Pegamos uma espécie de igarapé, paramos à margem e descemos no barranco até a mata, percorrendo a pé uma trilha, onde pudemos observar o bicho preguiça, inclusive um que carregava um filhote no cangote.

Depois foi a vez de observar num descampado, cavalos e muitos búfalos, inclusive alguns ficaram muito próximos da gente. Pareceu seguro. Experiência diferente. Esse descampado, na verdade, é uma lagoa enorme, que em função da seca, acabou virando área de pasto.





Na volta do passeio, fomos dar um rolê pela cidade. Hora do almoço e procuramos pelo restaurante Piracaia (mais pra frente explico o significado dessa palavra), que havia sido indicado. Fica bem na muvuca do centro da cidade, numa das ruas principais.
Trata-se de um restaurante popular, que atende ao público local, principalmente, com serviço de bufê. Serve pratos regionais, como o tacacá, arroz paraense, pirarucu ao molho de camarão, pato no tucupi, maniçoba, etc...
Comida deliciosa, porém pesou um pouco contra, por dois aspectos: primeiro, o preço, que era diferenciado para os turistas, que pagam mais caro. Alguns acham justo que o trabalhador do comércio local tenha esse privilégio; eu, particularmente, não vejo motivo para não dar esse regalo também para o turista. Segundo, o ambiente, apesar de ser simples, era bacana, porém sem climatização; estava muito quente e apenas alguns ventiladores tentavam refrigerar o ar.





Para sobremesa, a Cida sugeriu que fôssemos até uma famosa sorveteria da cidade, a Boto Gelato Concept Store, que segundo ela, ficava próximo de onde estávamos. Fomos caminhando, caminhando, caminhando, e cerca de três quilômetros depois, chegamos, rs. Passamos, antes, pela simpática Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição, pintada em "azul piscina" (obra iniciada em 1754). Um calor infernal, ar super seco em função das queimadas, mas o lugar era ideal para refrescar, a começar pelo ar condicionado. Delícia. Sorvetes com sabores de frutas típicas da região e também os tradicionais.


Voltamos caminhando pela Orla de Santarém, que segue à beira do rio Tapajós. Descansamos um pouco no hotel, e depois voltamos à orla para jantar. Sugeriram o Massabor Orla. Fica numa espécie de trapiche, servem uma variedade grande de comida, com preços acessíveis. Tem vista para o por do sol, que em dias claros, céu aberto, fica maravilhoso.


Tínhamos, então, mais um dia livre pela frente, e aproveitamos a sexta-feira para "bater perna" novamente pela cidade.
Perto de onde estávamos hospedados, ficava o Centro Cultural João Fona (artesão local, do início do século passado), instalado num prédio muito antigo, e bem conservado, precisando apenas de alguns ajustes.
Sua construção foi iniciada em 1853, e concluída em 1867, para então ser inaugurado em 1868.
Lá funcionou diversos órgãos públicos, como Câmara de Vereadores, Fórum, Intendência Municipal, Cadeia Pública e Prefeitura Municipal.
Apesar do prédio ter se tornado um museu, por incrível que pareça, mantém uma sala para o prefeito atual despachar, com móveis antigos, requintados. Diz o funcionário, que o prefeito aparece lá de vez em quando. Interessante...
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Estátua de Sebastião Tapajós, famoso músico local |




