OS POVOS MISSIONEIROS
BRASIL – ARGENTINA - PARAGUAI
MEMBROS DO GRUPO:
Sofia, Juliano, Manu, Neimar, Fábio,
Wendell, Maria Do Carmo, Fernanda, Henri,
Carlos Augusto e eu, Sergio.
Chamei esses amigos, para o desafio de explorar um mundo diferente nos países vizinhos e no Rio Grande do Sul, e conhecer melhor, e de perto, a história da saga dos povos indígenas missioneiros.
Vou repetir aqui, o texto que escrevi em outra postagem do blog, intitulada "ROTA DAS MISSÕES", que faz um breve resumo da história dos povos indígenas missioneiros. Acredito ser importante isso, antes de partir para a história do cicloturismo que fizemos.
Chamei esses amigos, para o desafio de explorar um mundo diferente nos países vizinhos e no Rio Grande do Sul, e conhecer melhor, e de perto, a história da saga dos povos indígenas missioneiros.
Vou repetir aqui, o texto que escrevi em outra postagem do blog, intitulada "ROTA DAS MISSÕES", que faz um breve resumo da história dos povos indígenas missioneiros. Acredito ser importante isso, antes de partir para a história do cicloturismo que fizemos.
Quando o índio guarani Sepé Tiaraju bradou aos seus incautos inimigos, portugueses e espanhóis, “ESTA TERRA TEM DONO”, durante a “Guerra Guaranítica”, parece que estava selado ali o fim das reduções jesuíticas na região dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul.
E foi o que aconteceu. No início do século XIX, pouco sobrou de índios que viviam nas reduções.
Acredito que é a primeira vez que vou fazer uma apresentação histórica, antes mesmo de começar a relatar o que foram os passeios que realizei pela região; e olha que foram exatamente sete. Apenas coincidência...
A história das reduções jesuíticas deve ser dividida em duas partes:
Primeira, a partir de 1606, que perdurou até 1637, quando os bandeirantes paulistas expulsaram todos os índios reduzidos. Época em que aconteceu o “êxodo da Província de Guayrá”, quando cerca de doze mil índios, comandados por jesuítas, desceu o rio Paraná, sendo que dois terços deles desapareceram durante a fuga, seja por afogamento, doenças, fome, ou outra causa qualquer. Depois os índios foram armados pelo governo espanhol, e passaram a defender seu território. Na Batalha de M’bororé, em 1641, os bandeirantes são derrotados. Talvez pelas derrotas seguidas, e também por terem os bandeirantes corrido atrás de outro interesse, o ouro, os índios passaram por um período de paz.
Segunda, a partir de 1680, com a fundação da Colônia de Sacramento e, logo em seguida, a primeira redução, das sete, a de São Borja, à beira do rio Uruguai. Em 1687 veio a de São Nicolau, São Miguel e São Luiz Gonzaga. Em 1690, São Lourenço Mártir. Em 1697, São João Batista, que originou-se da desmembração do povo de São Miguel. Finalmente, em 1706, Santo Ângelo, que em 1707 deslocou-se para outro lugar próximo, que tornou definitivo.
Definido, aí, os Sete Povos das Missões. Somando-se aos povos instalados na Argentina e no Paraguai, eles chegavam a trinta. Em 1732, os sete povos já contavam com quase quarenta mil pessoas.
Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madrid, entre Espanha e Portugal, onde houve a permuta entre a Colônia de Sacramento com os Sete Povos das Missões, culminou com a expulsão dos índios missioneiros da margem esquerda do rio Uruguai, onde estavam, que deveriam abandonar suas terras e casas.
Foi nessa época que aparece a liderança de Sepé Tiaraju, que era alferes (um militar) do povo de São Miguel. Ele tentou evitar a demarcação das terras, lutando com bravura contra os portugueses e espanhóis. Acabou morto em 07/02/1756, na Batalha de Caiboaté. Na batalha morreram 1500 índios. Só para efeito de comparação, morreram apenas um soldado português e outros três espanhóis. Tamanha foi a desproporção da guerra.
Pior que em 1761 revogaram o Tratado de Madrid; tanto sofrimento e morte à toa. Mas em 1767 foi decretada a expulsão dos jesuítas dos domínios espanhóis. Começava então, definitivamente, a decadência desses povos.
Muita luta ainda foi travada na sequencia; muitos desbravadores tentaram explorar as terras. Chegavam imigrantes e se assentavam...
A Lei número 36, de 1833, declarou pertencer aos Próprios Nacionais do Brasil, todas as terras dos índios das Missões. Já em 1835, haviam apenas 374 índios remanescentes. Em 1855 Luisa Tirarapé, a última autoridade guarani reconhecida, reagrupou os últimos Guarani, no Uruguai, e lá morreu em 1881.
Lógico que isso é o resumo do resumo.
As perguntas que ficam são as seguintes: Como seriam esses povos hoje, se não tivesse acontecido tudo isso? Os jesuítas fizeram bem à comunidade Guarani?
Uma coisa é certa. Muito da cultura gaúcha atual é herança dos povos guaranis reduzidos. A introdução do gado, do mate e de tantas outras atividades, vieram desses povos.
Cada um desses povos tinha sua peculiaridade, sendo hábeis em escultura, música, artesanato... Viviam também do comércio. Tudo era ensinado pelos padres jesuítas. As famílias poderiam ter propriedade, e assim criaram sistemas econômicos, chamados “Abambaé” e “Tupambaé”, sem circulação de dinheiro, que não eram capitalistas, nem tampouco socialistas.
Toda essa história pra, mim, é fantástica. Não vou continuar. Atualmente é fácil fazer pesquisas e buscar mais detalhes. Trouxe um apanhado aqui, porque quando me interessei em visitar as ruínas jesuíticas pela primeira vez, não sabia o que iria encontrar, e acabei ficando encantado (Bibliografia: Mário Simon, escritor gaúcho).
