quarta-feira, 2 de outubro de 2024

OS POVOS MISSIONEIROS - Cicloturismo Brasil - Argentina - Paraguai


OS POVOS MISSIONEIROS
BRASIL – ARGENTINA - PARAGUAI
MEMBROS DO GRUPO:
Sofia, Juliano, Manu, Neimar, Fábio, Wendell, Maria Do Carmo, Fernanda, Henri, Carlos Augusto e eu, Sergio.

Chamei esses amigos, para o desafio de explorar um mundo diferente nos países vizinhos e no Rio Grande do Sul, e conhecer melhor, e de perto, a história da saga dos povos indígenas missioneiros. 

Vou repetir aqui, o texto que escrevi em outra postagem do blog, intitulada "ROTA DAS MISSÕES", que faz um breve resumo da história dos povos indígenas missioneiros. Acredito ser importante isso, antes de partir para a história do cicloturismo que fizemos.

Quando o índio guarani Sepé Tiaraju bradou aos seus incautos inimigos, portugueses e espanhóis, “ESTA TERRA TEM DONO”, durante a “Guerra Guaranítica”, parece que estava selado ali o fim das reduções jesuíticas na região dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul.

E foi o que aconteceu. No início do século XIX, pouco sobrou de índios que viviam nas reduções.

Acredito que é a primeira vez que vou fazer uma apresentação histórica, antes mesmo de começar a relatar o que foram os passeios que realizei pela região; e olha que foram exatamente sete. Apenas coincidência...

A história das reduções jesuíticas deve ser dividida em duas partes: 

Primeira, a partir de 1606, que perdurou até 1637, quando os bandeirantes paulistas expulsaram todos os índios reduzidos. Época em que aconteceu o “êxodo da Província de Guayrá”, quando cerca de doze mil índios, comandados por jesuítas, desceu o rio Paraná, sendo que dois terços deles desapareceram durante a fuga, seja por afogamento, doenças, fome, ou outra causa qualquer. Depois os índios foram armados pelo governo espanhol, e passaram a defender seu território. Na Batalha de M’bororé, em 1641, os bandeirantes são derrotados. Talvez pelas derrotas seguidas, e também por terem os bandeirantes corrido atrás de outro interesse, o ouro, os índios passaram por um período de paz.

Segunda, a partir de 1680, com a fundação da Colônia de Sacramento e, logo em seguida, a primeira redução, das sete, a de São Borja, à beira do rio Uruguai. Em 1687 veio a de São Nicolau, São Miguel e São Luiz Gonzaga. Em 1690, São Lourenço Mártir. Em 1697, São João Batista, que originou-se da desmembração do povo de São Miguel. Finalmente, em 1706, Santo Ângelo, que em 1707 deslocou-se para outro lugar próximo, que tornou definitivo.

Definido, aí, os Sete Povos das Missões. Somando-se aos povos instalados na Argentina e no Paraguai, eles chegavam a trinta. Em 1732, os sete povos já contavam com quase quarenta mil pessoas.

Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madrid, entre Espanha e Portugal, onde houve a permuta entre a Colônia de Sacramento com os Sete Povos das Missões, culminou com a expulsão dos índios missioneiros da margem esquerda do rio Uruguai, onde estavam, que deveriam abandonar suas terras e casas.

Foi nessa época que aparece a liderança de Sepé Tiaraju, que era alferes (um militar) do povo de São Miguel. Ele tentou evitar a demarcação das terras, lutando com bravura contra os portugueses e espanhóis. Acabou morto em 07/02/1756, na Batalha de Caiboaté. Na batalha morreram 1500 índios. Só para efeito de comparação, morreram apenas um soldado português e outros três espanhóis. Tamanha foi a desproporção da guerra.

Pior que em 1761 revogaram o Tratado de Madrid; tanto sofrimento e morte à toa. Mas em 1767 foi decretada a expulsão dos jesuítas dos domínios espanhóis. Começava então, definitivamente, a decadência desses povos.

Muita luta ainda foi travada na sequencia; muitos desbravadores tentaram explorar as terras. Chegavam imigrantes e se assentavam...

A Lei número 36, de 1833, declarou pertencer aos Próprios Nacionais do Brasil, todas as terras dos índios das Missões. Já em 1835, haviam apenas 374 índios remanescentes. Em 1855 Luisa Tirarapé, a última autoridade guarani reconhecida, reagrupou os últimos Guarani, no Uruguai, e lá morreu em 1881.

Lógico que isso é o resumo do resumo.

As perguntas que ficam são as seguintes: Como seriam esses povos hoje, se não tivesse acontecido tudo isso? Os jesuítas fizeram bem à comunidade Guarani?

Uma coisa é certa. Muito da cultura gaúcha atual é herança dos povos guaranis reduzidos. A introdução do gado, do mate e de tantas outras atividades, vieram desses povos.

Cada um desses povos tinha sua peculiaridade, sendo hábeis em escultura, música, artesanato... Viviam também do comércio. Tudo era ensinado pelos padres jesuítas. As famílias poderiam ter propriedade, e assim criaram sistemas econômicos, chamados “Abambaé” e “Tupambaé”, sem circulação de dinheiro, que não eram capitalistas, nem tampouco socialistas.


Toda essa história pra, mim, é fantástica. Não vou continuar. Atualmente é fácil fazer pesquisas e buscar mais detalhes. Trouxe um apanhado aqui, porque quando me interessei em visitar as ruínas jesuíticas pela primeira vez, não sabia o que iria encontrar, e acabei ficando encantado (Bibliografia: Mário Simon, escritor gaúcho).