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Vaso de Gargalo |



Deixamos o museu, e logo em seguida, num local público, alunos de uma escola ensaiavam o carimbó, uma dança típica da região, porque apresentariam isso como trabalho escolar. Foi bacana ver os costumes locais, e conversar com a garotada.
Depois nos dirigimos ao museu Dica Frazão, que foi uma artesã local, que já nos idos dos anos 30 do século passado, ainda muito jovem, apresentava trabalhos importantíssimos para o mundo da moda, utilizando-se principalmente de elementos da natureza, como a malva, juta, milho, entrecasca de árvore, folhas extraídas de capim, palha de buriti, sementes, raízes de patchouli, entre outros.
Sabe-se que chegou a produzir vestidos até para a famosa Carmen Miranda.
Muito do acervo, que faz parte do seu legado, encontra-se no museu, que recebeu o título de patrimônio histórico e cultural de Santarém.
Nasceu em Capanema-PA em 1921, e em 1943 mudou-se para Santarém. Ela se considerava mãe de seus irmãos, posto que sua genitora faleceu no último parto, e seu pai havia sumido. Fez questão de cuidar de todos. Faleceu em 2017, deixando uma de suas filhas, a Dona Maria Helena. como curadora do museu, que ela iniciou, mas não conseguiu vê-lo terminado, e que foi montado na casa onde morava, no centro da cidade.



Hora do almoço, e seguindo mais uma dica, fomos até o restaurante Rayana.
O estabelecimento é muito tradicional, de comida deliciosa. A história é tão bonita, que vou apresentar um trecho aqui, e que você logo verá quando for lá, pois é só abrir o cardápio, que está lá:
Essa é uma linda história de amor. O garçom se chamava Raimundo, e a cozinheira Ana Maria. Ele tinha o dom de servir e encantar as pessoas e tratou logo de encantar a cozinheira. Ela possuía mãos de fada para temperar e cozinhar. Seu dom era deixar todo mundo com água na boca, e conquistou seu Raimundo pelo estômago.
Raimundo se casou com Ana Maria, e essa união serviu de inspiração para o nome da peixaria mais querida da Amazônia, a Rayana.
E assim, trabalhando juntinhos, Raimundo vendendo e servindo muito bem o peixe e Ana preparando tudo com muito amor e carinho, o negócio prosperou. Há quem diga que Ana tem uma fórmula secreta de temperar e Raimundo tem uma mágica que conquista as pessoas.
A verdade é que a vida real não foi nenhum conto de fadas. Raimundo e Ana são um casal apaixonante, pela simplicidade e simpatia. São muito batalhadores e realmente fazem o que mais amam. Mas a peixaria começou com a venda de churrasquinhos de carne à noite.
Com o tempo, Raimundo começou a assar peixes e vender aos vizinhos. Depois, com 3 mesas em sua casa, passou a oferecer as caldeiradas da Ana e os primeiros pratos da peixaria.
Com muito trabalho, batalhando dia a dia, o negócio foi crescendo. De 2005 pra cá, o restaurante ampliou e as 3 mesas se tornaram mais de 40. Ao trabalho de Raimundo e Ana juntaram-se os filhos, Jonathas, Aline Rafaela, Ana Caroline e Raimundo Júnior, e seus colaboradores. Uma grande família. A peixaria se profissionalizou e continua inovando ao investir em gestão, atendimento e tecnologia.
Peixes de água doce, padrão de qualidade!
A maior variedade de peixes da Amazônia preparada com amor, carinho e muito talento. Uma família que recebe a todos como se fossem de casa em um ambiente simples e acolhedor. É por tudo isso que a fama da Peixaria Rayana não para de crescer no Brasil e no mundo. Quem vem a Santarém não pode deixar de vir à Rayana, e quem mora na cidade tem sempre a oportunidade de aproveitar a peixaria todos os dias.
O melhor peixe do mundo.
É claro que vamos "puxar a brasa para o nosso charutinho (sardinha)", mas quem tem o paladar mais apurado há de concordar com a gente: os peixes de água doce são mais gostosos que os peixes do mar. E há uma explicação para isso. Os peixes de água doce, especialidade da Rayana, são mais gordurosos que os de água salgada, por isso são mais saborosos. É importante ressaltar, que a gordura do peixe é saudável e rica em ômega 3. Você pode comer à vontade e se deliciar sem culpa.
Como os peixes mais gostosos são de água doce, e a Rayana prepara esses peixes como ninguém, não é exagero dizer que servimos os melhor peixe do mundo. Experimente e nos diga se não é verdade.
Nosso propósito de existir.
Como somos uma família, reunimos toda a equipe e criamos um propósito para o nosso trabalho.
E para não ficarmos só na palavra, dia a dia damos um duro danado, desde a escolha dos melhores peixes e temperos, a armazenagem, conservação e processamento dos nossos alimentos. Da limpeza ao atendimento, do ambiente ao serviço, estamos sempre investindo em treinamento e inovação. Tudo para fazermos a diferença e servir você e sua famíia cada vez melhor.
Realmente é tudo isso. Comida excelente, atendimento especial. Quando o senhor Raimundo soube que éramos de Curitiba, e que nós queríamos conhecê-lo, logo chegou à nossa mesa, e nos convidou para depois do almoço bater um papo. Fizemos isso. Ele nos mostrou o restaurante, inclusive a parte onde tudo começou, apresentou seus filhos, que o ajudam no estabelecimento, e ainda mandou servir para nós o seu famoso suco de limão, que segundo ele, é o melhor da Amazônia. Infelizmente a dona Ana não estava no momento.

