segunda-feira, 15 de outubro de 2012

NOVO MESTO

NOVO MESTO

No final da tarde de quarta-feira, em Zagreb, no Albergue, com a ajuda do atendente, um rapaz muito atencioso, traçamos o melhor caminho para chegar a Ljubljana, na Eslovênia, próximo país a “descobrirmos”, e teríamos dois dias para realizar, pois a expectativa era de 150 km.
Amanheceu frio novamente, e bem agasalhados, com as roupas de sempre – as fotos estão sempre mostrando isso -, seguimos até a fronteira. Descemos a rua do Jardim Botânico até chegar à avenida Slavonska, que depois se chama Ljubjanska. Foram quilômetros de avenida até chegar ao rio Sava, o mesmo que passa por Zagreb. Lá dobramos à direita pela rua Priobalna até a Samoborska, quando viramos à esquerda e atravessamos a ponte sobre o rio.  Já estávamos na estrada 309 chegando a Samobor, para depois entrar em Bregana, na fronteira. Até ali foram 30 km bem tranquilos, sem qualquer problema. Terreno plano, com pequenos aclives, e alguns trechos com ciclovia ou ciclo-faixa. As bicicletas compartilham a estrada com os carros, sem problemas.
As coisas começaram a ficar tensas quando chegamos à fronteira. Já na guarita do lado croata, o oficial fez uma cara estranha e disse que teríamos problemas, pois não seria possível atravessar para a Eslovênia por ali, pois como brasileiros, seríamos impedidos. Depois, com sinais de preocupação, disse para irmos até o posto esloveno, mas que ele achava que nós deveríamos voltar alguns quilômetros e se dirigir a outra aduana, mas em todos os casos pediu para irmos em frente.
No posto esloveno ratificaram o que os croatas falaram: - vocês são brasileiros, e aqui, por essa estrada, só passam membros da comunidade europeia, croatas, eslovenos (e mais algum outro que não lembro). Disse o oficial, que nós deveríamos atravessar pelo outro “border” (fronteira), que fica na auto-pista A-2. Assim, deveríamos voltar cerca de 5 km por onde viemos e pegar a autoestrada.
Que legal! Qualquer um sabe que não são permitidas bicicletas nas auto-pistas, e nós só podíamos entrar na Eslovênia por lá. Entendemos o ar de preocupação do oficial croata. Tensão no ar, e lá fomos nós para a “estradona”. Logo ao entrar na estrada já sentimos um sufoco, pois circulam muitos carros e caminhões, em alta velocidade; o acostamento é perfeito, mas em todo momento a gente pensava na irregularidade, e na possibilidade de sermos abordados a qualquer momento pela polícia. Cerca de 3 km muito longos e chegamos primeiro ao pedágio. Lá havia fila de caminhões. O motivo não era o pedágio, mas sim a aduana à frente, e eram duas. Ainda existe muita burocracia para atravessar de um país para outro, coisa que não acontece com outros membros da Comunidade Europeia. Com certeza no ano que vem, com a Croácia também como membro, as coisas sejam diferentes.
No lado croata os oficiais, rudemente, apenas pediram nossos passaportes e mandaram seguir, nem se importando com as bicicletas; não vimos policiais. Já no lado esloveno, muitos policiais, e muita fila, tanto de carros como de caminhões. Encostamos as bicicletas e a Carmo foi até um dos guichês, mas o oficial não atendeu, pois estava preocupado com os carros. A Carmo voltou e pegamos as bicicletas para encostar mais à frente, pois vimos passageiros de um ônibus entrando no escritório da aduana, e pensamos em fazer a mesma coisa. Neste momento um policial nos abordou, e com cara de surpresa ao ver que éramos ciclistas (no lugar errado...), disse qualquer coisa como: onde vocês pensam que vão?
Explicamos que os colegas da outra aduana que pediram para irmos até ali, e ele procurou um superior. Percebemos entre eles um certo ar de desagrado com seus colegas. Conversaram entre eles (já estavam com os nossos passaportes), e depois o primeiro policial voltou para falar conosco, muito gentil, explicando que não poderíamos circular pela autoestrada; o que nós imediatamente concordamos; dissemos que sabíamos disso e por isso estávamos na estrada secundária seguindo para Ljubyana. Ele devolveu nossos passaportes, carimbados, e explicou como deixar aquela estrada, demonstrando preocupação que entendêssemos, porque se pegássemos, num determinado local, à direita, novamente voltaríamos para lá. Agradecemos e seguimos direitinho sua orientação, voltando para uma estrada secundária, para alívio geral.
Passado esse pequeno susto, seguimos adiante em nossos planos para chegar a Novo Mesto, onde deveríamos pernoitar. De qualquer forma ficaram as perguntas: será que só nós dois (estrangeiros) fizemos esse trajeto de bicicleta até hoje? Será que na primeira fronteira eles não quiseram assumir uma responsabilidade, em função de alguma lei? Para essas coisas não existe um manual, então fica a lição.
Por falar em bicicletas, não apareceu mais qualquer ciclo-turista como nós, apenas ciclistas de estrada, um ou outro, fazendo seu treinamento ou exercício. Desde que saímos da região do rio Danúbio isso aconteceu. Fica claro que as pessoas gostam mesmo é das ciclovias. Realmente são melhores, mais seguras, e sempre tem infraestrutura de apoio, como restaurantes e cômodos para pernoitar. Como nós vivemos no Brasil, infelizmente nossa realidade é outra...
Seguimos pela estrada 675, até Novo Mesto, na Eslovenia. Atravessamos pequenas cidades como Obrezje, Dvorce e Catez ob Savi, quando passamos para a 419, atravessando Cerklje ob Krki, Kostanjevica na Krki, Sentjemej, Gorenja Brezovica e, finalmente, depois de 91 km desde Zagreb, chegamos a Novo Mesto. É preciso dizer que a paisagem deste caminho foi maravilhosa. Subimos e descemos montanhas, tá certo, mas compensou o lindo visual, com muita floresta, criação de cavalos, e até pôneis, tradição desse país. Muitas das casas com enfeites de abóboras (outra tradição), de diversos tamanhos e cores diferentes na entrada, e todas elas tinham uma espécie de silo, para guardar feno, milho da colheita e, principalmente, lenha, que certamente vai aquecê-los neste inverno que se aproxima.  Mais um dia e estaremos em Ljubyana
Pedalando por estrada secundária, ao lado da auto-pista


Placa de sinalização na Croácia: "Senhores motoristas, tem bicicleta na estrada, cuidado!!!", hehe

Bregana, na divisa da Croácia com Eslovênia: a tensão estava para começar...

Agora na Eslovênia

Estrada linda que passamos

Ídem...

Novo Mesto, na Eslovênia




Ciclovia perfeita em Novo Mesto


2 comentários:

  1. Tensão pós tensão!!! No entanto muitas pitadas de sorte!!! A vista é maravilhosa! Se cuidem! Abraços

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  2. Pois é Paulo, nós temos esses pequenos momentos de tensão, mas no geral tá tudo dando muito certo, em todos os sentidos. Abraços

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