falésias, assim como em Cumuruxatiba, tivemos que aguentar o sobe e desce. Pelo menos era um bom asfalto, e as descidas davam um embalo bom para aguentar parte da subida. De qualquer forma, a vista das falésias e das praias compensava qualquer sacrifício.

















Cruzamos pela lagoa do Siri, praia dos Cações e Boa Vista, até passarmos pela entrada da vila de Marobá e praia dos Neves (perto dali há um Santuário das Neves). 







Pouco depois chegamos à ponte sobre o rio Itabapoana, que divide os Estados.


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Passamos por dentro da vila de Barra do Itabapoana. Com a estrada sempre beirando o mar, passamos por algumas vilas, como Buena, Guaxindiba, Santa Clara (onde comi um Açaí) e Gargaú. Foi nessa última vila que vimos uma “plantação de ventiladores gigantes” (Usina Eólica). 

  







 


Logo entramos na vila e procuramos por alguém para fazer a travessia até São João da Barra.






Fomos informados que num pequeno posto de combustíveis, que fica beirando o canal, conseguiríamos alguém. Realmente isto era verdade; não demorou e apareceu o carrancudo dono de um barco que estava atracado. Ele costuma fazer o trajeto, de cerca de 6 km, várias vezes ao dia. O preço foi justo (R$ 10,00 por pessoa).
















Dia de pedalada gostosa, cerca de 85 km, finalizando com um belo passeio de barco. Primeiro o barqueiro passou pelo canal, e depois chegou à parte larga do famoso rio Paraíba, sendo possível ver sua barra ao longe.



Quando aportamos em São João da Barra, não foi surpresa ver de imediato, perto do pequeno porto, o principal símbolo da cidade: a fábrica do famoso Conhaque de Alcatrão de São João da Barra; empresa antiga, que remonta ao início do século passado.

Bacana! Procuramos um lugar para dormir, não longe dali e do centro da cidade. De noite fomos comer no melhor e talvez único restaurante da cidade, que serve carnes e frutos do mar. Muito bom.




- De São João da Barra a Barra do Furado (28 de maio)

Como não tinha café da manhã no Hotel, saímos cedo, já com a parafernália às sete horas e fomos a uma panificadora (lá chamam de padaria). Demoraram um pouco para atender e não estava muito lá essas coisas... Faltavam quinze para as oito quando partimos.



Pegamos a estrada em direção à Atafona, mais perto da praia, e em menos de dois quilômetros percorridos em ciclovia, chegamos. 








De lá outra pista muito boa, beirando a praia, por mais 8 km até Grussaí. Nesse trecho a Carmo demonstrou sentir-se mal, com náusea e início de diarreia. Achou que o café da manhã não fez bem. Felizmente na vila havia farmácia e banheiro público. Logo ela se recuperou e continuamos.











Traçamos como destino para pernoite o Farol de São Tomé ou até mesmo a Barra do Furado. Para isso teríamos que percorrer uma grande quilometragem, e talvez passar por estrada de chão novamente.

Talvez as coisas saíssem mais fáceis, se não fosse pela construção de um grande porto particular, que trabalha principalmente com carga de minério de ferro, na região do Açú. Eles tomam conta de tudo; são donos de tudo, e a estradinha que passava pelo litoral estava impedida. As informações eram desencontradas, mas seguimos a melhor opção, por asfalto, na BR 336 que vai a Campos, e no lugar denominado Cajuzeiro, retornamos na direção paralela ao litoral.

Avisaram a gente para seguir por essa estrada, de asfalto, até a entrada do Porto. Lá teríamos que continuar por estrada de chão. Fizemos isso. Passamos a entrada do Porto depois de pedalarmos mais de 40 km desde a saída de São João. Pelo mapa, mais 25 km por estradinha de chão e chegaríamos a Farol de São Tomé. Pegamos outras informações no caminho. Foi sorte encontrar alguém, pois a região é deserta depois do Porto. Tinha um pessoal trabalhando na estrada... Seguimos a orientação deles e pegamos à direita um pouco à frente, e não seguimos reto até a Barra do Açú.