Dia 26 de dezembro de 2016 começou nossa expedição pelas Missões, no Rio Grande do Sul. Ainda iríamos transpor o rio Uruguai e chegar à Argentina, e depois o rio Paraná e desbravar as ruínas jesuíticas do Paraguai.
Partimos dia 25 de ônibus de linha de Curitiba até Santo Ângelo, chegando por volta das 9 da manhã. Montamos as bicicletas e uma hora e pouco depois pegamos a estrada, parando em Entre Ijuís para fazer um breve lanche.
Já em estrada de chão visitamos as ruínas de São João Batista. Lanchamos no local com o que tínhamos e depois seguimos para São Miguel das Missões. Quase todos foram direto para a piscina relaxar um pouco e baixar a temperatura corporal.
A pedalada foi desgastante devido ao forte calor; pedalamos apenas 47 km, mas pareceu muito mais. A estrada por momentos tinha muita pedra, o que também dificultou.
A noite visitamos as ruínas, jantamos, e voltamos para lá assistir ao belo show de luzes e cores, que conta um pouco da história dos sete povos das missões.
Início do pedal, na rodoviária de Santo Angelo


Ponte sobre o rio Ijuí
A caminho de São João Batista






Entrada para as ruínas de São João Batista
Ruínas de São João Batista
Mural na entrada de São João Batista
A caminho de São Miguel das Missões
Chegada a São Miguel das Missões
Momento refrescante e relaxante na Pousada das Missões
Imagens da visita às ruínas das reduções indígenas de São Miguel das Missões:
 
Igreja das ruínas de São Miguel Arcanjo



O segundo dia nas Missões foi maravilhoso! Bem, cada um tem seu conceito sobre o que é “maravilhoso”, kkkk
Foi sim um dia de muitos perrengues... Mas alguns dizem que os passeios que organizo tem que ter perrengues, então vamos lá. Primeiro que a terça-feira amanheceu com nebulosidade e garoa. Sair de cara com chuva sempre é chato, em qualquer circunstância.
Deixando a Pousada das Missões
Pegamos o rumo da estrada e logo a Manu percebeu que seu guidão estava um pouco frouxo. Ela viu que um dos parafusos que suportam o guidão na mesa havia se soltado, e se perdeu. O Neimar, como sempre solícito, tentou resolver de algum jeito ali na hora, mas não conseguiu de imediato; retornaram à cidade de São Miguel das Missões, que ainda estava perto, para tentar resolver o problema. Com eles voltou o Fabio e o Henri.
O restante seguiu comigo pelo asfalto, até a entrada para a estrada de chão que leva até à Redução de São Lourenço Mártir. Ali aguardamos. Quando o Augusto chegou até nós, disse a ele e às meninas para irem seguindo pela estrada de chão, que nós esperaríamos os demais. Meia hora depois eles chegaram e seguimos todos, enfim, para nosso próximo destino.


Ocorre que a estrada de chão e pedras virou um lamaceiro só; fizemos perto de 4 km ali, até que alcançamos o Augusto e as meninas.
Estavam parados tentando tirar o barro das bicicletas, que não tinham mais como se movimentar. Interessante que isso não ocorria com todos. Soubemos naquele ponto que a Sofia e a Carmo seguiram viagem. Ficou o impasse; alguns começaram a falar em voltar e pegar o asfalto e irem direto a São Luiz Gonzaga, onde dormiríamos.
Ficou acertado assim. Eu, o Neimar, o Juliano e o Fabio, seguimos em frente também para encontrar as duas, e os demais retornaram para o asfalto. Bem, tentaram retornar, mas é uma outra história.
A caminho de São Lourenço Mártir









Nós, os seis, seguimos em frente, com menos dificuldade do que até aquele ponto. Chovia, parava, chovia, e assim foi, até que 23 km de pedal depois, chegamos às ruínas de São Lourenço. Não tínhamos contato com o outro grupo... 
Chegada à Redução de São Lourenço


