segunda-feira, 27 de outubro de 2014

LENÇÓIS MARANHENSES - Barreirinhas a São Luis

BARREIRINHAS A SÃO LUIS

4 a 9 de setembro de 2014.

Chegou a hora de deixar Barreirinhas, mas não necessariamente os Lençóis Maranhenses. O próximo destino era Santo Amaro do Maranhão, onde “começam os Lençóis” segundo os moradores locais. Realmente, para quem parte de São Luis, os Lençóis começam para aqueles lados; caso esteja vindo de Fortaleza, por exemplo, começaria em Barreirinhas. É uma questão de semântica...
Deixamos a pousada perto das oito da manhã. Seriam quase 60 km até o lugar chamado Sangue. Já na saída da cidade o Juliano pediu para parar no posto de gasolina para poder calibrar os pneus de sua bicicleta. Pedi, então, para que o pessoal seguisse pela estrada. Logo que saiu do posto, ao andar pouco mais de 500 metros, um dos pneus dele furou. Como estávamos na saída da cidade, havia um borracheiro; deixamos o conserto por conta do funcionário. Demorou um pouco, mas seguimos os dois o nosso destino. Era hora de dar um “gás” para alcançar a trupe. Somente depois de 40 km rodados começamos a vislumbrá-los; alcançamos e seguimos juntos até Sangue.Sangue na verdade é apenas uma referência. Está longe de ser uma vila, um povoado ou coisa que o valha. Tem um comércio junto a uma alta torre de transmissão, recentemente construída. Mas é de lá que partem as toyotas 4x4, capazes de seguir a difícil estrada de areia, por 40 km, até Santo Amaro do Maranhão. É o único acesso por estrada até lá; é possível chegar por trilhas, a partir de Caeté (Primeira Cruz), caminho, aliás, que percorri com a Carmo em 2008, quando fomos de barco de Humberto de Campos até lá.

A empresa de ônibus que explora o transporte rodoviário entre São Luis e Barreirinhas possuía uma espécie de conexão com o transporte de Toyota, então era certo que havia condução nos horários de passagem desses ônibus, tanto num sentido como no outro. Mas isso não ocorre mais, ou é muito precário. Assim, conversando com a dona do comércio, bem como um sujeito que estava por lá, confirmei o que já sabia de antemão: existia a Toyota dos Correios que fazia essa linha toda manhã. Contava com isso, e deu certo. O sujeito era funcionário dos Correios, e estava com seu carro pequeno aguardando a chegada do 4x4 que presta serviços para eles. Questão de sorte, ou experiência mesmo, e o carro chegou logo. Negociamos o preço, embarcamos e seguimos.
É preciso dizer, aqui, que as bicicletas ficaram no comércio, em um ambiente seguro, fornecido pela dona, a um preço módico; levamos apenas nossos alforjes. Não há o que fazer de bicicleta em Santo Amaro do Maranhão; poucas ruas são calçadas, e o que predomina é a areia fofa. Outra coisa: a Toyota era muito antiga e não era apropriada, digamos assim, para transporte de passageiros. Tivemos que improvisar e organizar os “assentos”. Havia apenas um banco de madeira na transversal da caçamba (coberta, pelo menos); tinha o material que o carro pequeno deixou para ele transportar, bem como algumas caixas e outros objetos de uma passageira que também aproveitou a “carona”. Fomos os seis homens do grupo na caçamba (eu sentei em cima de pneu enorme), mais outro homem (alguns sentaram no piso). A Carmo foi “privilegiada”, pois conseguiu um espaço na cabine, com a outra senhora. Segundo a Carmo, a senhora era, digamos, meio gordinha, e ela ficou literalmente espremida entre ela e a porta.

Perto das onze da manhã deixamos Sangue. Foram duas horas de solavancos; isso porque foi de certa forma facilitada a viagem, porque estão asfaltando a estrada, e os primeiros 5 km estão mais “ajeitados”, ou seja, sem aquela quantidade enorme de areia. Dizem que ficará pronta em 2016 (???). Por sorte a senhora deixou a cabine nessa primeira parte, e os amigos, sensíveis, pediram para que eu ficasse junto à Carmo, com um pouco mais de conforto. Atitude bacana a deles. Agradeci e fui mesmo (rs).