Dia
26 de dezembro de 2016 começou nossa expedição pelas Missões, no Rio Grande do Sul.
Ainda iríamos transpor o rio Uruguai e chegar à Argentina, e depois o rio
Paraná e desbravar as ruínas jesuíticas do Paraguai.
Partimos
dia 25 de ônibus de linha de Curitiba até Santo Ângelo, chegando por volta das
9 da manhã. Montamos as bicicletas e uma hora e pouco depois pegamos a estrada,
parando em Entre Ijuís para fazer um breve lanche.
Já
em estrada de chão visitamos as ruínas de São João Batista. Lanchamos no local
com o que tínhamos e depois seguimos para São Miguel das Missões. Quase todos
foram direto para a piscina relaxar um pouco e baixar a temperatura corporal.
A
pedalada foi desgastante devido ao forte calor; pedalamos apenas 47 km, mas
pareceu muito mais. A estrada por momentos tinha muita pedra, o que também
dificultou.
A
noite visitamos as ruínas, jantamos, e voltamos para lá assistir ao belo
show de luzes e cores, que conta um pouco da história dos sete povos das
missões.
Início do pedal, na rodoviária de Santo Angelo |
Ponte sobre o rio Ijuí |
A caminho de São João Batista |
Entrada para as ruínas de São João Batista |
Ruínas de São João Batista |
Mural na entrada de São João Batista |
A caminho de São Miguel das Missões |
Chegada a São Miguel das Missões |
Momento refrescante e relaxante na Pousada das Missões |
Imagens da visita às ruínas das reduções indígenas de São Miguel das Missões:
Igreja das ruínas de São Miguel Arcanjo |
O
segundo dia nas Missões foi maravilhoso! Bem, cada um tem seu conceito sobre o que é
“maravilhoso”, kkkk
Foi
sim um dia de muitos perrengues... Mas alguns dizem que os passeios que
organizo tem que ter perrengues, então vamos lá. Primeiro que a terça-feira
amanheceu com nebulosidade e garoa. Sair de cara com chuva sempre é chato, em
qualquer circunstância.
Deixando a Pousada das Missões |
Pegamos
o rumo da estrada e logo a Manu percebeu que seu guidão estava um pouco frouxo.
Ela viu que um dos parafusos que suportam o guidão na mesa havia se soltado, e
se perdeu. O Neimar, como sempre solícito, tentou resolver de algum jeito ali
na hora, mas não conseguiu de imediato; retornaram à cidade de São Miguel das
Missões, que ainda estava perto, para tentar resolver o problema. Com eles
voltou o Fabio e o Henri.
O
restante seguiu comigo pelo asfalto, até a entrada para a estrada de chão que
leva até à Redução de São Lourenço Mártir. Ali aguardamos. Quando o Augusto
chegou até nós, disse a ele e às meninas para irem seguindo pela estrada de chão,
que nós esperaríamos os demais. Meia hora depois eles chegaram e seguimos
todos, enfim, para nosso próximo destino.
Ocorre
que a estrada de chão e pedras virou um lamaceiro só; fizemos perto de 4 km ali, até que alcançamos o Augusto e as meninas.
Estavam parados tentando tirar o barro das bicicletas, que não tinham mais como se movimentar. Interessante que isso não ocorria com todos. Soubemos naquele ponto que a Sofia e a Carmo seguiram viagem. Ficou o impasse; alguns começaram a falar em voltar e pegar o asfalto e irem direto a São Luiz Gonzaga, onde dormiríamos.
Estavam parados tentando tirar o barro das bicicletas, que não tinham mais como se movimentar. Interessante que isso não ocorria com todos. Soubemos naquele ponto que a Sofia e a Carmo seguiram viagem. Ficou o impasse; alguns começaram a falar em voltar e pegar o asfalto e irem direto a São Luiz Gonzaga, onde dormiríamos.
Ficou
acertado assim. Eu, o Neimar, o Juliano e o Fabio, seguimos em frente também
para encontrar as duas, e os demais retornaram para o asfalto. Bem, tentaram
retornar, mas é uma outra história.
A caminho de São Lourenço Mártir |
Nós,
os seis, seguimos em frente, com menos dificuldade do que até aquele ponto.
Chovia, parava, chovia, e assim foi, até que 23 km de pedal depois, chegamos às
ruínas de São Lourenço. Não tínhamos contato com o outro grupo...
Chegada à Redução de São Lourenço |
Ruínas de São Lourenço Mártir |
Portal da Redução Indígena de São Lourenço Mártir |
Visitamos o local e depois fomos até o CTG missioneiro de São Lourenço, onde o Sr. Lalo e a Sra. Eunice nos receberam com carinho.
Almoço no CTG |
Voltamos para a estrada, com chuva; depois veio muita chuva... Apesar da lama,
não formou um barro, então não prejudicou nossa pedalada. Mas ficamos
extremamente sujos. Chegou a fazer um pouco de frio; eu e outros chegamos a
colocar um corta vento. Quem diria...
O destino agora era São Luiz Gonzaga.
Chegamos
ao asfalto, passamos num posto de gasolina tirar um pouco da lama, e fomos até
a cidade para tomar um bom banho. O outro grupo não tinha chegado; isso era de
certa forma preocupante, pois acreditávamos que pelo asfalto iriam mais rápido,
apesar de aumentar em 8 a 10 km o percurso.
Soubemos
mais tarde que eles passaram por muitos perrengues na volta ao asfalto; melhor,
não conseguiram pedalar até lá. Os cinco tinham problemas com a quantidade de
lama, e mesmo que fosse uma distância de certa forma pequena, 4 km, eles não
saiam do lugar; nem empurrando as bicicletas
adiantavam a viagem. Até que surgiu uma camionete, e pediram carona. O
Augusto seguia à frente do pequeno grupo, pedalando dentro do possível, e os
outros quatro passaram por ele embarcados.