Logo chegamos à vila de Água Preta. Paramos num mercadinho para hidratar e comer uma banana. Questionamos a sequencia e nos disseram para pegar o asfalto; voltava um pouco, mas era melhor e mais garantido. Seguir até perto da praia não seria conveniente; a estrada foi engolida pelo mar e teríamos que empurrar as bicicletas pela areia fofa um bom tempo.

Se fossemos à esquerda passaríamos por Mato Escuro, Bajuru, Azeitona e Quixaba; para a direita seria Papagaio, Sabonete e Cazumba. Fomos pela direita...

Que estrada maravilhosa. Passamos pelo lindo e antigo Mosteiro de São Bento, depois pela vila de Santo Amaro, Mulaco, Boa Vista, Heliporto do Farol (da Petrobrás) e finalmente chegamos ao Farol. O sobrevoo de helicópteros da Petrobrás é grande. Eles seguem e retornam de navios plataforma, produtores de petróleo em alto mar. 
 

Mosteiro de São Bento


Santo Amaro

 







Farol de São Tomé













É bom deixar registrado aqui, que passamos por um Rio de Janeiro diferente daquele que costumamos ver e ouvir falar. Ali não se fala em praias badaladas, comunidades, Pão de Açucar ou Cristo Redentor. Vimos campos e mais campos; cultivo de diversos tipos de produtos, como abacaxi, coco, cana-de-açúcar, carambola, maracujá, quiabo, mandioca, entre tantos outros. Produção de cerâmica e outros derivados de olarias, cujas chaminés apareciam majestosas no horizonte. Pastos com criação de bovinos, equinos e caprinos. Sem contar com a imagem bucólica do Mosteiro, e ruínas de estação de trem numa pequena vila. Lindo!

Almoçamos no Farol, pois ainda estava cedo para pernoitar. Vimos que dava para ir até a Barra do Furado. Por estrada asfaltada, mais 19 km e chegamos à Barra. 


Conseguimos uma pousada bacaninha, por preço honesto, com uma piscininha e tudo mais. O atendente perguntou se éramos do grupo. – Que grupo? – Um grupo de ciclistas... mas eles devem chegar somente amanhã de noite. Não soube explicar quantos e nem da onde vinham e que tipo de passeio fariam. No final, contabilizamos mais 88 km de pedaladas.













- Barra do Furado para Macaé (29 de maio)

Esse foi o dia dos contrastes. Amanheceu um dia cinzento e excepcionalmente gelado para os padrões cariocas. Tomamos café por volta das seis e meia, e antes das sete e meia já estávamos na estrada.


O vento sul estava de volta para atrapalhar nossa pedalada, e com ele logo veio a garoa, o frio e depois chuva constante com direito a alguns raios e trovoadas. O pedal não rendia, algumas retas sem fim, e queríamos fazer 90 km, pelo menos. Passamos ao lado da Lagoa Feia, mas mal conseguíamos vê-la.

Fizemos uma “escalera” para proteger a Carmo do vento, e as coisas foram melhorando; um dos fatores é que saíamos aos poucos do litoral, onde os ventos sopram menos; também porque a estrada, plana, passou a ter curvas sequentes, indo a direções que o vento não atrapalhava tanto.

Estávamos ansiosos para completar 1000 quilômetros de pedaladas, desde Porto Seguro, e essa meta seria alcançada na cidade de Quissamã, a 40 km de Barra do Furado, onde pernoitamos. Até que conseguimos render melhor, e antes das dez da manhã já entrávamos na cidade.

Paramos num posto de gasolina, e para nossa surpresa, a dona também era a proprietária da Pousada da noite anterior (Villa do Cais). Muito solícita quis saber se fomos bem atendidos na pousada, e se a estrutura nos agradou. Agradou sim. Aproveitamos para ir ao banheiro; ela ainda nos ofereceu água mineral, e abastecemos nossas caramanholas.

Por coincidência a chuva deu uma trégua enquanto estávamos na cidade. Procuramos uma panificadora para tomar um café, e por outra coincidência, fomos recebidos pelo Bruno, também ciclista. O estabelecimento normalmente serve de ponto de encontro dos ciclistas de lá.