Voltamos a pé pela Orla, observando a paisagem, que em alguns momentos não era boa, como ver a mata dali até o rio, que estava bem recuado, pegando fogo, e o por do sol encoberto pela fumaça das queimadas mais ao longe.

À noite, fomos jantar no restaurante Piracema, no bairro Prainha, também não muito distante de nosso hotel; aproveitamos para caminhar mais um pouco...
Ambiente decorado com cuias pintadas, cestaria e cerâmica, tudo de muito bom gosto. Realmente um local mais sofisticado.
Comida deliciosa à base de peixes de água doce, com temperos regionais.
Bem, chegou a hora de pedalar, não? Afinal, o blog é sobre cicloturismo, kkk.
Pelo contrato com a Muriki, eles nos pegariam dia 9, sábado, em Santarém, de carro, para então irmos até Alter. Mas nós quatro queríamos fazer algo diferente. Pensamos em ir até lá pedalando. Conversamos com o Paulo, e ele concordou em alugar as bicicletas um dia a mais, e se comprometeu a levá-las até o Hotel na noite de sexta-feira.
Recebemos nossas bicicletas, e percebemos que o Paulo ficou surpreso em fazermos nesse formato, e ficou mais surpreso ainda quando disse a ele que não iríamos pela estrada comum, de asfalto, e sim pela Inter Praias, que não estava toda pavimentada, e que, pelo GPS, e pelo que ele falou, não iria até Alter do Chão.
Risco todo nosso. Pela estrada, seria perto de 40 km, podendo ser percorrido talvez em três horas, sossegado. Mas...
Vou tentar transcrever aqui, como foi nossa ida até Alter:
Amanheceu o dia como sempre, muito calor e o ar carregado de fumaça. Como o Paulo pegou nossas bagagens no Hotel, fomos sem qualquer carga.
Pedalamos no início pelo calçadão da Orla, curtindo a paisagem, para depois nos embrenharmos pelos bairros, até atravessar a ponte estreita, de madeira, do lago Mapiri, que estava seco, claro. Até ali já tinham ido 6 km.









Dali do lago, do outro lado, seguimos em direção à estrada principal, na verdade uma avenida, de nome Engenheiro Fernando Guilhon. É a porta de entrada de Santarém, inclusive para quem vem do Aeroporto. Aliás, esse era praticamente nosso próximo destino, pois a estrada Inter Praias começa perto dali.
Mais 7,5 km e chegamos à entrada da estrada, bem em frente ao Centro de Convenções. Tudo por ciclovias. A estrada começa asfaltada, mas só por pouco mais de 4 km, até a praia de Pajuçara.
Entramos na praia para conhecer, fizemos alguns registros, e voltamos para a estrada principal, que logo passou a ser de chão, num sobe e desce "legal". O calor só aumentava.
Apenas 3,5 km depois, e parávamos na frente da entrada para a Casa do Saulo. Como vi no programa da Muriki, que visitaríamos esse lugar, resolvemos não entrar. Foi então que percebi, junto das companheiras, que estávamos a partir dali, fazendo um trajeto que iríamos percorrer com o grupo. Estávamos, de alguma forma, estragando a surpresa.
Perto dali, tinha uma estrada que saía da orla, e que levava até a PA 457, Santarém-Alter do Chão. Trocamos uma ideia, e resolvemos arriscar continuar, e ver no que dava.