Ruínas de São Lourenço Mártir
Portal da Redução Indígena de São Lourenço Mártir
Visitamos o local e depois fomos até o CTG missioneiro de São Lourenço, onde o Sr. Lalo e a Sra. Eunice nos receberam com carinho.
Prepararam um delicioso almoço para nós, a um preço bem reduzido. Show!
Almoço no CTG
Voltamos para a estrada, com chuva; depois veio muita chuva... Apesar da lama, não formou um barro, então não prejudicou nossa pedalada. Mas ficamos extremamente sujos. Chegou a fazer um pouco de frio; eu e outros chegamos a colocar um corta vento. Quem diria...
O destino agora era São Luiz Gonzaga.        
Chegamos ao asfalto, passamos num posto de gasolina tirar um pouco da lama, e fomos até a cidade para tomar um bom banho. O outro grupo não tinha chegado; isso era de certa forma preocupante, pois acreditávamos que pelo asfalto iriam mais rápido, apesar de aumentar em 8 a 10 km o percurso.
Soubemos mais tarde que eles passaram por muitos perrengues na volta ao asfalto; melhor, não conseguiram pedalar até lá. Os cinco tinham problemas com a quantidade de lama, e mesmo que fosse uma distância de certa forma pequena, 4 km, eles não saiam do lugar; nem empurrando as bicicletas  adiantavam a viagem. Até que surgiu uma camionete, e pediram carona. O Augusto seguia à frente do pequeno grupo, pedalando dentro do possível, e os outros quatro passaram por ele embarcados.
O Augusto seguiu da mesma forma e depois se encontraram na empresa do caroneiro, onde lavaram as bicicletas e se ajeitaram para pegar o asfalto. Pararam para almoçar num posto de gasolina. O Wendell teve um dos pneus da bicicleta atingido por um pedaço de vidro, que quase deixou ele na mão; chegou a atravessar a fita antifuro.
Pararam no mesmo posto de gasolina que nosso grupo parou, perto da cidade, e depois seguiram ao Hotel marcado. Ufa! Fim dos perrengues, e muita história pra contar e dar muitas risadas quando o grupo se uniu no começo da noite.
Tem outros detalhes, mas fica difícil lembrar de tudo, ainda porque em algum deles eu não estava presente...
A cidade não guardou qualquer resquício dos tempos das Missões, então apenas fomos jantar e descansar.
Deixamos São Luiz Gonzaga para chegarmos a Porto Xavier, na divisa com a Argentina, junto ao rio Uruguai, já na manhã seguinte.
No entroncamento da saída da cidade, tomamos uma decisão: alguns seguiriam pelo asfalto, sem passar em São Nicolau, por ser estrada de terra, e outros seguiriam por essa estrada secundária. O problema foi todo o perrengue do dia anterior, e não sabíamos se as condições seriam boas ou não. Amanheceu nublado e com um pouco de garoa.
Hora de deixar São Luiz Gonzaga
Assim, formou-se novamente dois grupos, sendo um de 5 cicloturistas, que foram pelo asfalto: Fernanda,  Augusto, Juliano, Sofia e Manu.
O outro ficou com 6 cicloturistas. Eu, a Carmo, Neimar, Wendell, Henri e o Fabio.
Nosso grupo seguiu pela estrada de chão, terra e pedras, e felizmente estava em boas condições. Uma pena o outro grupo ter seguido pelo asfalto, certamente daria tudo certo dessa vez.
Local de peregrinação também

Depois de cerca de 40 km chegamos a São Nicolau, onde visitamos as ruínas, almoçamos, e ainda o Neimar ajudou a consertar o bagageiro da bicicleta do Fabio que havia quebrado, único problema do dia.
Adega Jesuítica

Ruínas da Redução de São Nicolau

Museu Jesuítico
Solar dos "Silva"
Construído com pedras da Redução
"Machos" no pedal...kkk
Seguimos novamente por estrada de chão até Porto Xavier, cruzando o rio Ijuí de balsa. Antes de chegar à cidade, já no asfalto, tivemos que pegar uma pequena serra. O calor era intenso e dificultou um pouco atravessá-la.
Rio Ijuí
O outro grupo que seguiu pelo asfalto, segundo eles, tiveram uma viagem tranquila, sem qualquer perrengue. Fizeram pouco mais de 60 km, enquanto nós chegamos aos 90 km. Almoçaram em Roque Gonzales, praticamente no meio do caminho. Também tiveram que enfrentar a serrinha. Diferente da gente, pegaram chuva em alguns trechos. Disseram que foi refrescante e não incomodou...
Fase Internacional – Missões Argentinas
Dia de começarmos a parte internacional da expedição Missões.
Deixamos o Hotel de Porto Xavier e fomos até a fronteira, cerca de quinhentos metros abaixo, na mesma rua. Primeiro pagamos R$ 12,00 para o transporte de balsa até o outro lado; depois passamos na Polícia Federal para fazer um registro. Eram 08h45 quando a balsa saiu, e chegou à Argentina, em San Javier 07h55. Isto mesmo, do outro lado é uma hora a menos por causa do nosso horário de verão.
Lembro que no dia anterior trocamos alguns reais por pesos argentinos. Nossa moeda não é aceita em todo o lugar, principalmente mais para o interior. Câmbio a 0,20/0,21.
Fizemos o registro de entrada do país (tinha um pouco de fila, e demorou um pouco). Enfim pegamos a estrada. O tempo estava nublado, com um mormaço, mas logo virou uns pingos, depois uma chuva, e, enfim, um chaparrão. É assim que chamam um temporal na Argentina. Daqueles com raios e trovoadas.

