domingo, 7 de outubro de 2012

BUDAPESTE

BUDAPESTE

Foi tranquila a saída da cidade de Bratislava. Tínhamos dois dias para chegar a Budapeste, na Hungria. Atravessamos a ponte e seguimos a ciclovia pela margem direita do rio. A quarta-feira estava ensolarada, porém ainda frio. Quase nenhum ciclista-viajante no caminho. O vento soprava a favor, finalmente, e tudo correu tranquilamente, até percebermos que provavelmente não estávamos na ciclovia “oficial” do Danúbio, a Donalweg 6, mas uma outra. Acredito que em um trecho, depois de pedalarmos cerca de 30 km, deveríamos seguir à direita e passar por pequenas cidades, porém viramos à esquerda, meio que no instinto, porque um cidadão pedalava à nossa frente, parecendo ser um “local”, e estaria seguindo a rota correta.
A troca não foi frustrante, porque pegamos um canal, de longas retas, e com o vento a favor, não era difícil atingir 30 km/h. Nada de ciclistas, o que de certa forma era estranho. Pouco tempo depois vimos aquele ciclista voltando em nossa direção, o que também parecia estranho. Mas tudo deu certo até chegarmos ao final do “paredão”, já na barragem da usina hidrelétrica, que é um empreendimento binacional, unindo forças da República da Eslováquia e da Hungria. Lá passamos por dois funcionários, e nenhum deles demonstrou entender o inglês, e também não demonstraram qualquer interesse em nos indicar o caminho certo (que depois descobrimos que estava na “cara” deles). Chegamos a pegar uma estrada errada, mas percebemos o erro em seguida, retornando à usina. Vimos uma senhora pedalando e paramos para perguntar, quando então descobrimos que deveríamos atravessar para o outro lado do canal.
Enquanto iniciávamos a nova sequencia, uma moça, de bicicleta, vindo do mesmo lado que nós vínhamos, passou direto e seguiu o mesmo caminho indicado para nós. Ela estava pedalando sozinha e aparentava ter 30 anos de idade. Metros depois, passando por sobre a represa, havia uma lanchonete, muito providencial, porque até ali não teve absolutamente nada, nenhuma vilinha. Ao chegar, percebemos que a moça também havia parado para lanchar, e visualizar o bonito local às margens do Danúbio.
Ela saiu antes, e nós cerca de dez minutos depois. Quando pegamos um retão, às margens do canal, a vimos parada. Eu estava na frente e cumprimentei, mas ela não respondeu. A Carmo me falou em seguida, que tentou perguntar para ela se estávamos no caminho certo para Komarno, onde previmos dormir, mas ela deu de ombros.
Os momentos seguintes foram apenas de pedaladas e pedaladas. Retões que não acabavam mais, e a paisagem não era legal, pois não estávamos à beira do rio. Novamente nenhuma vila. A jovem continuou seu caminho pouco depois de passarmos e sempre que eu olhava, ela mantinha uma certa distância, dando a entender que ela “precisava” de companhia, pois a região era completamente deserta. Num certo trecho, aí sim numa pequena vila, deserta, paramos e vimos um mapa. Tentamos verificar o caminho certo, porque dali para frente o piso era de areia batida, com pedrinhas (complicado para pedalar com pneu 1.5, e carregado). Vimos que o certo era ir por ali mesmo. Antes de partirmos a moça chegou, parou, e também olhou o mapa, o que deu a entender que também estava na ciclovia errada. Pegou seu celular e ligou para alguém. Lá de longe, olhando para trás, vi que ela nos seguiu, sempre mantendo uma distância. Perguntei a um senhor, a única alma viva da região, e ele confirmou que o caminho para Komarno, de bicicleta era aquele, porém o piso era sem asfalto.
Mais para frente e outra dúvida apareceu. Parecia que a trilha acabava uns 500 metros à frente. Pedi para a Carmo esperar, porque tinha uma estradinha à esquerda, e fui até mais à frente verificar. Quando cheguei e vi que provavelmente não dava para seguir, olhei na direção da Carmo e vi a moça novamente. Ela chegou, ligou o celular, e, num piscar de olhos, se mandou pela rua de terra à esquerda. Acho que não precisava mais da nossa “companhia”... Voltei rapidamente até a Carmo e falei: siga aquela moça, ela deve ter encontrado o caminho. Não a vimos mais. Chegamos até uma vila, no asfalto, e perguntando às pessoas, seguimos por uma estrada secundária até uma principal, que chegaria a Komarno.