Seguimos mais um pouco, perto de 8 km, e entramos numa estradinha até um recanto chamado Tapary Beach, uma espécie de clube, à beira do rio Tapajós, onde você pode desfrutar de um day use, frequentando a piscina e tudo o mais.
O que nós queríamos mesmo é comer alguma coisa, nos hidratar, isso sim. Já era hora do almoço, e até ali não tinha qualquer comércio. Ficamos um bom tempo no local. Comemos, bebemos, conversamos com as pessoas que estavam por lá, curiosas com nossa aventura.
Um dos funcionários perguntou qual o trajeto que faríamos. Disse, e ele logo respondeu que não conseguiríamos seguir em frente. O certo era voltar até a entrada da Casa do Saulo, e pegar aquela estradinha que falei, até a 457. Não consegui absorver aquilo. As meninas já estavam cansadas, e pelo mapa, sabia que pela orla seria mais perto.
Até que um outro funcionário me chamou, e disse que ele era da região, conhecia os atalhos, e que poderíamos seguir por trilhas até Ponta de Pedras, outro balneário do caminho. Me levou até lá fora, atravessou a rua, que aliás terminava ali, depois vinha o rio, e foi me mostrando como fazer:
- Segue pela trilha deixada por um trator ali. Tá vendo? Apontava, e eu estava quase vendo...
- Depois, pega a trilha de areia batida até um igarapé; atravessa o igarapé e continua na trilha até uma estradinha de areia também, mas um pouco mais larga. Lá o senhor vira à direita e segue até Ponta de Pedras. É fácil, pois tem os postes de energia seguindo por ela.
Fácil, não? Voltei até o restaurante, e contei pra elas o que o rapaz disse. Convenci as meninas, dizendo que sabia como fazer para ir, pelo menos até Ponta de Pedras.



E lá fomos nós para a trilha. Empurramos as bicicletas na areia fofa por uns 200 metros, o que é um sufoco considerando o calor, para em seguida encontrarmos a mata e o carreiro que o rapaz havia mencionado.

Ao chegarmos no igarapé, ficou a dúvida por qual caminho seguir. Tinha trilha ao lado do igarapé, e as meninas achavam que devíamos seguir em frente por ela; já eu entendia que devíamos seguir a indicação, que era a de atravessar o igarapé. Convenci-as e atravessamos aquela beleza de lugar, com suas águas rasas, frias, cristalinas, com peixinhos por toda a parte. Por sorte avistei adiante a continuação da trilha, e passou o sufoco. Fiquei feliz em acertar o caminho.
Chegamos a uma estradinha de areia, num "T", exatamente como o rapaz havia falado. De pronto peguei à direita, mas não parecia certo, pois logo avistei uma praia, e não era hora para isso. Nisso a Cida parou e falou pra mim que estaríamos voltando. Na verdade não estávamos voltando, mas certamente aquele não era o caminho. Cadê os postes? Pois é, não havia um sequer. Então não era ali.
Voltamos e pegamos o sentido oposto, e aí sim, pouco depois chegamos à uma estrada, também num "T", um pouco mais larga, de terra e areia, com trechos alagados. E lá estavam os fatídicos postes. Achamos o fio da meada. Até ali foram quase 1,5 km. Parece pouco, mas com os perrengues, parecia uma eternidade, rs.
Pegamos à direita, e percorremos por essa estradinha mais uns 4 km, chegando a Ponta de Pedras.