O
Augusto seguiu da mesma forma e depois se encontraram na empresa do caroneiro,
onde lavaram as bicicletas e se ajeitaram para pegar o asfalto. Pararam para
almoçar num posto de gasolina. O Wendell teve um dos pneus da bicicleta
atingido por um pedaço de vidro, que quase deixou ele na mão; chegou a
atravessar a fita antifuro.
Pararam
no mesmo posto de gasolina que nosso grupo parou, perto da cidade, e depois
seguiram ao Hotel marcado. Ufa! Fim dos perrengues, e muita história pra contar
e dar muitas risadas quando o grupo se uniu no começo da noite.
Tem
outros detalhes, mas fica difícil lembrar de tudo, ainda porque em algum deles
eu não estava presente...
A
cidade não guardou qualquer resquício dos tempos das Missões, então apenas
fomos jantar e descansar.
Deixamos
São Luiz Gonzaga para chegarmos a Porto Xavier, na divisa com a Argentina,
junto ao rio Uruguai, já na manhã seguinte.
No
entroncamento da saída da cidade, tomamos uma decisão: alguns seguiriam pelo
asfalto, sem passar em São Nicolau, por ser estrada de terra, e outros
seguiriam por essa estrada secundária. O problema foi todo o perrengue do dia
anterior, e não sabíamos se as condições seriam boas ou não. Amanheceu nublado
e com um pouco de garoa.
Hora de deixar São Luiz Gonzaga |
Assim,
formou-se novamente dois grupos, sendo um de 5 cicloturistas, que foram pelo
asfalto: Fernanda, Augusto, Juliano, Sofia e Manu.
O
outro ficou com 6 cicloturistas. Eu, a Carmo, Neimar, Wendell, Henri e o
Fabio.
Nosso
grupo seguiu pela estrada de chão, terra e pedras, e felizmente estava em boas
condições. Uma pena o outro grupo ter seguido pelo asfalto, certamente daria
tudo certo dessa vez.
Local de peregrinação também |
Depois
de cerca de 40 km chegamos a São Nicolau, onde visitamos as ruínas, almoçamos,
e ainda o Neimar ajudou a consertar o bagageiro da bicicleta do Fabio que havia
quebrado, único problema do dia.
Adega Jesuítica |
Ruínas da Redução de São Nicolau |
Museu Jesuítico |
Solar dos "Silva" |
Construído com pedras da Redução |
"Machos" no pedal...kkk |
Seguimos
novamente por estrada de chão até Porto Xavier, cruzando o rio Ijuí de balsa.
Antes de chegar à cidade, já no asfalto, tivemos que pegar uma pequena serra. O
calor era intenso e dificultou um pouco atravessá-la.
Rio Ijuí |
O
outro grupo que seguiu pelo asfalto, segundo eles, tiveram uma viagem
tranquila, sem qualquer perrengue. Fizeram pouco mais de 60 km, enquanto nós
chegamos aos 90 km. Almoçaram em Roque Gonzales, praticamente no meio do
caminho. Também tiveram que enfrentar a serrinha. Diferente da gente, pegaram
chuva em alguns trechos. Disseram que foi refrescante e não incomodou...
Fase
Internacional – Missões Argentinas
Dia
de começarmos a parte internacional da expedição Missões.
Deixamos
o Hotel de Porto Xavier e fomos até a fronteira, cerca de quinhentos metros
abaixo, na mesma rua. Primeiro pagamos R$ 12,00 para o transporte de balsa até
o outro lado; depois passamos na Polícia Federal para fazer um registro. Eram
08h45 quando a balsa saiu, e chegou à Argentina, em San Javier 07h55. Isto
mesmo, do outro lado é uma hora a menos por causa do nosso horário de verão.
Lembro
que no dia anterior trocamos alguns reais por pesos argentinos. Nossa moeda não
é aceita em todo o lugar, principalmente mais para o interior. Câmbio a 0,20/0,21.
Fizemos
o registro de entrada do país (tinha um pouco de fila, e demorou um pouco).
Enfim pegamos a estrada. O tempo estava nublado, com um mormaço, mas logo virou
uns pingos, depois uma chuva, e, enfim, um chaparrão. É assim que chamam
um temporal na Argentina. Daqueles com raios e trovoadas.
Estávamos
indo bem, até que começaram os probleminhas. Primeiro furou o pneu da bicicleta
do Augusto; depois da Carmo. Nesse momento só estavam eles, a Fer, a Sofia e o
Wendell juntos. Os demais estavam mais à frente. Eu estava com esse grupinho
pouco antes, mas achei que podia tocar, passei pelo Wendell que esperava a Fer
(ela e a Sofia pararam para comer algo).
Pouco
depois, numa subida, encontrei o Neimar. Ele estava parado e assim que me viu,
continuou. Eu resolvi parar no meio da subida para esperar a turma de trás, mas
o tempo mudou muito; foi a hora do temporal. Nada deles aparecerem. Foram os
furos que deram problemas. Eu, na verdade, não estava muito longe.
Enquanto
isso a turma da frente se mandou, com o Henri, a Manu, o Neimar, o Fabio e o
Juliano.
Tentei
parar alguns carros para tentar descobrir o que ocorria, mas só consegui depois de
muito tempo. Um casal me avisou do ocorrido e ao mesmo tempo me disseram para
eu me proteger de forte chuva e vento frio, numa cobertura pouco depois da
subida. Fiz isso. Aguardei num ponto de ônibus até eles começarem a vir.