Deixamos a panificadora e poucos metros à frente, na praça da igreja matriz, encontramos com o Leandro e outro rapaz, ciclistas, amigos do Bruno. Batemos um papo e tiramos algumas fotos ali na praça mesmo. Mais tarde fomos surpreendidos pela mensagem no facebook da publicação da nossa foto no jornal eletrônico Folha de Quissamã, com a menção de nossa passagem por lá. Muito carinho e generosidade do povo local.
Quissamã - 1000 km percorridos


Igreja Matriz de N S do Desterro - Quissamã/RJ

Bem, era hora de continuar, e fomos para a estrada. A chuva também foi... Chuva mesmo, daquelas. Por incrível que pareça não prejudicou nosso rendimento. O vento diminuiu ou mudou de lado. Como falei dos contrastes, foi a partir dali que o relevo da região mudou, de completamente plano, com vastos campos, para terrenos com alguns pequenos morros, mais acidentado, com subidas e descidas suaves; curvas e mais curvas.
 






Começamos a vislumbrar lá na frente as nuvens mais altas e mais claras; talvez um prenúncio que as coisas poderiam ficar melhores. Quando chegamos a Carapebus, às 12:17, com 68 km pedalados, resolvemos parar e almoçar. A chuva também parou para almoçar...


E a chuva resolveu ficar por ali mesmo, felizmente. O céu começou a se abrir e o sol, no começo timidamente, e depois em sua plenitude, deixou tudo mais claro; e mais seco também... Deslizamos tranquilamente até nosso objetivo do dia: Macaé. Cidade grande, onde a Petrobrás aparece forte. Leva-se um bom tempo e quilômetros para se chegar ao centro. Era cedo ainda, talvez 15:30. 






Aproveitamos o resto do dia para caminhar e conhecer alguns pontos. Ficamos surpresos com a beleza das praias e a organização da cidade. Jantamos e fomos descansar. Afinal, isso era merecido, não? 96 km de pedaladas e 7 km de caminhada...



- De Macaé a Armação de Búzios (30 de maio)

Como negociamos a pousada sem café, acordamos cedo, nos arrumamos e fomos procurar por uma padaria, já com as bicicletas. Percorremos a bela orla de Macaé, sem sucesso; resolvemos pegar a estrada (Norte/Sul).

 




Muitos quilômetros à frente, encontramos um posto de gasolina com lanchonete. Satisfeitos, recompostos e energizados, continuamos.


A saída de Macaé foi longa e travada. 40 km depois, chegamos a Rio das Ostras, outra bela praia do litoral carioca. O problema foi a péssima condição da estrada, logo depois da divisa de municípios. Acostamento impraticável, com muitos buracos e cheio de poças de água perigosas, além do movimento de carros, que faziam ultrapassagens arriscadas, em pontos proibidos, pondo em risco a vida deles e as nossas. Acredito que foi o pior trecho de pedaladas que pegamos de toda a viagem.

Visitamos a orla de Rio das Ostras e voltamos para a estrada, que às vezes se confundia com uma avenida, com muito movimento, ruas marginais com muito comércio. 


























Nisso chegamos à Barra de São João. Interessante, pois passamos por São João da Barra e agora por Barra de São João...




Igreja de São João



Vimos uma bicicletaria na marginal direita e fomos até lá, pois os freios v-break da bicicleta da Carmo estavam no “ferro”. Por R$ 10,00 e na hora, o gentil proprietário trocou os dois pares (Una Bike). Sem freio não dá...
Pouco antes uma Van de transporte de passageiros quase atropelou a Carmo, e como ela não podia frear direito teve que virar à direita junto com a Van para evitar o pior.

Perguntei, por curiosidade, embora estivesse com o mapa na mão, a um senhor da loja ao lado da bicicletaria, quantos quilômetros faltavam para entrar para Búzios. O senhor olhou o mapa e não sabia lê-lo, porém seu neto pequeno, que estava junto, logo identificou o lugar que estávamos. O vovô olhou, olhou, e disse: Devem faltar uns 10 km; não, 5 km. Hum! Quer saber? Eu nunca fui para aqueles lados. Não sei (rs).

