CHAPADA DAS MESAS –
Última Parte
Carolina – 20 e 21/09/2013.
Exatamente às 07h30
deixamos a Pousada, e a camionete do Val já estava estacionada na frente.
Sorridente, o Val começou a nos ajudar na colocação das bicicletas na caçamba.
No visual ficou fácil de imaginar como colocá-las, com uma de cada lado do
quadriciclo e outra na parte de trás do mesmo, aproveitando o espaço deixado
pela grade traseira da camionete, que estava abaixada em função do comprimento
do veículo.
O Val tinha muitas
cordas, e sabia fazer nós perfeitos, típicos daqueles trançados por
caminhoneiros ou quaisquer outros profissionais de transportes de cargas. As
bicicletas ficaram muito bem presas, não esboçavam qualquer movimento.
Conseguimos ainda encaixar nossos alforjes no meio de tudo aquilo, e que também
ficaram seguros.
Por fim embarcamos,
atravessamos para o outro lado da pista, onde estavam os companheiros do Val,
com a outra camionete. A Gorete entrou na nossa e os demais seguiram com o
Cleydson. O primeiro objetivo passou a ser as cachoeiras do Itapecurú, cerca de
70 km dali de Riachão, em direção a Carolina, pela BR 230, a Transamazônica,
dentro do Parque Nacional da Chapada das Mesas.
O caminho é
praticamente reto, e a paisagem é espetacular, principalmente quando se avista alguns morros de pedra à frente, bem distante; formações típicas da chapada.
O complexo onde ficam
as cachoeiras está a menos de 2 km da estrada, e está localizada no povoado de
São João da Cachoeira. Na estrada de chão batido entramos antes na parte de
cima das cachoeiras. Lá também existe uma pequena estrutura para atender
turistas, com espaço para dormir e também para refeições. Os jardins são bem
cuidados e uma pequena represa feita no rio, deixa o espaço ainda mais
charmoso. Caminhamos um pouco numa trilha para chegar até o alto de uma das
cachoeiras. Linda vista do alto, e impressionante a força das águas.
Eu e o Val |
Camionete carregada |
Dona Marilda, Cleydson e Val |
Carmo e Neimar |
Logo depois embarcamos de novo e fomos até o recanto das cachoeiras gêmeas, na parte baixa. Isso mesmo; são duas cachoeiras, muito parecidas, sendo que ambas tem cerca de 10 metros de altura, com grande volume de água. O rio Itapecurú, na parte de cima, onde fomos antes, num determinado momento se divide em dois, criando as duas cachoeiras. Beleza rara.
Paga-se uma pequena
taxa de permanência no recanto. Tem infraestrutura de chalés, bar e restaurante,
com mesas estrategicamente instaladas, próximas às águas do rio. Há várias
cordas presas em ambas as margens do rio, que permitem aos banhistas se
segurarem e evitar serem carregados pela forte correnteza provocada pelas
quedas d’águas. De qualquer forma o banho é seguro, principalmente junto às
bancas de areia, nas piscinas naturais, e até mesmo junto às pedras bem debaixo de uma das cachoeiras.
Por se tratar de uma
sexta-feira, havia pouco movimento de pessoas, e ficamos com o espaço quase
todo para nós. Nadamos, bebemos, comemos, cochilamos, jogamos dominó e tantas
outras coisas; até “fazer nada” fizemos. Vimos muitos pássaros, que próximos
faziam seus ninhos em cachos nas árvores; também algumas iguanas, que já são
“de casa” e se exibem para os visitantes.
No final da tarde
“levantamos acampamento” e fomos procurar abrigo na cidade de Carolina, distante
30 km dali. Como o fim de semana estava chegando, os turistas também. Achamos
por sorte uma Pousada para pernoitar, mas fomos avisados que seria possível
apenas por uma noite.