Isso
tudo demorou quase uma hora. Enfim seguimos. Chegamos a Leandro N Alem, uma
pequena cidade, que fica no meio do caminho previsto para nós. Não encontramos
o grupo da frente e procuramos um lugar para comer. Churrascaria à brasileira,
foi o que deu. Muito boa, e o dono, senhor Cezar, é muito simpático e
brincalhão e aceitou ficarmos daquele jeito em seu estabelecimento (estávamos
muito molhados). Eu disse a ele que estávamos sujos, e ele contrapôs, dizendo
que sujeira seria se não parássemos lá para comer...
O
Augusto perguntou, e ele se ofereceu para levar parte do grupo até San Ignacio,
nosso destino final. Até ali tinha dado 50 km, e tínhamos mais o mesmo tanto
pela frente. O moral do pequeno grupo caiu um pouco, e alardeados pelo Augusto,
a Sofia, a Carmo e a Fer aceitaram o convite para irem juntos de carona.
Pelo
wathsapp conseguimos saber do grupo da frente e eles foram até nós. Partimos em direção a San Ignacio Mini. Eu e o
Wendell tentamos nos juntar a eles, mas como saíram um pouco na nossa frente, demoramos uns 30 km para alcançá-los. Muito sobe e
desce, desgastante, ora com mormaço, ora com chuvisco ou chuva.
Quando
chegamos no trevo de acesso à rota 12, em Santa Ana, paramos num posto de
gasolina para hidratação e comer algo, quando a camionete que levava os outros
quatro, chegou. O senhor Cezar os levou até um local conhecido, turístico, um
parque temático, que fica a 7 km saindo da estrada.
Eles
foram embora, e nós logo pegamos a estrada novamente. Primeiro viramos na
estrada à esquerda, para ir conhecer as ruínas jesuíticas de Santa Ana, e
depois mais 16 km para San Ignacio, em estrada no começo sem acostamento e
muito movimentada; foi sinistro aquele trecho. Depois ficou um pouco com pista
dupla, o que aliviou.
Ruínas da Redução de Santa Ana - Argentina |
Fechamos com 105 km percorridos no dia. Cansativo, mas show!
Fase
Internacional – Missões Paraguaias
Este
seria um dia diferente, isso eu já sabia, mas não precisava ser tão diferente.
Ocorre
que deixei a visita para o Paraguai como uma incógnita nessa trip. Eu não
conhecia o lugar, e levar um grupo onde você não conhece é, no mínimo, intrigante. Dia 30 de dezembro, sexta-feira.
De
propósito sequer reservei hotel. O objetivo principal era visitar as ruínas
jesuíticas daquele país, as de Trinidad e Jesus de Tavarengue. Cheguei a fazer
três ou quatro roteiros diferentes para chegar até lá. Finalmente, e com a
garantia de que havia uma balsa em Corpus, mais perto de San Ignacio, resolvi
que atravessaríamos por ali da Argentina para o Paraguai.
Faríamos
pouco mais de 50 km na ida, e depois o mesmo na volta, passando a fronteira
entre Corpus e Bella Vista. E assim tentamos.
Antes,
porém, de partir para a estrada, fomos até as ruínas jesuíticas de San Ignacio
Mini, não muito distante de nosso hotel e também da saída da cidade. Eu e a
Carmo já conhecíamos, mas a turma não. Curtiram o ambiente e a história, e
partimos.
Deixando a Pousada de San Ignácio Mini |
Museu das ruínas jesuíticas de San Ignácio Mini |
As ruínas de San Ignácio Mini |
A
estrada começa difícil, sem acostamento e com muitas subidas e descidas. Já
fazia calor. Depois de uns 10 km dobramos à esquerda em direção a Corpus e ao
rio Paraná, até um pequeno porto, para pegar a balsa. Antes fizemos a migração,
agora registrando a saída da Argentina. Do outro lado, em terras paraguaias,
fizemos o registro de entrada naquele país.
Travessia do rio Paraná, a caminho do Paraguai |
Até
ali tudo tranquilo, mais de 20 km de pedal, com muito calor, mas chegando ao
povoado de Bella Vista, o tempo começou a virar, e o chaparrão parecia
inevitável.
Antes
de entrar no centro da cidade, avistamos um “comedor”, e ali almoçamos uma
tradicional milanesa, a R$ 10,00 por pessoa...
Difícil
foi lidar com o dinheiro, pois muitos disseram que não haveria necessidade de
trocar guaranis, pagando as despesas no Paraguai com os pesos argentinos. Na
prática não funcionou, mas com um jeitinho, conseguimos pagar com pesos mesmo.
A
relação cambial estava assim: um real compra cinco pesos, ou mil seiscentos e
noventa guaranis.
Depois
do almoço continuamos. Até ali já tínhamos percorrido 30 km. Preocupados com a
história dos guaranis (moeda), ficamos de olho se achávamos casa de câmbio.
Somente
quando entramos em Obligado, já no centro da cidade, conseguimos um caixa
eletrônico do banco Itaú. Três ou quatro de nós conseguiu sacar o dinheiro,
entre eles eu. Dividimos entre todos os dez. Sim, estávamos em dez, porque o
Augusto, na noite anterior, já havia adiantado que não teria pique para seguir
conosco até o Paraguai. Entendi e deixei-o à vontade. Permaneceu no mesmo hotel
e ficou de preparar uma “ceia” de ano novo para nós.
Disse
que o dia estava diferente, não? Pois é, primeiro porque já havíamos circulado
por estrada asfaltada, movimentada, sem acostamento; depois estrada de chão e
outra de pedra. Pegamos muito sol e depois muita chuva. Outra coisa: quando
fomos atravessar a fronteira, ao pagar o bilhete, fomos avisados de que a balsa
não funcionava aos sábados e domingos...