Na verdade, cerca de 8 km depois, entramos à esquerda para Búzios. A estrada anterior pelo menos tinha acostamento; agora era hora de enfrentar o perrengue de estrada movimentada, sentido duplo, sem acostamento. Colocamos a Carmo na frente, e eu e o Neimar ficamos protegendo, olhando sempre para trás e sinalizando. Mas o perigo não vinha de trás, mas sim da frente, pois os carros faziam ultrapassagens mesmo vendo a gente no sentido contrário, e o faziam na faixa contínua...

Felizmente chegamos bem. Paramos na praia Rasa para tirar umas fotos, hidratar e ir ao banheiro e rumamos até o centro e às praias principais de Armação de Búzios. 






















Tudo muito lindo; nenhum de nós conhecia o lugar, e todos ficamos maravilhados, não só com as belezas naturais, mas também com a vila, encantadora e charmosa, com muito comércio chique, bares, restaurantes e pousadas de alto nível. Ficamos por ali tirando muitas fotos e apreciando a natureza.






























 




O problema que a tarde ia caindo e não tínhamos muita chance de encontrar pousada no caminho, sem pegar o escurecer. Como já havíamos rodado 80 km, decidimos por pernoitar por lá mesmo. Tudo é muito caro por lá, mas quando estávamos chegando vimos uma pousada em promoção. Voltamos até ela, e conseguimos abrigo. Ficamos até perto do burburinho com preços ótimos (acredito que o segundo mais barato de toda a trip).

Búzios à noite é ainda mais charmosa. As ruas, de calçamento de pedras, são fechadas para o trânsito, e a circulação de pedestres é intensa (muitos estrangeiros). Todos muito bem arrumados, chiques até (menos nós claro). Muitas lojas finas e gastronomia ampla e variada. Show! Comemos alguma coisa, tomei meu açaí e fomos descansar.


- De Armação de Búzios a Saquarema (31 de maio)


A ansiedade vai aumentando, porque a cidade do Rio de Janeiro está cada vez mais próxima. A pretensão era de fazer uma boa quilometragem no dia, sem ter certeza de onde parar para pernoitar. 

Fizemos nosso café da manhã no quarto mesmo, já que a pousada não tinha. Pouco depois das sete e meia partimos. Um nevoeiro tomava conta de tudo; pouco se via à nossa frente. Fazia um pouco de frio, até. 

 



O primeiro e principal objetivo era conhecer Cabo Frio. Logo chegamos à rodovia RJ 102, passamos por Tucun, Caravelas e Peró. Cruzamos o lugar chamado Jacaré, e adentramos na linda praia de Cabo Frio.

 











Quando pequeno estive com a família lá, mas não lembrava praticamente de nada, a não ser o fato de ter estado lá... A areia é branca e fofa e a água do mar, que maravilha; verde, límpida, transparente, calma e tantos outros bons adjetivos. A Carmo também esteve com a família e não lembrava.

Vimos que era possível pedalar pela areia da praia, e como a vontade era grande, lá fomos nós. Pedalamos por alguns minutos; nesse período a Carmo foi até as dunas fazer pipi, e eu cruzei com um senhor que pediu para eu parar e queria saber tudo sobre nossa aventura, pois também era ciclista e ajudou na elaboração de projetos de ciclo-mobilidade na cidade.






Voltamos para a estrada. Passamos pela entrada para a famosa praia de Arraial do Cabo, mas desistimos da ideia de entrar, porque seriam alguns quilômetros para ir e o mesmo tanto para voltar. Preferimos dar sequencia à jornada. Fizemos um breve lanche à beira da estrada, com as coisas que carregávamos. Chegou a vez de seguir pela RJ 140. O que tinha de bonita a paisagem, tinha de ruim a estrada, principalmente porque não tinha acostamento.