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Chegando a Ponta de Pedras |
Como eu havia dito antes, a ideia era pelo menos chegar até esse ponto, porque não sabia se dava para chegar até Alter do Chão pelo litoral.
Paramos num comércio, perguntamos sobre o caminho até lá, e todos que nos atendiam diziam a mesma coisa: único jeito de chegar era pela estrada vicinal, cerca de 11 km, que levava até PA 457, aquela estrada principal, que liga Santarém a Alter. De lá seriam mais uns 15 km até o destino final.
Aproveitamos para fazer uma hidratação. A Cida e a Alice já estavam exaustas pelo calor e humidade, mas disseram que aguentariam continuar.
Importante dizer, e verão lá mais pra frente nesse relato, que havia um caminho, por trilhas, até Alter, e seriam apenas 10 km, num ambiente bem legal e mais fresco, por entre a mata. Descobrimos isso num passeio por lá com a Muriki. De novo entendi que estava antecipando o passeio "oficial". Bom que não fizemos, pois depois curtimos com todo o grupo.

Se até ali já passamos alguns perrengues, dali pra frente vieram outros, de formas diferentes.
A estrada começou asfaltada, mas logo o areão veio, e a dificuldade para pedalar, somada ao cansaço pelo calor, minou as meninas, principalmente a Cida e a Alice.
Na metade daqueles primeiros 11 km, a Cida parou uma caminhonete, pediu carona, e se foi até a estrada principal; dali fez os últimos 15 km devagar, sossegadamente, e finalizou.
A Alice, que não quis aproveitar a carona, acreditando que iria aguentar, seguiu conosco. Felizmente um comércio no meio daquele caminho, bem na entrada de um igarapé.
Fizemos a merecida parada para hidratação, e seguimos. Lembro ter tomado um pouco de caldo de cana, que poucos metros de pedaladas e já sentia ele estranho no meu bucho.
Alcançamos a estrada principal, aquela que tem ciclovia e leva até Alter do Chão. Apesar do asfalto e da ciclovia (no acostamento), não era uma região plana, o que vislumbrava alguma dificuldade.
Saí na frente das duas, pois foram no mato fazer xixi. Adiantei o suficiente para não vê-las, em função das curvas. Num retão, em subida, parei e esperei elas apontarem. Demorou um tempo tal, que me fez pensar em voltar pra ver se não tinha acontecido algo. Nem bem comecei a pedalar e as vi. Fiquei parado, esperando.
Estavam mais perto do meu campo de visão, quando percebi que a Alice não estava bem; ela parou e a Carmo parou ao seu lado. Ela baixou a cabeça, sem largar a bicicleta, e fez movimentos como se estivesse com ânsia.
A Carmo fazia sinal para os carros, enquanto eu seguia já próximo a elas, quando um carro pequeno parou mais perto de mim, e logo atrás uma caminhonete. Junto deles vinha uma caminhonete da Polícia Militar, que também parou para atender.
Agradeci o motorista do carro pequeno, e me dirigi ao da caminhonete, que se prontificou a levar a Alice e sua bicicleta.
Enquanto isso, os policiais atendiam e ficaram de levá-la até a UPA de Alter, porém pediram para a Carmo ir junto. Então voltei à caminhonete, e o casal que estava nela prontamente me atendeu, carregando as duas bicicletas na caçamba, que felizmente estava vazia.
Eu segui sozinho pedalando. Faltavam ainda uns 6 km. Pouco talvez, mas naquelas condições, com o calor, subidinhas e meu estômago duro e roncando por causa do caldo de cana...
Não tinha outra alternativa: seguir. A 2 km do destino, percebi a caminhonete do Paulo, da Muriki, vindo na direção contrária, devagar. Parou no acostamento de um lado, e eu parei do outro. Ele manobrou para o meu lado e eu nem pestanejei, colocando a bicicleta nos trilhos e sentando ao lado dele, sentindo aquele ar condicionado maravilhoso, rs.
O Paulo me falou que a Cida, que a essa altura já estava na UPA com a Carmo esperando o atendimento à Alice, contou que eu ainda estava na estrada e com problemas. Ele prontamente foi ao meu encontro. Aliás, na noite anterior, quando dissemos que iríamos pedalando, ele ficou à disposição, afirmando que se precisássemos de algo, ou de socorro, que era só chamar; chamamos, rs.
Acabou dando tudo certo. A Alice ficou no soro um bom tempo, e melhorou; as bicicletas foram entregues no Hotel pelo casal, e foi muito fácil, pois a UPA ficava bem na frente dele.
Chegou a hora de tomar um bom banho, descansar, para de noite participarmos do primeiro jantar com o nosso grupo; conhecer o pessoal e saber mais sobre as nossas atividade pela região.
Sabíamos os nomes dos outros participantes, pois foi criado um grupo de WhatsApp.
Dois casais do interior de São Paulo (Botucatu), a Sandra e o Conrado, e a Rosany e o Wesley, e o Juarez, que também é de Curitiba como nós. Eu não sabia que iria mais um conterrâneo, mas a Cida sim, inclusive ela o conhecia.
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Amigos de São Paulo |
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Juarez, nosso conterrâneo |
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O Staff da Muriki, Paulo - Japa - Marcão (pessoal nota mil) |
O jantar foi muito bacana, e todos se sentiram bem à vontade, e a interação do grupo começou ali mesmo.O Paulo explanou sobre um pouco do que faríamos, comemos bem, e experimentamos a cachaça de Jambu, extremamente picante. Deu alguns mimos, e fomos pernoitar.