Plano
B. Obrigatoriamente teríamos de voltar por Encarnacion (Paraguai) e Posadas (Argentina), distante 30 km. Foi ali mesmo no centro de Obligado que a Manu me disse
que não iria conosco conhecer os dois sítios arqueológicos da região; preferia
fazer o de Trinidad, à beira da estrada, em direção a Encarnacion, mas não iria
entrar mais 12 km (24 km ida e volta), para conhecer as ruínas de Jesus; disse
que não se sentia bem e disposta para aguentar mais tanta coisa; no dia anterior andou forte com os meninos, na frente.
Na
hora, confesso, fiquei chateado; teria que tomar uma decisão. Claro que a
primeira coisa que disse, foi a de que eu não a largaria sozinha naquela
região. Foi quando o Juliano, que estava ao seu lado, disse que a acompanharia.
Disse “tudo bem”, e me afastei deles para ver se conseguia tirar o dinheiro do
caixa eletrônico.
Depois
percebi que ela estava chateada, chorando, e senti que não fui bem entendido.
Falei que eu estava chateado sim, mas não bravo com ela; é que eu gostaria que
ela aproveitasse toda a viagem. Ir tão longe e não chegar ali, tão perto. Já
havia deixado o Augusto em São Ignacio, e embora ele seja bem “susse”, e eu o
conheça há tanto tempo, sempre fica aquela pontinha de frustração, talvez
por ter feito uma programação muito forte, ou que tenha falhado em alguma
coisa.
Nem
bem deixamos a cidade e pegamos a estrada, e o mundo desabou; muita chuva, mas
mantivemos o pique e continuamos mesmo assim. Tinha um bom acostamento e seriam
perto de 10 km até a entrada para as ruínas de Jesus de Tavarengue. Antes de
completarmos esse trecho, a chuva parou e chegamos a Trinidad. Preferimos
garantir e ver as ruínas dali primeiro, para depois ir até a outra.
Ao chegar vi um hotel ao lado, bem simples, mas o suficiente para nós. Resolvi mudar os planos, e considerando que o grupo não vem descansando, pedalando todos os dias, e também o que aconteceu com a Manu, entendi por bem ficar por ali mesmo. No outro dia visitaríamos as outras ruínas da região, e seguiríamos até Encarnacion, atravessaríamos para Posadas, na Argentina, e tentaríamos encontrar uma condução, talvez ônibus de linha mesmo, para fazer os últimos 30 km até San Ignácio.
Deixamos as tralhas no hotel (bem ruim por sinal...), e fomos visitar as ruínas, cada um ao seu tempo. Jantamos no hotel mesmo, e o jeito foi descansar. 53 km no dia.
Ruínas da Redução de Trinidad |
Chegamos
ao último dia do ano, mas não o último da expedição Missões. Hora de deixar o
Paraguai e voltar para a Argentina, mais precisamente San Ignacio, onde o
Augusto nos esperava e faríamos uma confraternização de fim de ano.
Como
já havia comentado, não pudemos voltar pela balsa de Bella Vista, por ser um
sábado, então deveríamos ir até Encarnacion, ainda no Paraguai, e depois
Posadas, na Argentina, atravessando a ponte que liga os dois países; uma
atração à parte.
Primeiro
fomos até as ruínas jesuíticas de Jesus de Tavarengue, 12 km de distância da de
Trinidad, onde estávamos hospedados. Deixamos as bagagens no Hotel, para
facilitar a jornada, e seguimos.
A caminho de Jesus de Tavarengue |
Chegada a Jesus de Tavarengue |
Ruínas da Redução paraguaia de Jesus de Tavarengue |
Peças do Museu |
Fizemos a visita à bela redução em ruínas e voltamos; pegamos nossas bagagens e fomos para a estrada.
Felizmente
não choveu nesse dia, e também não estava tão quente. O pedal saiu tranquilo.
Paramos para almoçar num ótimo restaurante com bufe livre e por quilo, chamado
Império, que fica junto a um posto de gasolina, na estrada mesmo. Cerca de 35
km depois chegávamos à cidade de Encarnacion, onde fomos direto procurar a
ponte para a travessia.
Almoço delicioso no caminho |
Chegando em Encarnación |
Chegada à ponte que divide Argentina do Paraguai |
Bem,
aí veio o primeiro problema do dia. Ao chegarmos à ponte, pensamos que seria
apenas entregar a papeleta na migração, confirmando nossa saída do país, mas um
policial abordou um dos nossos parceiros, e percebi que ele perguntou: - Você
não escutou meu apito? Não podem seguir pela ponte, é proibido.
Reunidos,
passamos a dialogar com o policial, que depois ainda chamou seu superior. Não havia
jeito, não tem como passar com bicicletas; somente de ônibus ou trem. Teríamos
que voltar para a cidade e ver como fazer. Insistimos por ali, conversamos
mais, até que o policial chefe disse que poderíamos tentar pegar o ônibus de
linha; que teríamos de seguir de dois ou três por vez, já que se trata de
ônibus urbano, simples, sem bagageiro.
Compreendemos
e ficamos aguardando.
Menos de dez minutos e chegou o primeiro. Rapidamente chamamos as meninas para subirem e um dos homens do nosso grupo para seguir junto. Ajudamos a embarcar as bicicletas pela porta de trás, orientados pelo motorista (nem sei como couberam). Felizmente os primeiros quatro estavam encaminhados...
Menos de dez minutos e chegou o primeiro. Rapidamente chamamos as meninas para subirem e um dos homens do nosso grupo para seguir junto. Ajudamos a embarcar as bicicletas pela porta de trás, orientados pelo motorista (nem sei como couberam). Felizmente os primeiros quatro estavam encaminhados...