Estávamos indo bem, até que começaram os probleminhas. Primeiro furou o pneu da bicicleta do Augusto; depois da Carmo. Nesse momento só estavam eles, a Fer, a Sofia e o Wendell juntos. Os demais estavam mais à frente. Eu estava com esse grupinho pouco antes, mas achei que podia tocar, passei pelo Wendell que esperava a Fer (ela e a Sofia pararam para comer algo).
Pouco depois, numa subida, encontrei o Neimar. Ele estava parado e assim que me viu, continuou. Eu resolvi parar no meio da subida para esperar a turma de trás, mas o tempo mudou muito; foi a hora do temporal. Nada deles aparecerem. Foram os furos que deram problemas. Eu, na verdade, não estava muito longe.
Enquanto isso a turma da frente se mandou, com o Henri, a Manu, o Neimar, o Fabio e o Juliano.
Tentei parar alguns carros para tentar descobrir o que ocorria, mas só consegui depois de muito tempo. Um casal me avisou do ocorrido e ao mesmo tempo me disseram para eu me proteger de forte chuva e vento frio, numa cobertura pouco depois da subida. Fiz isso. Aguardei num ponto de ônibus até eles começarem a vir.
Isso tudo demorou quase uma hora. Enfim seguimos. Chegamos a Leandro N Alem, uma pequena cidade, que fica no meio do caminho previsto para nós. Não encontramos o grupo da frente e procuramos um lugar para comer. Churrascaria à brasileira, foi o que deu. Muito boa, e o dono, senhor Cezar, é muito simpático e brincalhão e aceitou ficarmos daquele jeito em seu estabelecimento (estávamos muito molhados). Eu disse a ele que estávamos sujos, e ele contrapôs, dizendo que sujeira seria se não parássemos lá para comer...
O Augusto perguntou, e ele se ofereceu para levar parte do grupo até San Ignacio, nosso destino final. Até ali tinha dado 50 km, e tínhamos mais o mesmo tanto pela frente. O moral do pequeno grupo caiu um pouco, e alardeados pelo Augusto, a Sofia, a Carmo e a Fer aceitaram o convite para irem juntos de carona.
Pelo wathsapp conseguimos saber do grupo da frente e eles foram até nós. Partimos em direção a San Ignacio Mini. Eu e o Wendell tentamos nos juntar a eles, mas como saíram um pouco na nossa frente, demoramos uns 30 km para alcançá-los. Muito sobe e desce, desgastante, ora com mormaço, ora com chuvisco ou chuva.
Quando chegamos no trevo de acesso à rota 12, em Santa Ana, paramos num posto de gasolina para hidratação e comer algo, quando a camionete que levava os outros quatro, chegou. O senhor Cezar os levou até um local conhecido, turístico, um parque temático, que fica a 7 km saindo da estrada.
Eles foram embora, e nós logo pegamos a estrada novamente. Primeiro viramos na estrada à esquerda, para ir conhecer as ruínas jesuíticas de Santa Ana, e depois mais 16 km para San Ignacio, em estrada no começo sem acostamento e muito movimentada; foi sinistro aquele trecho. Depois ficou um pouco com pista dupla, o que aliviou.
Ruínas da Redução de Santa Ana - Argentina




Fechamos com 105 km percorridos no dia. Cansativo, mas show!

Fase Internacional – Missões Paraguaias
Este seria um dia diferente, isso eu já sabia, mas não precisava ser tão diferente.
Ocorre que deixei a visita para o Paraguai como uma incógnita nessa trip. Eu não conhecia o lugar, e levar um grupo onde você não conhece é, no mínimo, intrigante. Dia 30 de dezembro, sexta-feira.
De propósito sequer reservei hotel. O objetivo principal era visitar as ruínas jesuíticas daquele país, as de Trinidad e Jesus de Tavarengue. Cheguei a fazer três ou quatro roteiros diferentes para chegar até lá. Finalmente, e com a garantia de que havia uma balsa em Corpus, mais perto de San Ignacio, resolvi que atravessaríamos por ali da Argentina para o Paraguai.
Faríamos pouco mais de 50 km na ida, e depois o mesmo na volta, passando a fronteira entre Corpus e Bella Vista. E assim tentamos.
Antes, porém, de partir para a estrada, fomos até as ruínas jesuíticas de San Ignacio Mini, não muito distante de nosso hotel e também da saída da cidade. Eu e a Carmo já conhecíamos, mas a turma não. Curtiram o ambiente e a história, e partimos.
Deixando a Pousada de San Ignácio Mini
Museu das ruínas jesuíticas de San Ignácio Mini
As ruínas de San Ignácio Mini

A estrada começa difícil, sem acostamento e com muitas subidas e descidas. Já fazia calor. Depois de uns 10 km dobramos à esquerda em direção a Corpus e ao rio Paraná, até um pequeno porto, para pegar a balsa. Antes fizemos a migração, agora registrando a saída da Argentina. Do outro lado, em terras paraguaias, fizemos o registro de entrada naquele país.
Travessia do rio Paraná, a caminho do Paraguai
Até ali tudo tranquilo, mais de 20 km de pedal, com muito calor, mas chegando ao povoado de Bella Vista, o tempo começou a virar, e o chaparrão parecia inevitável.
Antes de entrar no centro da cidade, avistamos um “comedor”, e ali almoçamos uma tradicional milanesa, a R$ 10,00 por pessoa...
Difícil foi lidar com o dinheiro, pois muitos disseram que não haveria necessidade de trocar guaranis, pagando as despesas no Paraguai com os pesos argentinos. Na prática não funcionou, mas com um jeitinho, conseguimos pagar com pesos mesmo.
A relação cambial estava assim: um real compra cinco pesos, ou mil seiscentos e noventa guaranis.
Depois do almoço continuamos. Até ali já tínhamos percorrido 30 km. Preocupados com a história dos guaranis (moeda), ficamos de olho se achávamos casa de câmbio.
Somente quando entramos em Obligado, já no centro da cidade, conseguimos um caixa eletrônico do banco Itaú. Três ou quatro de nós conseguiu sacar o dinheiro, entre eles eu. Dividimos entre todos os dez. Sim, estávamos em dez, porque o Augusto, na noite anterior, já havia adiantado que não teria pique para seguir conosco até o Paraguai. Entendi e deixei-o à vontade. Permaneceu no mesmo hotel e ficou de preparar uma “ceia” de ano novo para nós.
Disse que o dia estava diferente, não? Pois é, primeiro porque já havíamos circulado por estrada asfaltada, movimentada, sem acostamento; depois estrada de chão e outra de pedra. Pegamos muito sol e depois muita chuva. Outra coisa: quando fomos atravessar a fronteira, ao pagar o bilhete, fomos avisados de que a balsa não funcionava aos sábados e domingos...
Plano B. Obrigatoriamente teríamos de voltar por Encarnacion (Paraguai) e Posadas (Argentina), distante 30 km. Foi ali mesmo no centro de Obligado que a Manu me disse que não iria conosco conhecer os dois sítios arqueológicos da região; preferia fazer o de Trinidad, à beira da estrada, em direção a Encarnacion, mas não iria entrar mais 12 km (24 km ida e volta), para conhecer as ruínas de Jesus; disse que não se sentia bem e disposta para aguentar mais tanta coisa; no dia anterior andou forte com os meninos, na frente.
Na hora, confesso, fiquei chateado; teria que tomar uma decisão. Claro que a primeira coisa que disse, foi a de que eu não a largaria sozinha naquela região. Foi quando o Juliano, que estava ao seu lado, disse que a acompanharia. Disse “tudo bem”, e me afastei deles para ver se conseguia tirar o dinheiro do caixa eletrônico.
Depois percebi que ela estava chateada, chorando, e senti que não fui bem entendido. Falei que eu estava chateado sim, mas não bravo com ela; é que eu gostaria que ela aproveitasse toda a viagem. Ir tão longe e não chegar ali, tão perto. Já havia deixado o Augusto em São Ignacio, e embora ele seja bem “susse”, e eu o conheça há tanto tempo, sempre fica aquela pontinha de frustração, talvez por ter feito uma programação muito forte, ou que tenha falhado em alguma coisa.
Nem bem deixamos a cidade e pegamos a estrada, e o mundo desabou; muita chuva, mas mantivemos o pique e continuamos mesmo assim. Tinha um bom acostamento e seriam perto de 10 km até a entrada para as ruínas de Jesus de Tavarengue. Antes de completarmos esse trecho, a chuva parou e chegamos a Trinidad. Preferimos garantir e ver as ruínas dali primeiro, para depois ir até a outra.











