MACEIÓ A MARAGOGI
A proposta de destino escolhida
por nós foi a praia de Maragogi, famosa por suas galés, as piscinas naturais
que aparecem na maré baixa, e que viram uma grande diversão para os turistas. A
faixa de arrecifes é muito longa na costa de quase todo o Nordeste, e muitas
praias tem nas piscinas naturais, com visitação por barcos ou jangadas, sua
principal atração. Seguindo apenas pela estrada teríamos mais de 130 km pela
frente, mas o dia prometia boas surpresas.
Amanheceu chovendo em Maceió, mas quando partimos, pouco antes das oito horas, já não chovia, mas estava um clima mais ameno, com o sol encoberto e o vento favorável. Perfeito para pedalar, principalmente em trecho plano. Em alguns trechos deu uma garoadinha. A partir de Pajuçara, várias praias existem na sequencia: Ponta Verde, Ponta do Percevejo, Jatiúca, Cruz das Almas, Jacarecica, Guaxuma, Garça Torta, Riacho Doce, Pratagi (famosa praia da sereia), Ponta do Prego, Costa Brava, Paripueira, Sonho Verde e Tabuba.
Depois de mais de 20 km apareceu um sujeito de moto, que diminui a velocidade perto da gente, e começou a conversar, logo dizendo que também era cicloturista e não aguentou deixar de bater um papo conosco e saber qual era nosso destino. Era o Lobo. Conhecedor da região, deu ideias para nós seguirmos pelas praias, principalmente a do “carro quebrado”, quando teríamos paisagens deslumbrantes e com certeza cortaríamos caminho.
O Lobo seguiu seu caminho, dizendo que iria buscar sua companheira Dulce, que mora em Paripueira, que também estava em nosso caminho, e talvez cruzasse novamente com a gente. Logo em seguida demos uma parada, tomamos um caldo de cana, e voltamos para a estrada. Pouco depois o Lobo apareceu de novo, no sentido contrário, com a Dulce na garupa. Muito gentil ofereceu seguir na frente para indicar o local exato que deveríamos pegar. Demonstrou ter ficado preocupado com nossa demora, e então contei que tínhamos parado. Não era tão perto ainda, mas ele fez questão de nos acompanhar.
Entramos, então, como indicado, numa outra estrada, no sentido de Barra de Santo Antonio. Atravessamos a ponte e passamos para o lado da praia. Fizemos as despedidas por ali mesmo, à beira da praia, tirando, inclusive, fotografias do casal. Indicou que deveríamos seguir o quanto antes, aproveitando a maré, para lá no final, na praia do Morro, pegar uma balsa para a Barra do Camaragibe, atravessando o rio do mesmo nome. Seguimos, mas não muito tempo depois, ao chegarmos num trecho de pedras, lá vinha uma moto atrás da gente: era o Lobo. Eles não aguentaram ver a gente partir, ficaram por um tempo observando, deu uma “coceira” danada e foram atrás da gente. O espírito aventureiro bateu mais forte. Eles que já pedalaram pelos sertões do Nordeste, entre outras aventuras de bicicleta, quiseram ficar um pouco mais conosco, deixando de lado seus afazeres. Quase no final, quando paramos para um gostoso banho de mar numa daquelas praias desertas, eles pegaram um atalho e deveriam chegar a uma estradinha de areia, onde poderiam retornar sem se preocupar com a maré e passagem pelas lisas pedras da costa.
Realmente valeu à pena o percurso. As praias do Carro Quebrado, Pedra do Cebola, Ponta do Gamela e do Morro, são muito bonitas. Antes de partir, a última dica do Lobo: não precisam chegar até o final da praia, antes há um caminho de areia batida, que leva até a pequena balsa de transporte de pessoas.
Dois homens da região, também de bicicleta, seguiam na mesma direção, e também entraram no caminho indicado, deixando ainda mais claro que estávamos corretos. O barquinho logo atravessou o rio para nos pegar, e fomos os cinco, cada qual com sua bicicleta, para o outro lado, na Barra do Camaragibe, onde aproveitamos para almoçar e descansar um pouco. Nesse momento choveu bastante, mas logo o sol voltou a reinar.
Ficamos por duas horas por lá, e justamente às 14:00 continuamos nossa cicloviagem, por uma estreita estrada, de asfalto, proporcionando uma tranquila pedalada. Passamos por diversos povoados, como São Miguel dos Milagres, Porto da Rua, Tatuamunha, para, finalmente, chegarmos a Porto de Pedras. Lá atravessamos de tótótó novamente, cruzando o rio Manguaba, atingindo o Município de Japaratinga. Da praia até a vila, foram 10 km de estrada de pedra, difícil de circular de bicicleta; em alguns trechos achávamos, no cantinho, um pouco de areia, mas no geral, era muito chato; melhor era pedalar de pé. Nesse ponto encontramos com a estrada principal, a AL 465, mais 11 km e chegamos ao nosso destino. Já na entrada emparelhei com um ciclista, que também seguia pelo acostamento. Perguntei sobre uma boa e barata pousada. O Honório, esse era seu nome, logo indicou a São Francisco, apresentou seu cartão, dizendo ser garçom e também agente de passeios de barco para as piscinas. Um verdadeiro “faz tudo”. A indicação pareceu boa, negociamos o preço, e resolvemos ficar.
Depois de percorridos 101 km no dia, era hora do merecido repouso. Bicicletas lavadas, banho de piscina, arrumados, e fomos à beira da praia, onde existem várias opções de refeições. Fizemos nosso lanche e retornamos. No caminho percebemos uma escuridão na região, justamente da rua da pousada. A suspeita se confirmou e parece que somente naquela rua e algumas adjacentes, faltava energia. O proprietário, seu Francisco, já estava ligando para a companhia, que disse já haver recebido diversas reclamações, e estavam enviando funcionários para atender.
A Carmo e o Rubens acabaram por irem se deitar mais cedo, mesmo na escuridão, e eu, para variar, fiquei contando histórias para o proprietário, um funcionário, e um casal de hóspedes, o Sid e a Suzy, que com a pequena filhinha Thainá, veio de São Paulo para curtir um descanso nas belas praias do Nordeste. Era cedo ainda, por volta das vinte horas quando chegamos, e já estavam sem luz há quase uma hora. Será que voltaria energia logo? Como dormir sem ar condicionado? O tempo foi passando, e as histórias já estavam dando sono nos ouvintes e em mim também. Fui para o quarto lá pelas dez. Logo peguei no sono, pois o cansaço era grande.
Uma hora da madrugada e nada da energia; suava adoidado. Já tinha observado a Carmo ir ao banheiro por duas vezes. Ela e o Rubens também dormiam mal. Mesmo com a porta e janela abertas, não havia refresco. Ficar descoberto era ataque certo dos mosquitos; se cobrir era certeza de passar muito calor. Nosso quarto ficava na frente da pequena piscina da Pousada, e não tive dúvidas: tibum!!! Muito refrescante. Logo percebi que uma camionete com uma escada na caçamba circulava pela rua. Parou na frente da Pousada, continuou sem fazer nada; retornou e seguiu de novo. O Rubens, que nesse momento estava de pé ao meu lado, fora da piscina, disse que tinha certeza que eles estavam procurando o ponto onde houve o desligamento. Seria um procedimento muito simples, acionando a chave. Minutos depois finalmente a energia foi restabelecia. Ligamos o ar condicionado e em segundos, praticamente, já estávamos dormindo. Ufa!