O ônibus |
Mais
um pouco e passa uma camionete vazia, com apenas o motorista e a caçamba também
vazia. Perguntei ao policial se a gente poderia pedir carona. Ele não só
consentiu como parou o motorista e solicitou que nos transportasse. O sujeito
era muito simpático e solícito, descobrimos depois que era professor de
Educação Física.
Ajudou
a embarcar cinco bicicletas. Fomos em quatro na Camionete, sendo que dois na
frente e dois na caçamba junto com as bicicletas (eu e o Henri). Uma das
bicicletas foi no ônibus que veio logo atrás. Dois companheiros foram lá. Ufa!
Todos na Argentina, na simpática cidade de Posadas.
A carona |
A ponte |
Chegou
a hora de procurar a Rodoviária. Já havia prometido ao grupo que não
pedalaríamos esses mais de 60 km até San Ignácio. Até a estação, o total do dia
já havia chegado aos 70 km.
Circulando pela cidade de Posadas - Argentina |
Na
Rodoviária começamos a procurar alguma empresa que fizesse o percurso e
conseguisse levar as dez bicicletas. Essa sim era uma missão quase impossível.
Realmente, imaginar colocar esse número num ônibus regular, no último dia do
ano, não era coisa fácil. 17h35 era o horário do ônibus.
Se
a situação parecia complicada, quando o ônibus parou no seu terminal de
embarque, percebemos que a coisa seria pior ainda. Era um daqueles enormes, altos,
com dois andares para passageiros, ou seja, sabidamente com apenas um maleiro,
pequeno e estreito.
Conseguimos
convencer os simpáticos funcionários da empresa, o motorista e o cobrador (era
um pinga-pinga), que desmontando as bicicletas, e sem os alforjes, nós
conseguiríamos a proeza.
Certamente
nenhum de nós acreditava, e tínhamos menos de 15 minutos para o intento, mas
com muito trabalho dos parceiros de cicloviagem, e principalmente do Henri, que
entrou dentro do bagageiro, e pacientemente organizou a coisa, tudo se
resolveu. Nem perguntem como, mas lá estavam todas as dez bicicletas. Cada um
levou seus alforjes consigo, e lá fomos nós...
Quase
uma hora e meia depois desembarcamos na pequena Rodoviária de San Ignácio, à
beira da estrada. Num piscar de olhos e todas as bicicletas estavam fora do
ônibus. Foi um tal de quadro pra lá, roda pra cá, mas cada um achou suas
“peças”, e em alguns minutos já chegávamos ao Hotel onde o Augusto nos
esperava.
Rodoviária de San Ignácio Mini |
Portal de entrada da cidade jesuítica |
O Augusto à nossa espera |
Ele
havia comprado alguns condimentos que pedi antecipadamente. O Neimar ajudou com
o macarrão e o molho ao sugo, e eu preparei um peixe. Perto da meia noite
ceamos e fizemos o famoso brinde de passagem de ano. Muito legal!!!
RETORNO
AO BRASIL
Segunda-feira,
dia primeiro de janeiro de 2017, e pegamos a “ruta 12”, para retornarmos ao
Brasil. Seria um dia difícil, e nós sabíamos disso. A última barca de San
Javier para Porto Xavier partia 17h00 (horário da Argentina).
Ocorre
que em função da passagem do ano, o hotel serviu o café apenas a partir das
08h00. Acabamos por demorar a sair.
Como
previsto e avisado no dia anterior, ainda tínhamos por conhecer as ruínas de
Loreto, cuja entrada ficava junto à estrada, 9 km depois; mais 3 km para
dentro.
O
amigo e parceiro de expedição, Juliano, deixou o grupo nesse dia. Dali
de San Ignacio ele pegou um ônibus até Puerto Iguasu e de lá seguiria a Foz do
Iguaçú para pegar um avião de volta a Curitiba. Já estava previsto, pois
deveria voltar às suas atividades profissionais.
O
dia estava ensolarado e já muito quente pela manhã. Chegamos à pequena
estradinha, percorremos os 3 km e chegando à entrada da redução, percebemos
algo estranho: não havia qualquer movimentação. Pode Isso? Estava fechada em
função do feriado... Putz! Justamente quando há uma maior movimentação de
turistas. Soube, então, que todas as reduções jesuíticas argentinas estavam
fechadas.
Mas
como nosso santo é forte, tinha um rapaz cuidando do lugar, e quando fui
conversar, ele compreendeu a situação e deu uma oportunidade a nós. Pediu que o
acompanhasse e, desviando da parte administrativa que estava fechada, pegamos o
mato lateral e adentramos na parte onde ficavam as ruínas. Beleza! Na saída dei
um “mimo” de cem pesos pra ele.
Foi
muito bom ter essa oportunidade. As ruínas de Loreto são diferentes de todas as
outras, tanto do Brasil, como da própria Argentina e do Paraguai. Por que? Lá
as autoridades entenderam por bem em não arrumar o que o tempo ou os vândalos
destruíram. Simplesmente cuidam para que não se desmanche ainda mais.
Assim,
é possível compreender melhor a forma das construções, posto que não houve
intervenção da engenharia moderna. As árvores cresceram dentro e ao redor das
ruínas, não ficando resquício do pátio grande e gramado, comum nas demais
ruínas visitadas.
Hora
de voltar para a estrada; o tempo está passando, e o calor aumentando. Próximo
objetivo seria o trevo de Santa Ana, mais uns 5 km pra frente. Ao chegarmos,
parte do grupo resolveu ficar por lá mesmo e tentar uma condução para San
Javier, entendendo que com o forte calor, certamente iriam atrasar o grupo e
perder a balsa. Ficaram o Augusto, a Carmo, a Sofia e a Manu. Pouco antes de
sairmos do posto onde estávamos parados em Santa Ana, a Fer, solidária com as
meninas, resolveu ficar, pois também ficou em dúvida da possibilidade de
“aguentar o tranco”.
