sábado, 29 de dezembro de 2012

QUARTO DIA - Alto Vale do Itajaí


QUARTO DIA – 29/12/2012

118,67 Km. Bom hein? Este foi o total do dia. Dia esse que amanheceu bem mais fresco que os outros; céu nublado, sem vento, sem chuva; perfeito para pedalar. Tudo tranquilo; logo saímos de Ibirama e encontramos a BR 470. Quando estávamos perto de Ascurra, furou o pneu traseiro da bicicleta da Carmo.

Até aí tudo bem, porque é só verificar o estrago e trocar a câmara. A primeira resposta veio com um pedacinho pequeno, porém cortante caco de vidro; agora, a segunda, foi um pouco mais trabalhosa. O “pouca prática” aqui, trouxe câmaras 1.95 e não 1.50. Tá certo, dá para usar. Quando fui encher um pouco, uma delas, minha bomba não conseguia encaixar direito. Peguei a câmara furada, e esta enchia fácil. Resultado: tive que remendar a furada, resultando em mais tempo de parada. Mas também isso não atrapalhou em nada o resto do passeio do dia.

Logo que partimos do local do reparo, uma caminhonete passou buzinando para nós, e vimos que era o Carlos, que nos recebeu em Barra da Prata, e sua família, que se dirigia para Blumenau. Em seguida, já em Ascurra, resolvemos parar para calibrar o pneu e almoçar, pois já eram 11h30. Pois não é que a caminhonete estava parada lá, e a família do Carlos estava almoçando também. Eles voltarão para Barra da Prata passar o ano lá, longe do tumulto dos grandes centros. Abraços para essa família simpática, e que os sonhos se realizem.

Entramos em Indaial, cruzamos toda a cidade, que estava “fantasma”, e seguimos por dentro, à margem direita do rio Itajaí-açú. Logo cruzamos também pela encantadora Blumenau. Mais 10 km e chegamos a Gaspar.

Lembram daquele horário: 16h00? Pois é, a nossa amiga chuva resolveu aparecer pontualmente; primeiro com pequenos pingos, já na saída de Blumenau, e depois, com muitos pingos, e fortes; era chuva “molhada” mesmo. Felizmente sem raios e trovoadas, pelo menos, e até refrescou nossa pedalada até Brusque, aonde chegamos por volta das 17h40. A poucas quadras do final, a chuva, como mágica, cessou. Como uns “pintos molhados”, tivemos que primeiro limpar nossas bicicletas, alforjes e parte das vestimentas, para podermos entrar no Hotel.

Realmente foi um dia bem tranquilo. Bacana percorrer o rio Itajaí-açú, ver algumas de suas corredeiras, e a bela paisagem do entorno do vale. Esse rio ganha um volume grande até chegar a Itajaí, porque é derivado de diversos rios vale acima. Os principais são o Itajaí do Norte, do Sul e o Itajaí do Oeste, que se encontram ali em Ibirama, mas são muitos os rios que os formam, como o Dollmann, o Da. Emma, Ricardo, Bruno, Scharlach, Selin, Hercílio, entre tantos. É uma região de diversas nascentes, com cachoeiras maravilhosas. Muitos dos rios são ótimos para o rafting. Para os amantes dos passeios de bicicleta, a região do Alto Vale é especial, pois são diversas estradinhas, que margeiam esses principais rios, passam por lindas serras, como a da Abelha, e proporcionam momentos de lazer inesquecíveis. 

Deixando Ibirama

Ídem

BR 470 e o rio Itajaí-açú

Grande movimento em direção às praias

Entrada de Indaial

Centro Histórico de Blumenau

Rua das Palmeiras, em Blumenau

Curva do rio Itajaí-açú, e o centro de Blumenau

Chegando a Brusque

Brusque

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

TERCEIRO DIA - ALTO VALE DO ITAJAÍ


TERCEIRO DIA – 28/12/2012

Depois de uma noite bem dormida, estava na hora de seguir em frente. Conversando com o Carlos sobre essa sequencia, ele questionou o porquê de ir até Presidente Getúlio, e não Ibirama, já que seguiríamos depois para a BR 470 rumo a Indaial e Blumenau, pois cortava caminho. Sabe que é verdade? Já conhecíamos Pres. Getúlio e não haveria nada para fazer, e resolvemos realmente ir a Ibirama.