Os principais atrativos
de Carolina, como a Cachoeira da Pedra Caída, ficam a 30 km da sede, em direção
a Estreito. Levantamos cedo no sábado, e seguimos na direção dos mesmos. O
caminho novamente demonstrou ser espetacular, sendo possível avistar o belo “Morro do Chapeu”. Ele é a marca registrada da Chapada das Mesas; um símbolo importante. Um morro enorme, com cerca de 365 metros de altura, chapado, que se destaca no meio de uma área plana do cerrado. Passamos pela entrada
das Cachoeiras da Prata e São Romão, mas não chegamos a pegar a estrada de chão
e areia, porque seriam mais de 30 km até lá.
Entramos numa pequena
estrada à esquerda, de areia fofa, e circulamos por 2 km até o recanto do Dodó,
onde existem algumas pequenas e encantadoras cachoeiras. Logo que desceu da
camionete, o Val perguntou ao proprietário se ele servia almoço; de preferência
uma galinhada (o Val gosta muito de galinhada). Com a resposta afirmativa, logo
o Val sentenciou: - Vamos almoçar aqui.
Era muito cedo ainda
para uma decisão dessas, e não estávamos no principal recanto de Carolina, a
Pedra Caída. A Gorete tentou dissuadi-lo, entendendo que ele havia se
precipitado em marcar o almoço. Eu, a Carmo e o Neimar pedimos desculpas ao
Val, mas não quisemos reservar almoço para nós, preferimos esperar até o
próximo recanto.
Acompanhados pelo
menino neto do dono, que serviu de guia, seguimos até o pequeno rio que passa
pela propriedade, para conhecer as nascentes de água mineral e as belas
paisagens de pequenas cachoeiras; uma delas, inclusive, a maior, precisa passar
por um pequeno canyon para chegar.
É preciso dizer que
percebemos logo ao chegar no local, que haviam dois ônibus estacionados à beira
da estrada. Ao seguir pelo caminho de areia, cruzamos com muitos jovens, todos
na faixa dos 17 anos de idade, meninos e meninas. Quando estávamos quase
seguindo para as cachoeiras, os primeiros chegaram. Fui conversar com o guia
deles, que era professor. Disse que a gurizada iria subir os morros, numa
trilha de nível médio, para apreciar a vista lá do alto, que era maravilhosa.
Na hora eu e o Neimar
ficamos interessados na escalada. A Carmo alegou que estava com o pé doendo e
não iria. Perguntei se iriam demorar para começar a subida, pois iríamos até as
cachoeiras, e ele disse que seria em seguida, e se fossemos até elas, não daria
tempo de seguir com eles. Disse a ele que se tudo desse certo nós os encontraríamos
na trilha.
Foi o que fizemos.
Seguimos com o grupo do Val até o rio, conhecemos bem o local, de forma rápida,
é claro, devido à ansiedade de encontrar o outro grupo, nos despedimos da Carmo e do
pessoal, confirmando com o Val se eles realmente iriam permanecer mais tempo
por ali, e corremos até a trilha. O mesmo garoto nos guiou até o começo da
trilha, e, serelepe, se adiantou quando começamos a cruzar com os jovens, pois
alegou que iria encontrar seu pai, que guiava o primeiro grupo.
Apesar da nossa idade,
o preparo físico nosso era bem melhor do que dos jovens de Imperatriz, uma
grande cidade do Maranhão, distante 200 km de Carolina. Fomos passando um a um,
mesmo eles tendo saído bem antes. A trilha era íngreme e acidentada, mas
segura. O que dificultava para os jovens era a nítida falta de fôlego, em
função do sedentarismo. Num determinado momento, ou melhor, em mais de um
momento, vimos alguns jovens sendo atendidos pelos adultos, que mediam a
pressão arterial e batimentos cardíacos. Alguns não conseguiram chegar ao topo.
A vista lá do alto
valia realmente à pena. Fantástico! Conversamos com alguns dos jovens que já
haviam chegado ou que estavam chegando ao topo, tiramos algumas fotos,
desfrutamos daquele momento por um tempo e descemos, preocupados com o horário
para não atrapalhar nosso grupo. Na descida voltamos a encontrar com alguns
jovens; muitos não acreditavam quando dizíamos nossa idade, superior a 50 anos.