Começamos a andar ao lado da Restinga de Massambaba, com a bela, mas poluída Lagoa de Araruama, do lado direito, e o mar, do lado esquerdo. Na vila de Figueira quase que os dois se encontram, ficando a poucos metros um do outro. Ali paramos para ir ao banheiro. Um morador local, o João, ofereceu sua residência. Conversava com ele sobre a região, e ele falou que este domingo estava previsto um “abraço na lagoa”, mas que dava para ver que a adesão era pequena, talvez por falta de divulgação. O pequeno protesto era para sensibilizar as autoridades a preservarem melhor o meio ambiente.

A região é produtora de sal, sendo possível ver a produção à beira da estrada, a perder de vista. Interessante uma placa que dizia: vende-se sal; não pegue (rs).

 








Mais 15 km e chegaríamos a outra vila, Praia Seca, e pelo horário, era melhor almoçar por ali mesmo. Fomos ao Restaurante da Dona Antonia, local indicado pelo João. Uma delícia!  Passamos para a RJ 132, cruzamos o lugar chamado Bacaxá, e voltamos para a praia. 









Chegamos a Saquarema e lá escolhemos ficar para o pernoite. 


 





 






Rodamos 92 km até lá, mas demos mais umas voltinhas, perfazendo um total de 96 km no dia. Um dos locais visitados foi a graciosa igreja de Nossa Senhora de Nazareth, que fica no alto de um pequeno morro, junto à barra do rio. 









Saquarema é famosa por suas ondas, onde os surfistas fazem a festa, inclusive com campeonatos de nível internacional.


No hotel em que ficamos, de frente para o mar, fomos muito bem recebidos pelos funcionários e o proprietário, Sr. Carlos. No local também funciona um restaurante e petiscaria, e foi ali que conheci outro senhor, de 70 anos, o Fontoura. Quando chegamos percebi sua presença; estava almoçando, pouco depois das três da tarde. Tomei banho, me arrumei e desci com minhas coisas para escrever, e ele se mantinha por lá, tomando sua cervejinha, sossegado, lendo ou escrevendo.

Uma conversa se iniciou e o papo foi rolando. Pedi uma caipirinha e ele a “saideira”. O Neimar e a Carmo ficaram na cerveja. O papo estava muito bom; falamos da violência, de música, de lugares, da nossa aventura. Compositor e cantor, escutei sua música, composta e inspirada naquele mesmo lugar junto à praia de Saquarema. Falei da minha música e mostrei uma gravação no meu celular. Nascido no Rio, falou que era torcedor da Portela; cantei um trecho de um samba-enredo, aquele: “Lá vem Portela, com Pixinguinha em seu altar...”, e ele me acompanhou e ficou feliz por um sulista conhecer a letra de um samba-enredo.

Disse a ele que esse era um dos principais motivos da nossa viagem: conhecer pessoas incríveis como ele. Uma emoção grande me atingiu; estava muito feliz por conversar com ele; fez parecer que éramos amigos há tempos. Isto também não tem preço. O dia foi muito bacana, e terminou com o Neimar e a Carmo dividindo uma pizza, e eu uma lasanha com queijo e camarão (maravilhosa!). 

Depois, é claro, não podia faltar meu alimento que passou a ser o predileto: açaí com granola (rs).



- De Saquarema a Itaipu/Niterói (1º. de junho)

Amanheceu nublado e com ar frio. Ficamos preparados para chuva, usando um corta vento. No começo já vimos que iria ficar difícil a pedalada do dia. E ficou. A chuva começou fina, mas foi engrossando aos poucos. Puxa! Pedalar tanto para chegar ao Rio com chuva?









Por saber da dificuldade de enfrentar uma cidade grande no final da tarde, combinei com meus “fieis escudeiros” Carmo e Neimar, da gente chegar o mais perto possível do Rio de Janeiro, mas não entrar na cidade; de preferência ficar em Niterói, do outro lado da baía de Guanabara. Com isso o Rio de Janeiro, objetivo final, ficaria para a terça-feira, dia 2 de junho.