Ao chegar vi um hotel ao lado, bem simples, mas o suficiente para nós. Resolvi mudar os planos, e considerando que o grupo não vem descansando, pedalando todos os dias, e também o que aconteceu com a Manu, entendi por bem ficar por ali mesmo. No outro dia visitaríamos as outras ruínas da região, e seguiríamos até Encarnacion, atravessaríamos para Posadas, na Argentina, e tentaríamos encontrar uma condução, talvez ônibus de linha mesmo, para fazer os últimos 30 km até San Ignácio.
Deixamos as tralhas no hotel (bem ruim por sinal...), e fomos visitar as ruínas, cada um ao seu tempo. Jantamos no hotel mesmo, e o jeito foi descansar. 53 km no dia.
Ruínas da Redução de Trinidad

Chegamos ao último dia do ano, mas não o último da expedição Missões. Hora de deixar o Paraguai e voltar para a Argentina, mais precisamente San Ignacio, onde o Augusto nos esperava e faríamos uma confraternização de fim de ano.
Como já havia comentado, não pudemos voltar pela balsa de Bella Vista, por ser um sábado, então deveríamos ir até Encarnacion, ainda no Paraguai, e depois Posadas, na Argentina, atravessando a ponte que liga os dois países; uma atração à parte.
Primeiro fomos até as ruínas jesuíticas de Jesus de Tavarengue, 12 km de distância da de Trinidad, onde estávamos hospedados. Deixamos as bagagens no Hotel, para facilitar a jornada, e seguimos. 
A caminho de Jesus de Tavarengue