Ajeitamos nossas coisas numa confortável pousada, com tempo apenas para mudar de roupa e fomos direto almoçar, para depois começar a longa caminhada até as dunas dos Lençóis, na região da Lagoa das Gaivotas, a mais famosa do lugar. Caminhamos por pouco mais de uma hora, sob o sol escaldante, mesmo passando das três horas da tarde. Tínhamos pouco tempo de refresco nas lagoas, para podermos voltar em segurança, com a vista do por do sol.
Ao chegarmos à Lagoa das Gaivotas a decepção: estava bem vazia. Acredito que fui eu quem ficou mais frustrado, pois gostaria que eles tivessem a mesma visão que já tive antes, nas outras oportunidades. Na verdade ainda continuava bonita, mas a água estava rasa, devido principalmente ao aumento de sua extensão. As dunas são móveis, e abriram espaço entre elas, fazendo com que as lagoas se unissem; com água mais rasa mais fácil fica a evaporação.

O Neimar pegou um caminho diferente, à esquerda, e subiu por dunas mais altas; estava à procura de lagoas mais profundas para se refrescar. Segui com os demais em direção da vila, mas sempre por dentro dos lençóis, subindo e descendo dunas, e também encontrando mais algumas lagoas, e com o sol se pondo do nosso lado direito. Logo os demais seguiram a indicação do Neimar, que de longe, pequeninho no alto de uma duna, fazia sinal. A princípio eu e a Carmo também fomos, mas quando cheguei ao alto de uma duna, vi que eles estavam muito longe, e comecei a me preocupar com a volta. Pedi para ela nem subir e começar o retorno para alcançar o Nascimento. O Nascimento foi o único que seguiu o caminho da vila, bem devagar, curtindo seu momento solitário.
O Juliano, o Wendell e o Fábio ficaram com o Neimar, e depois contaram que conseguiram curtir um pouco do frescor daquelas águas cor de esmeralda. 

Demoraram um pouco, mas se juntaram a mim, à Carmo e o Nascimento para, dentro do possível, vislumbrar o magnífico por do sol. Todos ficaram mais felizes ainda, quando nos deparamos com uma árvore enterrada numa duna, com seus frutos ao nosso alcance: um cajueiro. Oh delícia!!! Pegamos uma trilha no meio da mata, logo depois de acabar o trecho das dunas, e no lusco fusco alcançamos o centro da vila de Santo Amaro do Maranhão. Um gostoso banho nos esperava; um jantar para repor as energias, e uma boa noite de sono.
























Uma boa noite de sono sim, mas nem por isso tinha facilidade nisso. Quatro horas da manhã já estávamos prontos na frente da pousada, aguardando a chegada da Toyota 4x4, de linha, que havia acertado no momento em que chegamos à vila, por precaução. Combinamos a hospedagem sem café da manhã, e deixamos para comer alguma coisa em Sangue, quando pegamos nossas bicicletas para continuar a jornada até São Luis.

Voltamos a rodar de bicicleta perto das sete da manhã. Esse horário é sempre mais fresco. No caminho, em estrada asfaltada, com um bom acostamento, tivemos alguns pneus furados. Foi o primeiro do Wendell, mas o pior aconteceu comigo, pois furou mais uma vez. Vi que o pneu estava dechapado com o calor do asfalto. O Neimar prontamente conseguiu um manchão, feito de parte de um pneu 1.5, mais estreito e bem rígido. Coloquei, andei pouco mais de quinhentos metros e furou de novo. Nesse momento percebi que o manchão ainda estava com os arames soltos, que provocaram o furo; passei a tesoura nas laterais do manchão onde estavam os arames e coloquei de novo dentro do meu pneu. Fui obrigado a mudar a posição do manchão, que felizmente era grande, porque outro pedaço do pneu também já estava dechapado, e certamente iria provocar novo furo. De qualquer forma consegui tocar meu caminho.

Paramos na confluência da estrada que liga a Humberto de Campos, num posto de gasolina, onde há uma lanchonete; aquela, já conhecida, motivo do relato de 2013, quando o grupo viu na televisão o programa sobre os Lençóis... Comemos e bebemos alguma coisa e continuamos. Tínhamos como conforto a ideia de que almoçaríamos à beira de um rio, na cidade de Morros. Prometi isso ao grupo e cumpri. É muito refrescante... Com uma cervejinha então...