Pedalamos com dificuldade por 10 km até a vila de Jaconé. Dali para frente tínhamos três opções: primeira, seria continuar por estrada de chão, beirando a praia, até encontrar outra estrada, asfaltada (estrada não era boa, mas era a mais curta); segunda, seria entrar à direita na vila, percorrer cerca de 4 km até uma nova estrada, asfaltada, que segue atrás do lago de Jaconé, mas no sentido que iríamos (estrada melhor, mas com 6 km a mais), e a terceira, seguir até o interior na cidade de Sampaio Correia, 9 km afastada da praia. Lá deveríamos pegar a RJ 106 e seguir ao sul, passando por Manoel Ribeiro e Maricá (estrada melhor, mais estruturada, porém longe do litoral, com intenso movimento de automóveis, ônibus e caminhões, acostamento de condições duvidosas...).

Ficamos com a primeira opção, e pagamos para ver. No final foi sossegado; nenhum movimento, e apesar da chuva, a estrada estava com areia batida, firme, tranquila para pedalar. Pedalar devagar, porque o vento e a chuva seriam os mesmos em quaisquer das estradas.

Quando encontramos o asfalto, como previsto, vislumbramos uma baita de uma montanha na nossa frente, e já pensávamos como seria transpô-la. Enquanto a Carmo parava para fazer um pipi, pedi para o Neimar, brincando, para ele ir à frente e dar uma “aplainada no morro”. Ele deu risada e seguiu. Rimos muito mais depois, porque era apenas ilusão de ótica; não que a montanha não estivesse ali, mas ela estava aparecendo sobreposta à outra; tinha um vale entre elas, e a subida era bem pequena. O Neimar, rindo, disse: - Tá bom pra você assim? Ufa!

 





Chegamos, então, à vila de Ponta Negra. 



Aproveitamos para ir até um mercado comprar alguma coisa para bebermos e comermos. Na verdade o Neimar foi ao mercado e eu e a Carmo à Farmácia. Precisava comprar algum remédio para o meu ouvido direito; pelo sintoma desde o dia anterior, se tratava de uma otite. Não que seja especialista nisso, pois não sou médico, mas tive a mesma dor um tempo atrás, fui ao hospital e era otite. Mesmo sendo errado, mas num lugar de poucos recursos hospitalares, resolvi tentar comprar um antibiótico em gotas, de uso externo, sem receita, e a farmácia vendeu...

Seguimos, passando pelas praias de Cordeirinhos e Guaratiba, pela lagoa da Barra, até chegarmos ao local chamado Barra. Ali se apresentou mais uma necessidade de escolha. Poderíamos seguir à direita, novamente até a RJ 106, cruzando a extensão da Restinga de Maricá por dentro, pelo interior, ou continuar à beira da praia, por estrada de chão e areia, deserta, mas que abreviaria o trajeto em vários quilômetros.
 





Novamente escolhemos seguir pelo litoral. A escolha foi boa até certo momento, quando cruzamos a extensão da restinga. Até ali nenhum movimento; qualquer pessoa, moto ou carro passou por ali. Estranhamos mas não tivemos medo. 


Restinga de Maricá



Quando chegamos ao final da restinga, novamente teríamos que tomar uma decisão, pois à esquerda continuaríamos por mais 11 km no ermo, e à direita a tal da RJ 106, que já estava bem próxima do litoral, a cerca de 4 km.

O problema que bem nessa interseção, à esquerda, vimos um carro abandonado, incendiado, provavelmente resultado de um crime. Não era um bom sinal. Sem saber o que encontraríamos nesses 11 km, resolvemos seguir à frente, e depois virar à direita para pegar a RJ 106. De onde estávamos já víamos as antenas e sinal de “civilização”. Seguimos por ali, então. Novamente demos risada (para não chorar...), pois andamos menos de um quilômetro e lá estavam mais dois carros incendiados... Apertamos as pedaladas e saímos dali.

Logo chegamos a uma avenida, no meio do nada, em pista dupla, com ciclovia e tudo (aparentemente não ligava nada a lugar algum). Claro que levava à RJ 106. 



Mais alguns quilômetros e paramos na cidade de Inoã. Almoçamos na região. 


Dali seguia outra estrada para voltar ao litoral, passando por Itaipuaçú e Itaipu. Logo após o almoço seguimos em frente, já sabendo que não deveríamos passar de Itaipu.

 

Um mico nos fios de luz...