Chegada a Jesus de Tavarengue
Ruínas da Redução paraguaia de Jesus de Tavarengue
Peças do Museu
Fizemos a visita à bela redução em ruínas e voltamos; pegamos nossas bagagens e fomos para a estrada.
Felizmente não choveu nesse dia, e também não estava tão quente. O pedal saiu tranquilo. Paramos para almoçar num ótimo restaurante com bufe livre e por quilo, chamado Império, que fica junto a um posto de gasolina, na estrada mesmo. Cerca de 35 km depois chegávamos à cidade de Encarnacion, onde fomos direto procurar a ponte para a travessia.
Almoço delicioso no caminho
Chegando em Encarnación
Chegada à ponte que divide Argentina do Paraguai
Bem, aí veio o primeiro problema do dia. Ao chegarmos à ponte, pensamos que seria apenas entregar a papeleta na migração, confirmando nossa saída do país, mas um policial abordou um dos nossos parceiros, e percebi que ele perguntou: - Você não escutou meu apito? Não podem seguir pela ponte, é proibido.
Reunidos, passamos a dialogar com o policial, que depois ainda chamou seu superior. Não havia jeito, não tem como passar com bicicletas; somente de ônibus ou trem. Teríamos que voltar para a cidade e ver como fazer. Insistimos por ali, conversamos mais, até que o policial chefe disse que poderíamos tentar pegar o ônibus de linha; que teríamos de seguir de dois ou três por vez, já que se trata de ônibus urbano, simples, sem bagageiro.
Compreendemos e ficamos aguardando.
Menos de dez minutos e chegou o primeiro. Rapidamente chamamos as meninas para subirem e um dos homens do nosso grupo para seguir junto. Ajudamos a embarcar as bicicletas pela porta de trás, orientados pelo motorista (nem sei como couberam). Felizmente os primeiros quatro estavam encaminhados...
O ônibus
Mais um pouco e passa uma camionete vazia, com apenas o motorista e a caçamba também vazia. Perguntei ao policial se a gente poderia pedir carona. Ele não só consentiu como parou o motorista e solicitou que nos transportasse. O sujeito era muito simpático e solícito, descobrimos depois que era professor de Educação Física.
Ajudou a embarcar cinco bicicletas. Fomos em quatro na Camionete, sendo que dois na frente e dois na caçamba junto com as bicicletas (eu e o Henri). Uma das bicicletas foi no ônibus que veio logo atrás. Dois companheiros foram lá. Ufa! Todos na Argentina, na simpática cidade de Posadas.
A carona
A ponte
Chegou a hora de procurar a Rodoviária. Já havia prometido ao grupo que não pedalaríamos esses mais de 60 km até San Ignácio. Até a estação, o total do dia já havia chegado aos 70 km.
Circulando pela cidade de Posadas - Argentina
Na Rodoviária começamos a procurar alguma empresa que fizesse o percurso e conseguisse levar as dez bicicletas. Essa sim era uma missão quase impossível. Realmente, imaginar colocar esse número num ônibus regular, no último dia do ano, não era coisa fácil. 17h35 era o horário do ônibus.
Se a situação parecia complicada, quando o ônibus parou no seu terminal de embarque, percebemos que a coisa seria pior ainda. Era um daqueles enormes, altos, com dois andares para passageiros, ou seja, sabidamente com apenas um maleiro, pequeno e estreito.
Conseguimos convencer os simpáticos funcionários da empresa, o motorista e o cobrador (era um pinga-pinga), que desmontando as bicicletas, e sem os alforjes, nós conseguiríamos a proeza.
Certamente nenhum de nós acreditava, e tínhamos menos de 15 minutos para o intento, mas com muito trabalho dos parceiros de cicloviagem, e principalmente do Henri, que entrou dentro do bagageiro, e pacientemente organizou a coisa, tudo se resolveu. Nem perguntem como, mas lá estavam todas as dez bicicletas. Cada um levou seus alforjes consigo, e lá fomos nós...
Quase uma hora e meia depois desembarcamos na pequena Rodoviária de San Ignácio, à beira da estrada. Num piscar de olhos e todas as bicicletas estavam fora do ônibus. Foi um tal de quadro pra lá, roda pra cá, mas cada um achou suas “peças”, e em alguns minutos já chegávamos ao Hotel onde o Augusto nos esperava.
Rodoviária de San Ignácio Mini
Portal de entrada da cidade jesuítica
O Augusto à nossa espera











Ele havia comprado alguns condimentos que pedi antecipadamente. O Neimar ajudou com o macarrão e o molho ao sugo, e eu preparei um peixe. Perto da meia noite ceamos e fizemos o famoso brinde de passagem de ano. Muito legal!!!
RETORNO AO BRASIL
Segunda-feira, dia primeiro de janeiro de 2017, e pegamos a “ruta 12”, para retornarmos ao Brasil. Seria um dia difícil, e nós sabíamos disso. A última barca de San Javier para Porto Xavier partia 17h00 (horário da Argentina).

Ocorre que em função da passagem do ano, o hotel serviu o café apenas a partir das 08h00. Acabamos por demorar a sair.
Como previsto e avisado no dia anterior, ainda tínhamos por conhecer as ruínas de Loreto, cuja entrada ficava junto à estrada, 9 km depois; mais 3 km para dentro.
O amigo e parceiro de expedição, Juliano, deixou o grupo nesse dia. Dali de San Ignacio ele pegou um ônibus até Puerto Iguasu e de lá seguiria a Foz do Iguaçú para pegar um avião de volta a Curitiba. Já estava previsto, pois deveria voltar às suas atividades profissionais.
O dia estava ensolarado e já muito quente pela manhã. Chegamos à pequena estradinha, percorremos os 3 km e chegando à entrada da redução, percebemos algo estranho: não havia qualquer movimentação. Pode Isso? Estava fechada em função do feriado... Putz! Justamente quando há uma maior movimentação de turistas. Soube, então, que todas as reduções jesuíticas argentinas estavam fechadas.
Mas como nosso santo é forte, tinha um rapaz cuidando do lugar, e quando fui conversar, ele compreendeu a situação e deu uma oportunidade a nós. Pediu que o acompanhasse e, desviando da parte administrativa que estava fechada, pegamos o mato lateral e adentramos na parte onde ficavam as ruínas. Beleza! Na saída dei um “mimo” de cem pesos pra ele.
Foi muito bom ter essa oportunidade. As ruínas de Loreto são diferentes de todas as outras, tanto do Brasil, como da própria Argentina e do Paraguai. Por que? Lá as autoridades entenderam por bem em não arrumar o que o tempo ou os vândalos destruíram. Simplesmente cuidam para que não se desmanche ainda mais.
Assim, é possível compreender melhor a forma das construções, posto que não houve intervenção da engenharia moderna. As árvores cresceram dentro e ao redor das ruínas, não ficando resquício do pátio grande e gramado, comum nas demais ruínas visitadas.