Cedo ainda, perto das três horas da tarde, deixamos o recanto e seguimos em direção a Icatu, que fica junto à baía do Arraial (ou São José). Consegui negociar uma biana (barco de pesca da região) para as quatro da manhã do dia seguinte. 
De novo uma noite mais curta. Ficamos alojados no “melhor” hotel da cidade e... pula essa parte. A cidade de Icatu não oferece opções de jantar, mas eu, a Carmo e o Nascimento descobrimos um senhor, muito esperto, que montou umas mesinhas na rua, e servia um “churrasquinho de gato”; uma mistura que até estava muito boa (rs). Os demais se viraram com guloseimas compradas no mercado. Nem convidamos o Juliano, é claro.

Ainda escuro chegamos ao pequeno porto da vila. Na verdade uma rampa. Ao lado esquerdo da rampa, de quem desce, existem espaços em alvenaria, como lojinhas, para os pescadores alojarem seus pescados, comercializando-os por ali mesmo logo ao chegarem do mar. Pesca-se artesanalmente na região, inclusive com utilização de curral. O Curral é uma armadilha fixa, onde estacas são arrumadas em paliçadas envoltas por malhas ou arames que ajudam na captura do pescado, aproveitando-se dos bancos de areia e da preamar. Vê-se alguns desses currais ao longo da travessia para São José do Ribamar. Esse tipo de pesca, na realidade, é condenável, considerável predatória, pois tem a capacidade de capturar grande número de peixes, sem distinção de tamanho. Os pescadores da região também usam a arte do Espinhel (com anzóis fixados a certa distância), e servem para pesca profunda; também usam a Gozeira (rede que fica à deriva, na superfície ou a meia água, fixa a embarcação), e também a Tapagem ou Zangaria (local semelhante a uma cerca, onde se coloca uma rede comprida, armada e presa a estacas enfiadas no fundo dos cursos d’água. Outras artes de pesca, ainda mais rudimentares, também são muito aplicadas por lá, inclusive para pegar mariscos e caranguejos.




É lindo demais navegar por aquelas águas, primeiro no braço de mar, depois já na baía, vendo de longe a cidade de São José do Ribamar, nosso destino para atracar. Claro que somente depois do sol raiar. Aliás, outro espetáculo, com os bandos de guarás cruzando os céus a todo instante, numa revoada que é vista todos os dias, pela manhã e à tarde, quando voltam para seu local de repouso. 







Durante o dia buscam alimento junto aos manguezais, principalmente um caranguejo pequeno, avermelhado, que, aliás, dão o tom a sua bela penugem, que contém o carotenóide cantaxantina. Infelizmente essas aves são pouco avistadas no nosso litoral paranaense, motivados pela caça indiscriminada no passado, tanto pela extração de suas penas, como para alimentação, além da destruição dos manguezais, onde vivem os caranguejos. Cidades como Guaraqueçaba e Guaratuba, por exemplo, tem seu prefixo justamente em função dessa ave. Pude observar a partir de visita recente ao Lagamar, na divisa do litoral paulista com o paranaense, que essas aves estão voltando a povoar aquela rica região (em biodiversidade), talvez até em função da proteção aos caranguejos. Tomara que voltem, porque é muito lindo.

São José do Ribamar é uma cidade de porte médio, com pouco mais de 160.000 habitantes, e tem esse nome em função do padroeiro do Maranhão. Lá fica o santuário do padroeiro, e, por coincidência, chegamos ao início dos festejos, um dos maiores do Nordeste, sempre realizados no mês de setembro. Tomamos café e demos uma voltinha pela região, visitando o santuário, a estátua de 17 metros de altura (avistada de longe durante nossa travessia na baía de São José), assim como a gruta de Lourdes.










Quando pegamos a saída para Araçagi, praia da cidade que fica contigua às praias de São Luis, do outro lado da ilha, nos deparamos com um desfile em comemoração ao sete de setembro, composto na sua maioria por estudantes em uniformes esportivos e de gala, com diversas bandas, cada qual conduzindo e dando o ritmo ao seu grupo; tinha, é claro, um pequeno grupo de ciclistas, que acenaram para nós, pedindo que fizéssemos parte do desfile, mas infelizmente tínhamos que seguir nosso caminho.





