TERCEIRO DIA – 28/12/2012
Depois de uma noite bem dormida, estava na hora de seguir em
frente. Conversando com o Carlos sobre essa sequencia, ele questionou o porquê
de ir até Presidente Getúlio, e não Ibirama, já que seguiríamos depois para a
BR 470 rumo a Indaial e Blumenau, pois cortava caminho. Sabe que é verdade? Já
conhecíamos Pres. Getúlio e não haveria nada para fazer, e resolvemos realmente
ir a Ibirama.
De novo saímos meio tarde, lá pelas nove da manhã, com o céu
encoberto e um pouco mais fresco do que nos dias anteriores. Mas isso foi por
pouco tempo, porque o sol se fez presente, e o vale do Itajaí do Norte virou um
caldeirão. A paisagem maravilhosa compensava o esforço de pedalar pelos
morrinhos a beira do rio, em estrada ainda úmida e com pontos em lama. Vale
lembrar que estávamos com os mesmos pneus 1.5, slick, da viagem do Leste Europeu, não apropriados para esse tipo
de terreno, mas tinha um bom motivo: cerca de 80%, ou mais, do passeio, seria
percorrido em asfalto.
Como o percurso do dia já era por nós conhecido, resolvemos
criar metas do momento. Assim, a primeira seria atingir um barzinho, situado na
confluência da entrada da reserva indígena com a estrada que leva até a serra
da Abelha e a cidade de Vítor Meireles. Perto de 12 km. Quase uma hora para
chegar lá. Os registros deste trecho, com fotos ou filmes, foram poucos. O
“burraldo” aqui esqueceu de carregar a bateria da máquina fotográfica; lembrei
que levava a GoPro, e, por ironia do destino, nem bem comecei a filmar, e a
bateria também se foi. Isto, podem xingar; eu mereço. Quando voltar para
Curitiba, atualizo o blog com imagens que fiz de outra passagem minha pela
região...
Chegou o momento de passar por terras indígenas. Para
refrescar a memória, gostaria de lembrar que nesta região viviam índios, é
claro, mesmo antes do “descobrimento”. A maioria composta por Xokleng (ou
Xocréus), mas também Kaingangs, Guaranis e Butucudos. Europeus, a maior parte
alemães, italianos e poloneses, que “conquistaram” estas terras do Alto Vale,
no final do século XIX, e durante o século XX, não gostavam muito de índios e
também de florestas, pois seu cultivo necessitava de campos. Foi assim que se
extinguiram muitas espécies animais, em função do desmatamento, e também quase
levaram à extinção os índios. A forma original como viviam certamente
conseguiram extinguir. Hoje são aproximadamente dois mil descendentes de
índios, que vivem na Reserva Duque de Caxias, terras do Município de José
Boateux, e também um pouco de Vítor Meireles.
O desmatamento, e o uso irregular das terras, provocaram (e
ainda provocam), o assoreamento dos rios e erosões, que levam enchentes cada
vez maiores, fácil de se constatar por relatos recentes da história do vale do
Itajai-açú, que não preservam cidades desde o alto, como Rio do Sul e
Presidente Getúlio, passando por Blumenau e a própria cidade de Itajaí, já no
oceano Atlântico. Pensando nisso, o governo gastou milhões em barragens desde
os anos setenta, e nem assim conseguiu acabar com as enchentes. Soubemos agora,
que outra barragem será construída perto do rio da Prata, onde estávamos
hospedados.
Os índios Xokleng, na história recente, tem reivindicado
indenização pelo alagamento de suas terras cultiváveis. Em 2009 chegaram a fechar
a estrada de acesso à Reserva, tomaram a represa, e chegaram a ameaçar, algumas
vezes, explodi-la. O governo lhes dá um valor em dinheiro para se manterem;
muitos são sedentários e pobres. São mais de 20 km de estradas dentro da
reserva. Os índios vivem em casas de material, comuns, quase sempre em famílias
isoladas; mas também há aldeias, como a da “Palmeirinha”, já mais perto da
represa. Passamos tranquilos, ou quase. Nós achamos que o governo exige que
cada família possua pelos menos 5 cachorros cada uma. E todos treinados para
“atacar” ciclistas. É, está rindo? Não sei o que era mais difícil: aguentar a
cachorrada ou os gritos da Carmo? Qualquer dia a sociedade protetora dos
animais vai cobrar uma multa da Carmo, pois ela está deixando a cachorrada com
problemas psicológicos...
Ultrapassada mais esta meta, ou seja, percorrer a reserva,
agora, a partir da represa, era só chegar a José Boiteux, 12 km à frente, ainda
margeando o rio. Fizemos um lanche e deixamos o sol baixar um pouco, mas não
muito, porque o temporal tem hora marcada: 16h00. Agora por asfalto, a última
meta foi cumprida, chegando a Ibirama às 15h50. Estávamos ainda fazendo o check-in quando pontualmente às 16h00 o
“mundo veio a baixo”. Até a luz da cidade “caiu” (talvez de propósito, pois
havia muitos raios), e a ideia de ficar no ar-condicionado, já era. O banho
frio até que não foi tão mal assim. Total de 65,5 km.
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Nossos anfitriões em Barra da Prata: Carlos e Carmem |
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Aqui será um Parque Ecológico |