Então continuamos. Passamos por Itaipuaçú e depois Ponta de Itacoatiara. Desde Inoã que ouvíamos falar numa serra; serra dali, serra daqui... e lá estava ela, imponente, na nossa frente. Desta vez não tinha sobreposição, nem vale, nem nada; tínhamos que enfrentar. Uns garotos que estavam na região indicaram para nós o caminho, e disseram que seria difícil subir a montanha pedalando (falou olhando atentamente para nossas bicicletas carregadas com alforjes). Disse para nós irmos até a praia e ver o morro de pedra dali, pois tinha a aparência de um elefante. E tinha mesmo.


Pedra do "Elefante" - Parece mesmo...



Hora de enfrentar. Se fosse uma competição de ciclismo, tipo Tour de France, diria que a montanha tinha 18% de inclinação (essa medida se dá pela distância percorrida em relação a altura que se alcança). 
Lá vem subida...


Quando cheguei à base apeei e segui empurrando, sem vergonha alguma. O Neimar pedalou com a “vovozinha” por um tempo, mas “arregou”, é claro. A Carmo também tentou um pouco, mas desistiu e saiu empurrando devagarzinho.




Tudo recompensado com a vista maravilhosa lá de cima. Primeiro num mirante, onde se via as praias do norte, da onde viemos, e, segundo, quando começou a descida, do outro lado, a vista maravilhosa, mesmo que de longe, do imponente Corcovado e o Pão de Açúcar, sinal claro de que estávamos muito perto de nossa conquista.




 

Após a descida alucinante, onde levamos os freios V-Break ao limite, esquentando as rodas, paramos num posto de gasolina pedir algumas informações, quando o próprio frentista me falou, apontando para a roda da minha bicicleta: - Seu pneu está furado. Verdade. Por sorte só arriou no posto, pois se fosse durante a descida poderia se tornar perigoso (pneu da frente). Troquei a câmara rapidamente. A furada na verdade não furou; simplesmente um remendo se deslocou e o furo antigo apareceu (rs). O mesmo frentista ficou surpreso de termos feito a estrada da restinga de Maricá, pois sempre ouviu falar que era perigosa.

O dia, que não foi dos melhores da expedição, reservou um final muito feliz. 73 Km depois de partirmos de Saquarema, tivemos a felicidade de escolher a praia de Itaipu para passar a noite. 


Felicidade ao ver Copacabana, o Pão de Açúcar e o Corcovado


Só alegria, não é Neimar?

Chegamos à pequena praia, com uma vila de pescadores, e perguntando num mercado para uma moça, ela nos informou que havia uma pequena pousada na vila, no morro, da “Sol” (Solange). Saiu do estabelecimento com o celular na mão, já ligando para ela, e pedindo para a gente acompanhá-la pelas vielas estreitas. Pelo telefone disse que estávamos lá e que era para aparecer na varanda. 


Quem apareceu foi o César, marido da Sol. Larguei minha bicicleta embaixo, com o Neimar e a Carmo, e subi para negociar. A Luana (esse era o nome da moça do mercado) ficou com eles. As escadas eram bem íngremes e estreitas, e subi pensando em como levar as bicicletas até lá em cima. Quando cheguei lá em cima e vi a paisagem à minha frente, com o mar da entrada da baía de Guanabara, o Pão de Açúcar ao fundo, Copacabana ao lado, mesmo de longe e com uma neblina que insistia em permanecer na região, não resisti, era lá mesmo que ficaríamos. Já estava até esquecendo o preço; por sorte estava nos padrões da nossa viagem.

O Neimar foi ao mercado comprar alguma coisa para comermos, porque fechava às cinco horas, e na região não havia qualquer lugar para comermos. A Luana, que disse depois que era nora do Cesar e da Sol, comentou que poderíamos utilizar os espaços da pousada para fazermos nossa própria refeição. O Cesar se colocou à disposição para nos levar até a vila mais próxima, onde tinha mais estrutura, mas preferimos ficar por ali mesmo. Foi sensacional; ficar na varanda observando as luzes de Copacabana e do Pão de Açúcar. As luzes do Corcovado raramente apareciam... Não dava vontade de ir dormir.

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