Pegamos a estrada rumo às praias. Pela primeira vez na cicloviagem tomamos chuva; e que chuva! Resolvi não parar, era só uma nuvem, e aquelas águas talvez fossem para nos refrescar e ao mesmo tempo nos saudar pela conquista. É claro que deixou o percurso ainda mais difícil, pois apesar de serem apenas 20 km, a qualidade das estradas, seus acostamentos ou a falta deles, bem como o trânsito local, deixa muito a desejar.

Finalmente saímos da estrada, pegamos uma rua e descemos em direção ao mar, na praia de Araçagi. Vitória! Felicidade! Missão cumprida! Sentimentos que se misturavam com a tristeza de ter acabado; de ter que voltar para o cotidiano. Mas tudo valeu à pena; foram dias maravilhosos, na companhia de grandes amigos e em lugares fantásticos.



Primeiro procuramos um lugar para sentar, à beira da praia, para tomar aquela cerveja gelada, para o brinde de chegada.                                Seguimos pela praia, com sua extensa largura com maré baixa (onde infelizmente os carros também circulam, ou ficam parados na areia ao lado das barracas, em pontos “alugados” por flanelinhas – é certo e sabido que em diversas vezes muitos carros já foram engolidos pela maré, por descuido dos incautos e idiotas proprietários). Nos fundos da barraca de praia que paramos ficava o banheiro (?!). Somente vendo a foto para entender; flagrei o Fábio em seu “número um”.

Depois foi só curtir as últimas pedaladas pelas praias do Nordeste, na capital do Maranhão, São Luis (Calhau), até deixar suas areias e seguir pelas ruas até um hotel. Era hora de começar a pensar no retorno, em embalar as bicicletas e deixar tudo certo para o vôo de volta a Curitiba.



















Chegamos sábado, dia 6 de setembro, um dia antes do previsto. O Juliano, que viajaria na segunda-feira, chegou a tentar antecipar seu vôo, mas não conseguiu. Os demais tinham previsão de retorno apenas para terça-feira. Assim, convidei o pessoal para conhecerem Alcântara, do outro lado da baía de São Marcos; cidade do Centro de Lançamento de Foguetes do Brasil (CLA). Cidade história, que guarda ruínas da época dos barões do tempo colonial. Para chegar até lá, o melhor é pegar um barco ou catamarã, que são de linha, e saem pela manhã, retornando à tarde, tudo em horário dependente da maré, posto que a região possui uma das maiores diferenças de marés do mundo.

A Carmo preferiu ficar no hotel, e os marmanjos levantaram cedo, mesmo num domingo preguiçoso. Pegamos um táxi, que deixou parte do grupo e voltou para pegar o restante (não era tão longe assim), pois não havia muita disponibilidade naquele horário e o motorista se prontificou a fazer assim. O barco já havia saído as sete, e nós chegamos para pegar um dos catamarãs (eram dois), que deveriam partir às sete e quarenta. O primeiro catamarã, bem lotado, saiu pouco antes, e o nosso ficou “enrolando”, pegando passageiros de última hora (um deles teve que pular para dentro da embarcação, que já estava desatracada).

Víamos o outro catamarã à frente, contornando o canal e em seguida abrindo suas velas, mesmo possuindo um possante motor. A maré estava vazando rapidamente. Não circulamos muito e nosso catamarã parou no meio do mar, preso num banco de areia, que eles chamam “coroa”. Começou o suplício, ou melhor, o descontrole, desmando, falta de preparo e educação da tripulação. A comandante era uma senhora, que certamente só pensava na grana e não na segurança. Um homem da tripulação desceu da embarcação com água pela cintura; tentou empurrá-lo para um lado, depois para o outro. É claro que nem se movia. Subiu novamente, conversou com os demais tripulantes e alguém pediu para que todos ficassem apenas de um lado; não sei se na popa ou na proa, pois tentaria desencalhar a pesada embarcação e recolocá-la no estreito canal, onde seria possível a navegação até o mar mais profundo.