De novo saímos meio tarde, lá pelas nove da manhã, com o céu encoberto e um pouco mais fresco do que nos dias anteriores. Mas isso foi por pouco tempo, porque o sol se fez presente, e o vale do Itajaí do Norte virou um caldeirão. A paisagem maravilhosa compensava o esforço de pedalar pelos morrinhos a beira do rio, em estrada ainda úmida e com pontos em lama. Vale lembrar que estávamos com os mesmos pneus 1.5, slick, da viagem do Leste Europeu, não apropriados para esse tipo de terreno, mas tinha um bom motivo: cerca de 80%, ou mais, do passeio, seria percorrido em asfalto.

Como o percurso do dia já era por nós conhecido, resolvemos criar metas do momento. Assim, a primeira seria atingir um barzinho, situado na confluência da entrada da reserva indígena com a estrada que leva até a serra da Abelha e a cidade de Vítor Meireles. Perto de 12 km. Quase uma hora para chegar lá. Os registros deste trecho, com fotos ou filmes, foram poucos. O “burraldo” aqui esqueceu de carregar a bateria da máquina fotográfica; lembrei que levava a GoPro, e, por ironia do destino, nem bem comecei a filmar, e a bateria também se foi. Isto, podem xingar; eu mereço. Quando voltar para Curitiba, atualizo o blog com imagens que fiz de outra passagem minha pela região...

Chegou o momento de passar por terras indígenas. Para refrescar a memória, gostaria de lembrar que nesta região viviam índios, é claro, mesmo antes do “descobrimento”. A maioria composta por Xokleng (ou Xocréus), mas também Kaingangs, Guaranis e Butucudos. Europeus, a maior parte alemães, italianos e poloneses, que “conquistaram” estas terras do Alto Vale, no final do século XIX, e durante o século XX, não gostavam muito de índios e também de florestas, pois seu cultivo necessitava de campos. Foi assim que se extinguiram muitas espécies animais, em função do desmatamento, e também quase levaram à extinção os índios. A forma original como viviam certamente conseguiram extinguir. Hoje são aproximadamente dois mil descendentes de índios, que vivem na Reserva Duque de Caxias, terras do Município de José Boateux, e também um pouco de Vítor Meireles.

O desmatamento, e o uso irregular das terras, provocaram (e ainda provocam), o assoreamento dos rios e erosões, que levam enchentes cada vez maiores, fácil de se constatar por relatos recentes da história do vale do Itajai-açú, que não preservam cidades desde o alto, como Rio do Sul e Presidente Getúlio, passando por Blumenau e a própria cidade de Itajaí, já no oceano Atlântico. Pensando nisso, o governo gastou milhões em barragens desde os anos setenta, e nem assim conseguiu acabar com as enchentes. Soubemos agora, que outra barragem será construída perto do rio da Prata, onde estávamos hospedados.

Os índios Xokleng, na história recente, tem reivindicado indenização pelo alagamento de suas terras cultiváveis. Em 2009 chegaram a fechar a estrada de acesso à Reserva, tomaram a represa, e chegaram a ameaçar, algumas vezes, explodi-la. O governo lhes dá um valor em dinheiro para se manterem; muitos são sedentários e pobres. São mais de 20 km de estradas dentro da reserva. Os índios vivem em casas de material, comuns, quase sempre em famílias isoladas; mas também há aldeias, como a da “Palmeirinha”, já mais perto da represa. Passamos tranquilos, ou quase. Nós achamos que o governo exige que cada família possua pelos menos 5 cachorros cada uma. E todos treinados para “atacar” ciclistas. É, está rindo? Não sei o que era mais difícil: aguentar a cachorrada ou os gritos da Carmo? Qualquer dia a sociedade protetora dos animais vai cobrar uma multa da Carmo, pois ela está deixando a cachorrada com problemas psicológicos...