Hora de voltar para a estrada; o tempo está passando, e o calor aumentando. Próximo objetivo seria o trevo de Santa Ana, mais uns 5 km pra frente. Ao chegarmos, parte do grupo resolveu ficar por lá mesmo e tentar uma condução para San Javier, entendendo que com o forte calor, certamente iriam atrasar o grupo e perder a balsa. Ficaram o Augusto, a Carmo, a Sofia e a Manu. Pouco antes de sairmos do posto onde estávamos parados em Santa Ana, a Fer, solidária com as meninas, resolveu ficar, pois também ficou em dúvida da possibilidade de “aguentar o tranco”.
Foram 38 km dali até a cidade de Leandro N Além, na Ruta 4, e, acredito, o pior trecho de toda a viagem. Estávamos eu, o Wendell, o Fábio, o Henri e o Neimar. O calor bateu pra cima dos 40 graus. Haja água para tudo isso. Era preciso diminuir a temperatura do corpo, então a água ia mais para a parte externa do que a interna.
Quando estávamos arrastando pela estrada, derretendo, a 5 km de Além (e não do além, kkk), passa uma camionete “recheada” de bicicletas; era nosso grupeto que ficou em Santa Ana. Eles pararam na minha frente e perguntaram se queriam que levassem meus alforjes. Consenti prontamente, pois era um alívio diminuir o peso àquela altura.
Pedi para que atendessem o Neimar, que seguia à frente uns 300 metros, e que parecia caído no acostamento da estrada. O Fábio e o Henri, certamente os mais fortes do grupo, que tinham disparado na frente, naquele momento estavam pouco atrás, em função do furo de um pneu. O Wendell também já havia os alcançado e passou a seguir junto aos dois.
O Neimar estava bem, apenas exausto também pelo calor; parou para descansar, desceu da bicicleta e se jogou ao chão à sombra de uma árvore. Ele também largou seus alforjes com o pessoal embarcado.
Os outros três seguiram carregados.
Sofregamente chegamos a Além. Ufa! Precisávamos dessa parada estratégica. Ficamos um bom tempo refestelando-nos dentro da loja de conveniências de um posto de gasolina, que tinha ar condicionado. Muita hidratação, salgados e doces, e estrada novamente.
Ai tudo mudou. A parada estratégica, o corpo em temperatura mais baixa, combinado com o sol que começou a ficar encoberto por nuvens cinzentas de chuva, prenunciando um novo chaparrão, mais o fato de que o trecho tinha um pouco menos de subidas, deixou tudo mais tranquilo.
Saí na frente alegando que era o mais fraco dos cinco, enquanto eles se preparavam ainda para partir. Pouco tempo depois meu suplemento de água caiu do bagageiro, mas não me importei com isso, e não parei para apanhar; “soltei o sarrafo”, como se diz.
Aproveitei o fato de me sentir renovado, e também com a chuva que veio e refrescou ainda mais, e fui me adiantando. Olhava para trás, e só quando dava percebia um parceiro ao longe, talvez uns 2 km; acreditei que era o Neimar, mas não era possível identificar.
Quando havia feito 26/27 km, desde o posto, olhei no relógio e vi que tinha se passado apenas uma hora, ou seja, a média estava bem alta, e chegaríamos com folga para a travessia. Dali para frente fui administrando, e comecei a perceber a chegada dos demais. Via primeiro três ciclistas, e depois outro sozinho.
Quando estava a três ou quatro quilômetros do trevo de San Javier, o Wendell e o Fabio encostaram em mim; no trevo esperamos e logo o Neimar e o Henri se juntaram a nós. Comemoramos o feito. Foi difícil, mas divertido. Curtimos.
Fomos até a balsa, 3 km da cidade, e completamos 48 de trecho, e 105 km no total do dia. Fizemos a parte burocrática da aduana. Passava um pouco das quatro da tarde, e a balsa saiu meia hora depois.
Quando chegamos do outro lado, em Porto Xavier, ao descer, montado na bicicleta, o Henri foi ao chão. Na verdade ele disse que a bicicleta foi quem caiu, ele não (kkk). O piso era de metal e estava molhado; realmente complicado de se equilibrar... (ele não se machucou, felizmente).
Descobrimos, então, que o grupo da carona chegou não muito antes, pois esperaram muito tempo pela balsa do lado argentino.
Fizemos a confraternização da chegada numa pastelaria ao lado do hotel, único lugar aberto àquela hora na cidade, que vivia o feriado de primeiro dia do ano.

Era o começo do fim de nossa expedição.
De Porto Xavier o objetivo passou a ser apenas voltar até Santo Angelo para pegar o ônibus para Curitiba. As passagens já estavam compradas para terça-feira, dia 3, final da tarde. Estávamos na segunda-feira, dia 2, a 130 km de Santo Angelo.
Minha programação previa uma parada em Cerro Largo, praticamente no meio do caminho, para no dia seguinte chegar ao destino.
Conversei com o grupo, expus todas as possibilidades, e, por fim, resolvemos seguir primeiro por estrada de chão até São Paulo das Missões, e dali para frente ver o que fazer, dependendo das condições de cada um.


Foi um passeio muito gostoso, por paisagens maravilhosas daquela estradinha rural. Muitas subidas, é claro, mas fomos parando de pouco em pouco, e tínhamos a vantagem de ser uma região arborizada. Encontramos lugar para hidratação somente no lugar chamado Planalto.