Alguns quilômetros à frente, seguindo pelo acostamento da estrada, vi um ciclista à nossa frente. Era a tal moça, provavelmente cansada, pedalava sofregamente. A cidade não estava tão distante, e deixei a Carmo um pouco para trás e dei um “gás” para chegar perto dela. Ultrapassei para fazer questão que ela me visse, mas acho que eu não estava ali, porque ela sequer olhou. Não é comum, com certeza, atitudes como esta entre ciclistas viajantes.
Na cidade procuramos imediatamente uma pensão, de custo baixo e que tinha restaurante. Era cedo ainda, e depois de 119 km pedalados, merecíamos um belo almoço/janta. Ainda saímos dar uma voltinha pela pequena cidade, que faz divisa com a coirmã Komaron, do lado Húngaro, mas não havia muito o que ver. Fomos a um mercado e compramos mantimentos para o café da manhã (não incluso) e para lancharmos no caminho do dia seguinte. Deu para perceber, ao chegar à ponte, que haviam alguns postos de câmbio de moedas, e muitos locais, antes de atravessar a ponte, passavam trocar seus euros pela moeda da Hungria, o Florín Húngaro. Nós deveríamos fazer o mesmo no dia seguinte.
Pela manhã da quinta-feira, dia 4 de outubro, chegamos à ponte e trocamos 100 euros por floríns húngaros. A relação era de 1 para 279, ou seja, recebemos 27.900 floríns. Olha que fazia tempo que não via uma cédula de 10.000, e moedas e 200.
O tempo estava bom, com pouco vento, mas o caminho era longo. A previsão, que era de 100 km, acabou virando 140, e mais de 1000 no total. Era um tal de zig zag, zig zag, e Budapeste não chegava nunca. Passamos pelas cidades húngaras de Komaron, Almazfuzito, Neszmely, Zutto, Niergesujfalu, Tat e Esztergon, onde almoçamos. É uma cidade maiorzinha, e que tem um belo castelo. Szob, Domus, Nagimaros, Veroci, Vac, God, Dunakeszi e Ujpest foram outras até a chegada em Budapeste. O caminho seguia ora por um lado, ora por outro do rio, às vezes compartilhava as estradas. No último trecho, entre Esztergon e Budapeste, vimos um grande número de ciclistas acompanhados de guias, e cheguei a filmar alguns, que sorridentes nos saudaram.
Todo o “sofrimento” de um dia puxado de pedalada, foi gratificado com a chegada a Budapeste. Que cidade linda; um show de belos casarões, palácios, igrejas, seja do lado de Buda, seja do lado de Pest. Mesmo no lusco-fusco da hora em que chegamos, deu para ver muita beleza. Localizamos facilmente o Hostel que planejamos, e fomos sair à noite para jantar, conhecendo um pouco mais da bela cidade.
Tiramos o dia seguinte inteiro só para passear. Novamente como simples turistas, pegamos duas linhas de ônibus e circulamos por toda a cidade, sempre atento às explicações do áudio-guia, em português. Ainda passeamos de barco por uma hora no rio Danúbio, e a visão da cidade esplendida do ponto de vista do barco. A história de Budapeste também é muito rica. Assim com Bratislava, os Celtas lá estiveram centenas de anos antes de Cristo. Os húngaros chegaram somente por volta do século IX, X dC. Cerca de 80% da cidade foi destruída na segunda grande guerra, e parece impossível imaginar vendo a cidade como está hoje. Com certeza vou privá-los da cansativa narrativa de toda a história, que muitos já conhecem. Fica o registro de que é mais um grande centro mundial, onde milhões de visitantes de todo o mundo comparecem para conhecer. Gostaria de ir a uma de suas termas, mais não foi desta vez.
Em outra postagem envio fotos de mais esses três dias de passeio.
Abraços
O Parlamento, na visão de um barco sobre o rio Danúbio.

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