Ultrapassada mais esta meta, ou seja, percorrer a reserva, agora, a partir da represa, era só chegar a José Boiteux, 12 km à frente, ainda margeando o rio. Fizemos um lanche e deixamos o sol baixar um pouco, mas não muito, porque o temporal tem hora marcada: 16h00. Agora por asfalto, a última meta foi cumprida, chegando a Ibirama às 15h50. Estávamos ainda fazendo o check-in quando pontualmente às 16h00 o “mundo veio a baixo”. Até a luz da cidade “caiu” (talvez de propósito, pois havia muitos raios), e a ideia de ficar no ar-condicionado, já era. O banho frio até que não foi tão mal assim. Total de 65,5 km.
Nossos anfitriões em Barra da Prata: Carlos e Carmem

Aqui será um Parque Ecológico




quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Segundo Dia - Alto vale do Itajaí

SEGUNDO DIA – 27/12/2012

O dia amanheceu cinzento em Mafra, mas sem chuva, o que já era muito bom para nós, pois estaria mais fresco do que no dia anterior.
Lá fomos nós para a estrada, rumo a Barra da Prata. O caminho mais uma vez é feito em tobogãs, num sobe e desce alucinante. São cerca de 21 km pela BR 116, rumo sul, e depois mais uns 9 km até Itaiópolis, pelo “Caminho dos Príncipes”, como chamam aqui na região. Trata-se da SC-477, que leva até Dr. Pedrinho, no chamado “Vale Europeu”.
Paramos em Itaiópolis para almoçar; passava das 11h00. Mais 20 km e pegamos a estrada de chão que leva até a cidade de Sta. Terezinha. Uma estrada antiga na serra do Parolim. Por ali é possível descer até o vale do rio Ricardo, um dos formadores do rio Itajaí, de duas maneiras diferentes, ou seja, pela própria estrada que leva até Sta. Terezinha, ou por outra, à esquerda dessa, também muito bonita. Desta vez escolhi a da esquerda, porque não conhecia.
O tempo, que estava perfeito para pedalar até então, demonstrava que ia mudar, e percebemos a necessidade de apurar um pouco, porque a chuva com certeza nos alcançaria; e alcançou, mas já havíamos descido a serrinha e atravessado a ponte pencil. Vimos que a coisa estava feia, e não chegamos a pegar a estrada que dava acesso a Barra da Prata; paramos ali mesmo, numa escola abandonada, mas com abrigo suficiente para o temporal que se avizinhava. Apenas dois minutos depois e veio o temporal, com direito a raios, trovoadas e ventos fortes. Eram quatro da tarde e o temporal durou meia hora; estávamos a apenas 11 km do destino final do dia.
Com a diminuição do volume da chuva, resolvemos não esperar ela parar totalmente, mesmo porque iríamos nos sujar de qualquer forma, com o barro formado e as poças de água. Deixamos nosso abrigo e enfrentamos o lamaçal; os onze quilômetros pareciam trinta, porque a chuva engrossou de novo, transformando o visual bonito da região e o prazer de percorrer aquela estradinha. A Carmo teve uma pequena queda, isto no momento em que tentava atravessar um trecho de muita lama; lá se foi mais um arranhãozinho no joelho; coisas do ofício...
Procuramos pelo único lugar em Barra da Prata, uma pequena vila, distrito de Vítor Meireles, região da serra da Abelha. Já havia me hospedado lá há cerca de dois anos, quando percorri sozinho aquela região, mas sabia que tinha mudado de donos, e era incerto sobre hospedagem. Seguir a outra cidade, nem pensar; seria longe demais e muito desgastante.
Felizmente encontramos o casal de proprietários deixando o local de carro, e consentiram na hospedagem. Soubemos em seguida, pelo Sr. Carlos, que ele comprou o estabelecimento com ideias de reformá-lo, para atender melhor, e que no momento na verdade não estava recebendo hóspedes. Talvez em um ano consiga realizar seu sonho, de criar um parque ecológico, com chalés para repouso e várias atividades recreacionais para os turistas, aproveitando as belezas naturais da região e o próprio rio Ricardo. Foi muita gentileza mesmo, e nos deixaram a vontade enquanto estavam fora.
Estávamos muito, mas muito sujos mesmo, e tivemos que fazer uma sessão de limpeza geral, desde as nossas vestimentas, sapatilhas, alforjes, passando pelas bicicletas e nossos corpos também, que eram pura lama. Quando voltaram já estávamos preparados para um bom banho e uma bela janta caseira. Depois de um dia completo como este, com 85 km percorridos, era hora de descansar, e atualizar o blog, é claro.
Início da SC 477