O Neimar seguia à frente e viu a Sociedade de Bocha local; estava fechada. Perguntou a um senhor e ele prontamente se identificou (Sr. Stein, acredito) e disse que iria pegar as chaves da sociedade e abri-la para nós. Muito simpático e atencioso. Que maravilha! Sombra e água fresca... Água? Que nada, foi é cerveja mesmo, hehe.
Pudemos então nos refrescar, baixar a temperatura do corpo e seguir por mais 15 km até a cidade de São Paulo das Missões, felizmente morro abaixo, depois de mais umas subidinhas...
Chegando ao primeiro trecho de asfalto, recebemos a notícia dos que chegavam, de que havia furado o pneu da bicicleta da Carmo; o Neimar ficou com ela ajudando no reparo. Ficamos à sombra de umas árvores esperando. Muito calor mesmo.
Todos juntos descemos até o centro da simpática cidade, e procuramos lugar para comer (acredito que já passava de uma da tarde). Encontramos o restaurante do Gringo, e por ali ficamos; tivemos apenas que aguardar um pouco o pessoal do churrasco assar umas carnes para nós.
Depois do almoço continuamos por ali, agora na frente do comércio, socializando com o pessoal local. Achamos por bem terminar por ali mesmo nossa jornada ciclística pelas Missões.
Então o Augusto foi fazer seus contatos... Conseguiu com uma empresa de turismo local, um micro-ônibus para o transporte até Santo Angelo. Negociou o preço e aceitamos.
É claro que o Henri e o Fábio, nossos fortões (rs), preferiram seguir pedalando por mais 100 km até o destino final. Consenti. Desde os preparativos da viagem, avisei a todos que seria dessa forma, ou seja, ninguém precisaria seguir à risca o programa. Na verdade nem eu mesmo segui o cronograma, kkk.
Para aqueles que não me conhecem, ou não sabem como são programadas essas viagens de cicloturismo em grupo, eu apenas convido os parceiros, ou eles se convidam mesmo, porque são cara de pau (kkkk), e eles aceitam minha proposta, ou não; seguem juntos, mas podem fazer algo do seu jeito, desde que seja de comum acordo durante a trip.
Vocês viram nos relatos anteriores que isso aconteceu. Cada um paga suas despesas de hospedagem, alimentação, transporte e outras diversas, e ainda cuidam de suas bicicletas com todos os apetrechos necessários. Durante a viagem a gente se ajuda... Não há custo adicional.
Bem, voltando lá para o restaurante... Enquanto esperávamos pelo transporte, o Henri e o Fábio pegaram suas bicicletas e partiram. Felizmente aceitaram o pedido para deixarem suas bagagens; assim seguiram mais leves para o intento.
Continuamos com a socialização, até que apareceu o Luciano André, locutor da rádio Cantão, lá mesmo de São Paulo das Missões. Se nossa presença já estava fazendo “sucesso”, por nossas histórias a contar, com a presença do Luciano ficou melhor ainda. Digo isso porque ele tirou fotos do grupo e os moradores que estavam por ali, inclusive com a família dona do restaurante; todos muito simpáticos e receptivos.
O Luciano resolveu fazer uma entrevista ao vivo com o “chefe” da expedição, junto à rádio. Pegou o celular, ligou para seu colega no estúdio, interrompeu a programação que estava no ar, e lá fui eu embarcar nessa outra aventura deliciosa.
Felizmente não fiquei acanhado e acho que me dei bem, hehe. O senhor dono do restaurante pegou o rádio portátil e levantou-o até seu ombro, e feliz escutava a entrevista por ali e ao vivo. Via-se em seus olhos um brilho de alegria. Emocionante! Publiquei nas redes sociais parte da entrevista, gravada pela Fernanda.
Para completar, já que estava me sentindo uma “estrela”, resolvi contar para o Luciano que tinha feito uma música em homenagem a essas pedaladas pelo mundo, e perguntei se ele não poderia tocar na rádio.
Disse a ele que era só seu colega procurar no Sound Cloud, com o título “Vamos Pedalar”. Não deu um minuto e estava lá minha música, cantada por mim, sendo tocada pela primeira vez numa rádio. Show! Salva de palmas no final. E o senhor lá, vibrando com o radinho no ombro...
Nessas horas que eu digo: a bicicleta aí é a coisa menos importante...
Hora de embarcar. O ônibus chegou, ajeitamos as bicicletas do jeito que deu, e pegamos a estrada, já saudosos com a bela recepção em São Paulo das Missões.
Outra coisa. Quando o Augusto foi pedir a condução, o proprietário da empresa de ônibus informou que estava saindo um grupo para o Rio de Janeiro na manhã seguinte, e como tinha muitos lugares, se quiséssemos poderíamos antecipar nossa volta a Curitiba. Deixamos para decidir ao chegar a Santo Ângelo, pois teríamos primeiro ver se conseguiria cancelar as passagens do ônibus de linha.
Aceitamos. Achamos o preço cobrado compatível e chegaríamos mais cedo, dando tempo para aqueles que voltariam ao trabalho poder descansar um pouco antes de pegar o trampo no dia seguinte.
Fui até a Rodoviária assim que chegamos; o Wendell e o Augusto me ajudaram. Aproveitamos a carona do micro-ônibus e pegamos nossos mala-bikes do guarda volumes.
De noite passeamos pela cidade de Santo Ângelo e fomos jantar, e no dia seguinte ainda sobrou tempo para umas fotos junto à linda igreja, reprodução da igreja jesuítica de São Miguel Arcanjo, e o museu, ambos muito próximos ao Hotel que pernoitamos.
Viagem tranquila na volta a Curitiba, sendo que também socializamos com o pequeno grupo que excursionava. A pedido, o ônibus passou por dentro de Curitiba para seguir viagem a São Paulo e Rio de Janeiro, podendo deixar os cicloturistas o mais próximo possível de suas residências. Já era início da madrugada.
Mais uma cicloviagem para ficar na memória, e a região onde estivemos é pura história da colonização brasileira e sul americana.