Foi quando começaram as discussões e palavrões trocados entre a tripulação, deixando claro que faltava competência, comando e muitas outras coisas. Pediram para todos descerem, mas algumas mulheres e crianças ficaram; estávamos, acredito, em vinte passageiros, ou um pouco mais. Descemos e tentamos seguir as “orientações”. – Empurra pra direita! - Empurra pra esquerda! - Todo mundo para trás! vamos empurrar para frente. - Todo mundo para frente! vamos empurrar pra trás. Quase sempre gritando isso ao mesmo tempo. Estava selado nosso destino...








A água que estava apenas na altura dos joelhos, logo ficou no tornozelo e um pouco mais e já estava longe dali, sobrando apenas areia. Girando trezentos e sessenta graus já percebemos que estávamos isolados, numa ilha de areia, a tal coroa. Alguns passageiros se insurgiram com essas atitudes, inclusive ligando para os bombeiros e outras autoridades, mas sabiam que seria em vão (não apareceu qualquer autoridade até nossa retirada). Durante as tentativas de retirada da embarcação, enquanto havia água, por diversas vezes, com muita calma, eu e os outros membros do grupo, pedíamos para a tripulação se acertar, dar a ordem correta, parar de falar palavrões e agir conforme a “cartilha”, mas não tinha resultado.





O tempo foi passando, e não vislumbrávamos uma forma rápida de sair dali. Ficávamos imaginando o que o povo pensava, ao ver ao longe a situação, da ponte que liga a parte antiga da cidade, da parte nova, onde ficam as praias. Eles não tinham um planto “B”, ou melhor, tinham: ficar esperando dentro do barco até 13h30min, quando a maré subiria e poderiam retornar ao porto da cidade, ou até mesmo, fazer um favor de levar os passageiros até Alcântara, “para conhecer rapidamente a cidade e retornar”. Só sei que de algum modo fizeram contato com pescadores. Apareceu um pescador com sua canoa a remo, que cabia talvez oito pessoas. A ideia era de atravessar o canal, que apesar de raso tinha correnteza, e se tornava perigoso (por isso não era possível ou inteligente seguir a pé até a margem – mesmo porque há muito lodo, profundo, que gera o encalhe mesmo de uma pessoa).


Gostaria de descrever melhor a cena, mas era no mínimo constrangedor ver aquelas pessoas que se prontificaram a embarcar na canoa. Parecia uma travessia fácil e rápida, mas a correnteza não permitia que o condutor usasse os remos; o barquinho não saía do lugar. Resolveu, então, desembarcar e seguir empurrando. Enquanto assistíamos à cena, já que não estávamos na canoa, fomos chamados em direção ao Catamarã, para pegarmos uma pequena biana, a motor, que estava do outro lado da coroa de areia, junto ao canal. Corremos e conseguimos embarcar os seis; outros também subiram. Partimos, mas não sem antes recuperar o dinheiro dos bilhetes. Como tudo que está ruim pode ficar pior, as nuvens cinzas que rondavam a cidade chegaram até nós, e desabou aquele aguaceiro. Era para deixar mais “emocionante” aquele momento. Molhamos-nos no mar e agora na chuva... Lógico que a pequena biana não era coberta e ficamos como “pintos molhados”.

Depois de rodear pelo canal chegamos ao lodo. Isso mesmo; era lodo sim, mas estava misturado com esgoto. Algumas crianças jogavam bola no trecho em que o lodo fica um pouco mais firme, na frente das casas onde moram com seus familiares, construídas na forma de palafitas.
Pessoas pobres, mas bondosas; orientadas pelas crianças, subimos até a vila, e na parte alta, entre as vielas, conseguimos um poço com água limpa para tirar o excesso daquele lodo das nossas pernas. Pelo menos ficamos do lado da ponte onde estava nosso hotel; caminhamos algumas quadras e perto das 11h00min pudemos enfim tomar um bom banho e combinar o que fazer para o resto do dia. Felizmente os amigos levaram tudo na esportiva; todos estavam bem e com história para contar...