Foram
38 km dali até a cidade de Leandro N Além, na Ruta 4, e, acredito, o pior
trecho de toda a viagem. Estávamos eu, o Wendell, o Fábio, o Henri e o Neimar.
O calor bateu pra cima dos 40 graus. Haja água para tudo isso. Era preciso
diminuir a temperatura do corpo, então a água ia mais para a parte externa do
que a interna.
Quando
estávamos arrastando pela estrada, derretendo, a 5 km de Além (e não do além,
kkk), passa uma camionete “recheada” de bicicletas; era nosso grupeto que ficou
em Santa Ana. Eles pararam na minha frente e perguntaram se queriam que
levassem meus alforjes. Consenti prontamente, pois era um alívio diminuir o
peso àquela altura.
Pedi
para que atendessem o Neimar, que seguia à frente uns 300 metros, e que parecia
caído no acostamento da estrada. O Fábio e o Henri, certamente os mais fortes
do grupo, que tinham disparado na frente, naquele momento estavam pouco atrás,
em função do furo de um pneu. O Wendell também já havia os alcançado e passou a
seguir junto aos dois.
O
Neimar estava bem, apenas exausto também pelo calor; parou para descansar,
desceu da bicicleta e se jogou ao chão à sombra de uma árvore. Ele também
largou seus alforjes com o pessoal embarcado.
Os
outros três seguiram carregados.
Sofregamente chegamos a Além. Ufa! Precisávamos dessa parada estratégica. Ficamos um bom tempo refestelando-nos dentro da loja de conveniências de um posto de gasolina, que tinha ar condicionado. Muita hidratação, salgados e doces, e estrada novamente.
Sofregamente chegamos a Além. Ufa! Precisávamos dessa parada estratégica. Ficamos um bom tempo refestelando-nos dentro da loja de conveniências de um posto de gasolina, que tinha ar condicionado. Muita hidratação, salgados e doces, e estrada novamente.
Ai
tudo mudou. A parada estratégica, o corpo em temperatura mais baixa, combinado
com o sol que começou a ficar encoberto por nuvens cinzentas de chuva,
prenunciando um novo chaparrão, mais o fato de que o trecho tinha um
pouco menos de subidas, deixou tudo mais tranquilo.
Saí
na frente alegando que era o mais fraco dos cinco, enquanto eles se preparavam
ainda para partir. Pouco tempo depois meu suplemento de água caiu do bagageiro,
mas não me importei com isso, e não parei para apanhar; “soltei o sarrafo”, como
se diz.
Aproveitei
o fato de me sentir renovado, e também com a chuva que veio e refrescou ainda
mais, e fui me adiantando. Olhava para trás, e só quando dava percebia um
parceiro ao longe, talvez uns 2 km; acreditei que era o Neimar, mas não era
possível identificar.
Quando
havia feito 26/27 km, desde o posto, olhei no relógio e vi que tinha se passado
apenas uma hora, ou seja, a média estava bem alta, e chegaríamos com folga para
a travessia. Dali para frente fui administrando, e comecei a perceber a chegada
dos demais. Via primeiro três ciclistas, e depois outro sozinho.
Quando
estava a três ou quatro quilômetros do trevo de San Javier, o Wendell e o Fabio
encostaram em mim; no trevo esperamos e logo o Neimar e o Henri se juntaram a
nós. Comemoramos o feito. Foi difícil, mas divertido. Curtimos.
Fomos
até a balsa, 3 km da cidade, e completamos 48 de trecho, e 105 km no total do
dia. Fizemos a parte burocrática da aduana. Passava um pouco das quatro da
tarde, e a balsa saiu meia hora depois.
Quando
chegamos do outro lado, em Porto Xavier, ao descer, montado na bicicleta, o
Henri foi ao chão. Na verdade ele disse que a bicicleta foi quem caiu, ele não
(kkk). O piso era de metal e estava molhado; realmente complicado de se
equilibrar... (ele não se machucou, felizmente).
Descobrimos,
então, que o grupo da carona chegou não muito antes, pois esperaram muito tempo
pela balsa do lado argentino.
Fizemos a confraternização da chegada numa pastelaria ao lado do
hotel, único lugar aberto àquela hora na cidade, que vivia o feriado de
primeiro dia do ano.
Era
o começo do fim de nossa expedição.
De
Porto Xavier o objetivo passou a ser apenas voltar até Santo Angelo para pegar
o ônibus para Curitiba. As passagens já estavam compradas para terça-feira, dia
3, final da tarde. Estávamos na segunda-feira, dia 2, a 130 km de Santo Angelo.
Minha
programação previa uma parada em Cerro Largo, praticamente no meio do caminho,
para no dia seguinte chegar ao destino.
Conversei
com o grupo, expus todas as possibilidades, e, por fim, resolvemos seguir
primeiro por estrada de chão até São Paulo das Missões, e dali para frente ver
o que fazer, dependendo das condições de cada um.
Foi
um passeio muito gostoso, por paisagens maravilhosas daquela estradinha rural.
Muitas subidas, é claro, mas fomos parando de pouco em pouco, e tínhamos a
vantagem de ser uma região arborizada. Encontramos lugar para hidratação
somente no lugar chamado Planalto.
O Neimar seguia à frente e viu a Sociedade de Bocha local; estava fechada. Perguntou a um senhor e ele prontamente se identificou (Sr. Stein, acredito) e disse que iria pegar as chaves da sociedade e abri-la para nós. Muito simpático e atencioso. Que maravilha! Sombra e água fresca... Água? Que nada, foi é cerveja mesmo, hehe.