Igreja de Itaiópolis

Igreja da vila de Itaió

Serra do Parolin

Ídem

Ídem

Ídem

Ídem

Rio Ricardo

Ídem, a 2 min do temporal

CURITIBA A FLORIPA VIA ALTO VALE DO ITAJAÍ

FLORIPA VIA ALTO VALE DO ITAJAÍ

Resolvemos aproveitar o recesso de fim de ano para dar mais umas pedaladas por aí. Como nossa filha acabou de se mudar para Florianópolis, porque não ir até lá, então? Mas sair de Curitiba, pegar a 376 e a 101, descer a serra e seguir em frente, não tem muita graça.
Brincadeira. Lógico que tem, pois são vários os locais maravilhosos pelo caminho. Mas pensamos em algo um pouco mais difícil: seguir até lá passando pelo alto vale do rio Itajaí.
Pensando nessa ideia, o trajeto ficou “simples”, pois basta pegar a 116 até Rio Negro/Mafra, seguir até Itaiópolis, já em Santa Catarina; descer uma serrinha (estrada antiga); percorrer uma estrada de saibro até Barra da Prata, um lugarejo à beira do rio, no alto vale; depois atravessar uma área indígena (que às vezes estão “invocados” e não deixam passar, e o jeito é subir a serra da abelha até Vitor Meirelles); seguir após uma represa até José Boiteux e depois chegar a Presidente Getúlio. “Fácil” até aqui, não?
Na sequencia, Indaial, Blumenau, Gaspar, Brusque, Nova Trento, Tijucas e, enfim, Florianópolis. Vamos partir.
PRIMEIRO DIA – 26/12/2012
Tudo correu sossegado. Passamos por Fazenda Rio Grande, e até ali o acostamento não estava muito bom, apesar da estrada pedagiada. Na verdade estão duplicando esse trecho, e as coisas ficam difíceis e perigosas. Depois as coisas melhoraram, pelo menos nesse sentido, mas o calor intenso e o tobogã que representa essa estrada, desidratava rapidamente. Foram litros de líquidos ingeridos. A Carmo começou a sentir um pouco de cãibras, mas logo se recuperou.
Paramos uma primeira vez em Mandirituba, e depois em Quitandinha, quando as nuvens de chuva de verão se aproximavam. Ali encontramos o Ademar, companheiro de pedaladas em Curitiba, e também alguns motociclistas, outros viajantes das estradas do país. O papo estava bom, mas era preciso seguir caminho. A chuva passou leve pela região, mas soubemos que chegou forte em Curitiba, com destruição de alguns imóveis, muitas árvores derrubadas e muito susto na população.
O clima ficou mais fresco, o vento diminuiu, e não se vislumbrava mais no horizonte qualquer possibilidade de chuva. Seguimos tranquilamente até a divisa dos estados do Paraná e Santa Catarina.    
Depois de 110 km percorridos desde casa, chegamos a Rio Negro. Na entrada da cidade encontramos o Rodolfo, ciclista local que organiza passeios e competições na região. Depois de um papo, perguntamos sobre hospedagem, e resolvemos atravessar a fronteira, ainda pela BR 116, até Mafra. Mais 8 km e descobrimos que o Hotel pretendido estava fechado. Não tivemos coragem de seguir a outro mais longe e ficamos por perto, num Hotel um pouco mais caro. Deu tempo de lanchar no bairro que ficamos, mas o céu anunciava um temporal. A chuva veio, mas nós já estávamos recolhidos.