Já que o passeio para Alcântara não saiu, resolvemos almoçar na praia. Perto das 13h00min fomos caminhando até Ponta D’Areia, para depois chegar a Avenida Litorânea. Ao passarmos pela lagoa próxima à praia, sentimos um odor extremamente desagradável, daqueles insuportáveis mesmo; soubemos depois que o esgoto predomina naquelas águas. Está explicado. Paramos num restaurante na Avenida dos Holandeses; chegamos a pedir comida e bebida, sentamos à mesa e tempos depois percebemos que não teríamos nossa carne, que havia sido vendida para outros fregueses. Reclamamos ao dono e ele disse que já serviria; que pediu ao seu funcionário para atender. Dissemos a ele que vimos seu funcionário vender para outros e, perguntado, disse que não tinha mais. Como não seríamos atendidos, pagamos as bebidas e procuramos outro lugar, na mesma avenida, num ambiente bem mais acolhedor.

Enfim almoçados tranquilos; resolvemos nem ir até a praia. Sabíamos que a maré estava subindo, e também que o mar está poluído. Voltamos a pé para nosso hotel, os sete, pois a Carmo estava presente. Pegamos a mesma avenida até chegarmos à Avenida Ana Jansen, a do nosso hotel. Disse que quando a coisa está ruim, pode ficar pior; e quando ta pior pode ficar terrível. Pois é, a uma quadra do hotel, do outro lado da rua, junto ao muro de uma estação de TV local, alguns garotos de bicicleta e a pé se aproximaram do nosso grupo, por trás, e tentaram retirar uma mochila das costas de um dos nossos. Felizmente não passou de um susto, pois todos se voltaram para a cena e eles desapareceram pela rua transversal. Desculpe falar isso, pois sabemos que o povo maranhense é honesto e trabalhador, e que esses fatos acontecem em todas as grandes cidades, mas percebemos um grau muito alto de insegurança em São Luis. As pessoas ficam a toda hora te advertindo para se cuidar... As imediações das Avenidas Castelo Branco e Ana Jansen, no bairro São Francisco, são muito visadas. À noite a circulação de viaturas militares é ostensiva e intermitente, corroborando com esse pensamento.


Enfim, como ficamos ainda com a segunda-feira disponível, resolvemos tentar a “sorte” ou a (in) competência novamente, e fomos para Alcântara. Despedimo-nos do Juliano já cedo e voltamos ao porto das barcas, desta feita no horário para pegar o barco e não o Catamarã. É aquela história de gato escaldado... Fizemos a travessia da baía de São Marcos e visitamos Alcântara, onde pude como “guia”, apresentar-lhes os prédios históricos em ruínas, as igrejas, o pelourinho, o forte, etc. Infelizmente o museu estava fechado, por ser segunda-feira. Ele é interessante porque fica num casarão antigo, reformado, que pertenceu por anos a uma das principais famílias de barões, onde se mantém móveis e vestimentas coloniais.

Como havia dito, chegamos sábado a São Luís, com o comércio fechado. Depois veio o domingo, e nessa segunda-feira, foi feriado, dia da comemoração do padroeiro. Assim, restou a terça-feira pela manhã para conseguir material par a “mumificação” das bicicletas. Tínhamos pouco tempo; acertamos com uma Kombi de transporte para nos pegar no Hotel às 12h00m, para nos levar ao aeroporto. O Nascimento, o Wendell e eu pegamos um ônibus e fomos até o Mercado Central, logo cedo, e compramos as tralhas. O Neimar, o Fábio e a Carmo ficaram no Hotel, num bom espaço, iniciando o desmanche das bicicletas. Suamos bastante, mas conseguimos deixá-las bem empacotadas, tomamos um bom banho e apenas aguardamos a chegada da Kombi para o transporte.

Durante o trajeto até o aeroporto ficamos conversando, lembrando momentos do passeio e todos demonstraram estar muito felizes pela aventura. Um pouco de tristeza, também, pois estávamos desfazendo um grupo que foi muito unido, participativo, cooperativo e amigo. Laços afetivos se fortificaram nessa convivência, e alguns já estavam perguntando, e até mesmo afirmando, que no próximo ano já estariam me seguindo para outra aventura. Vou ter que começar a pensar mesmo no próximo destino...

Obrigado aos amigos que confiaram na minha condução nessa aventura. Obrigado a todos que acompanharam pelo blog ou pelo facebook. Aguardem novas postagens. Abraços.














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