Pudemos então nos refrescar, baixar a temperatura do corpo e seguir por mais 15 km até a cidade de São Paulo das Missões, felizmente morro abaixo, depois de mais umas subidinhas...
Chegando
ao primeiro trecho de asfalto, recebemos a notícia dos que chegavam, de que
havia furado o pneu da bicicleta da Carmo; o Neimar ficou com ela ajudando no
reparo. Ficamos à sombra de umas árvores esperando. Muito calor mesmo.
Todos
juntos descemos até o centro da simpática cidade, e procuramos lugar para comer
(acredito que já passava de uma da tarde). Encontramos o restaurante do Gringo,
e por ali ficamos; tivemos apenas que aguardar um pouco o pessoal do churrasco
assar umas carnes para nós.
Depois
do almoço continuamos por ali, agora na frente do comércio, socializando com o
pessoal local. Achamos por bem terminar por ali mesmo nossa jornada ciclística
pelas Missões.
Então
o Augusto foi fazer seus contatos... Conseguiu com uma empresa de turismo
local, um micro-ônibus para o transporte até Santo Angelo. Negociou o preço e
aceitamos.
É
claro que o Henri e o Fábio, nossos fortões (rs), preferiram seguir pedalando
por mais 100 km até o destino final. Consenti. Desde os preparativos da viagem,
avisei a todos que seria dessa forma, ou seja, ninguém precisaria seguir à
risca o programa. Na verdade nem eu mesmo segui o cronograma, kkk.
Para
aqueles que não me conhecem, ou não sabem como são programadas essas viagens de
cicloturismo em grupo, eu apenas convido os parceiros, ou eles se convidam
mesmo, porque são cara de pau (kkkk), e eles aceitam minha proposta, ou não;
seguem juntos, mas podem fazer algo do seu jeito, desde que seja de comum
acordo durante a trip.
Vocês
viram nos relatos anteriores que isso aconteceu. Cada um paga suas despesas de
hospedagem, alimentação, transporte e outras diversas, e ainda cuidam de suas
bicicletas com todos os apetrechos necessários. Durante a viagem a gente se
ajuda... Não há custo adicional.
Bem,
voltando lá para o restaurante... Enquanto esperávamos pelo transporte, o Henri
e o Fábio pegaram suas bicicletas e partiram. Felizmente aceitaram o pedido
para deixarem suas bagagens; assim seguiram mais leves para o intento.
Continuamos
com a socialização, até que apareceu o Luciano André, locutor da rádio Cantão,
lá mesmo de São Paulo das Missões. Se nossa presença já estava fazendo
“sucesso”, por nossas histórias a contar, com a presença do Luciano ficou
melhor ainda. Digo isso porque ele tirou fotos do grupo e os moradores que
estavam por ali, inclusive com a família dona do restaurante; todos muito simpáticos
e receptivos.
O
Luciano resolveu fazer uma entrevista ao vivo com o “chefe” da expedição, junto
à rádio. Pegou o celular, ligou para seu colega no estúdio, interrompeu a
programação que estava no ar, e lá fui eu embarcar nessa outra aventura deliciosa.
Felizmente
não fiquei acanhado e acho que me dei bem, hehe. O senhor dono do restaurante
pegou o rádio portátil e levantou-o até seu ombro, e feliz escutava a
entrevista por ali e ao vivo. Via-se em seus olhos um brilho de alegria.
Emocionante! Publiquei nas redes sociais parte da entrevista, gravada pela Fernanda.
Para
completar, já que estava me sentindo uma “estrela”, resolvi contar para o
Luciano que tinha feito uma música em homenagem a essas pedaladas pelo mundo, e
perguntei se ele não poderia tocar na rádio.
Disse
a ele que era só seu colega procurar no Sound Cloud, com o título “Vamos
Pedalar”. Não deu um minuto e estava lá minha música, cantada por mim, sendo
tocada pela primeira vez numa rádio. Show! Salva de palmas no final. E o senhor
lá, vibrando com o radinho no ombro...
Nessas
horas que eu digo: a bicicleta aí é a coisa menos importante...
Hora
de embarcar. O ônibus chegou, ajeitamos as bicicletas do jeito que deu, e
pegamos a estrada, já saudosos com a bela recepção em São Paulo das Missões.
Outra
coisa. Quando o Augusto foi pedir a condução, o proprietário da empresa de
ônibus informou que estava saindo um grupo para o Rio de Janeiro na manhã
seguinte, e como tinha muitos lugares, se quiséssemos poderíamos antecipar
nossa volta a Curitiba. Deixamos para decidir ao chegar a Santo Ângelo, pois
teríamos primeiro ver se conseguiria cancelar as passagens do ônibus de linha.
Aceitamos.
Achamos o preço cobrado compatível e chegaríamos mais cedo, dando tempo para
aqueles que voltariam ao trabalho poder descansar um pouco antes de pegar o
trampo no dia seguinte.
Fui
até a Rodoviária assim que chegamos; o Wendell e o Augusto me ajudaram.
Aproveitamos a carona do micro-ônibus e pegamos nossos mala-bikes do guarda
volumes.
De
noite passeamos pela cidade de Santo Ângelo e fomos jantar, e no dia seguinte
ainda sobrou tempo para umas fotos junto à linda igreja, reprodução da igreja
jesuítica de São Miguel Arcanjo, e o museu, ambos muito próximos ao Hotel que
pernoitamos.
Viagem
tranquila na volta a Curitiba, sendo que também socializamos com o pequeno
grupo que excursionava. A pedido, o ônibus passou por dentro de Curitiba para
seguir viagem a São Paulo e Rio de Janeiro, podendo deixar os cicloturistas o
mais próximo possível de suas residências. Já era início da madrugada.
Mais
uma cicloviagem para ficar na memória, e a região onde estivemos é pura
história da colonização brasileira e sul americana.