Tivemos que auxiliar algumas meninas, pois tinham grande dificuldade em
permaneceram de pé na descida inclinada, cheia de areia e obstáculos, que
faziam derrapar.
Voltamos ao
bar/restaurante simples do local, onde encontramos o nosso grupo. O almoço
estava sendo servido para eles, e nós procuramos alguns alimentos leves que
havíamos comprado, e bebemos muita água e refrigerante. Aos poucos os jovens
foram retornando, e deixaram o pequeno local absolutamente lotado. Os
responsáveis pelo grupo deles serviu uma marmita para cada um, que procurava um
canto para escapar do sol e se debruçar sobre a comida, cansados e
esfomeados...
Chegou a vez da última
atração: Pedra Caída. Um complexo turístico encravado na chapada, entre as
formações rochosas, com estrutura de bar, restaurante, piscina natural, chalés,
animais silvestres, mas principalmente, muita beleza natural, entre cânions e
cachoeiras.
O complexo fica muito
perto do anterior, e em alguns minutos já estávamos em seu interior. A primeira
preocupação do Val foi perguntar sobre o pernoite, e a resposta foi negativa. O
jeito era aproveitar o resto do dia e seguir viagem de retorno, pousando em
alguma cidade do caminho.
Fomos orientados sobre
os passeios que poderíamos realizar, e todos dependiam de guia e também de
tempo; tempo não tínhamos. Permanecemos um longo período no outro lugar,
chegamos depois do almoço, e alguns passeios até outras cachoeiras só seriam
possíveis pela manhã. Nessa tarde teríamos duas opções, mas tivemos que
escolher apenas uma: Cachoeira da Pedra Caída.
Parece mesmo um “santuário
ecológico”. O mais impressionante talvez não seja necessariamente a cachoeira
em si, que despenca a cerca de 50 metros de altura, numa piscina natural, entre
paredões rochosos maravilhosos, mas sim o caminho até ela.
A trilha parte da sede, com guia, passa primeiro pelos chalés de hospedaria (muitos estavam em construção, numa nítida ampliação do complexo); depois por entre a mata, com vista especial das montanhas ao redor; por uma ponte pênsil, encantadora, que atravessa um rio, mas infelizmente leva “nada a lugar nenhum”, pois tivemos que voltar para continuar na trilha; passa também pela parte mais bonita, onde passarelas construídas pelo homem, deslizam sobre pedras e pelo rio, entre paredões de pedra, que fazem escorrer pequenas “duchas” de água fresca, às vezes até bem fria, límpida, relaxante.
Por último, a
encantadora cachoeira da Pedra Caída. Para chegar até ela deve-se abandonar
tudo que se carrega, inclusive câmeras fotográficas ou filmadoras que não são à
prova de água. Eu estava com a minha Go Pro, mas mesmo assim as imagens não
foram muito claras (talvez por falta de prática mesmo). É preciso caminhar pelo
rio, com água pelos joelhos ou até mais alta em algum ponto (cordas são
esticadas para favorecer aqueles que não sabem nadar ou tem algum tipo de
dificuldade). Esse trecho é maravilhoso. Aos poucos você começa a escutar o som
das águas que se debruçam na “piscina”, e logo, depois de uma curva, aparece
majestosa a cachoeira.
Em função do horário,
não havia tanta claridade. As imagens da cachoeira vão ficar presentes em nossa
retina para sempre. Cada um brincou ao seu jeito. Felizmente nosso grupo era
pequeno, talvez umas dez pessoas, assim pudemos curtir bem o local (quando
saímos chegou outro grupo, com pelo menos umas trinta pessoas). Poucos como eu,
se atreveram a nadar até bem perto da queda d’água, mesmo porque não era tão
fácil assim – a correnteza e profundidade assustavam mesmo.
Fim de mais uma etapa
de nosso passeio. A aventura sem as bicicletas também valeu muito. Saímos
felizes daqueles passos, de um Brasil lindo, distante, e às vezes esquecido. Cada
lugar deste que conhecemos, damos mais valor ainda às nossas principais riquezas:
o povo e a natureza.