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Grupo formado, agora é só iniciar a trip pela Amazônia |
HISTÓRIA:
Fordlândia e Belterra.
Naquela região do baixo Amazonas, às margens do rio Tapajós, nos idos da década de 1920, o mega empresário norte americano, Henry Ford, resolveu investir na produção de borracha, para uso em suas fábricas de automóveis. Sua intenção sempre foi a de produzir todos os insumos da linha de produção de veículos.
Foi assim que adquiriu terras na Amazônia brasileira, no estado do Pará, pois lá foi vivenciado o "Ciclo da Borracha" (1879-1912), criando uma fazenda de seringais para extração de borracha, e fundando em 1928 a cidade de Fordlândia.
A ideia não era apenas criar uma cidade autossuficiente, que também explorasse madeira e minérios, mas transplantar a amerian way of life (jeito americado de viver) para o lugarejo que estava tomando forma.
Ele pagava bem seus trabalhadores, e incorporou práticas trabalhistas como relógios de ponto e jornada de trabalho de oito horas nas instalações do assentamento.
Rebeliões, pragas, baixa produção, transformou a história do lugar em um poço de calamidades desde o início.
Diz-se que ele foi enganado por especuladores de terra, tendo sido indicado a ele um local em que dificilmente se produziria tanta borracha. Seus representantes no Brasil, por outro lado, não tinham experiência suficiente para fazer um negócio desse porte.
Enfim, acabou fechando a Ford Company do Brasil em 1945, antes de vender o terreno de volta ao governo, amargando um grande prejuízo.
A cidade está lá nos dias atuais, mas, é claro, em ruínas, servindo apenas para curiosos turistas que por lá aportam.
É um distrito da cidade de Aveiro.
Antes de afundar totalmente seu projeto, Ford resolveu arriscar em outra área, também às margens do Tapajós, em solos mais férteis, fundando a hoje cidade de Belterra (1934).
Mas o fracasso estava sacramentado, pois a partir de uma certa época, descobriu-se que poderia fabricar pneus a partir de derivados de petróleo. O prejuízo foi de milhões de dólares...
Com a saída da empresa do Brasil, pelos descendentes do magnata, nosso governo a indenizou com 250.000 dólares, assumindo as obrigações trabalhistas dos trabalhadores remanescentes, além de receber seis escolas (quatro em Belterra e duas em Fordlândia); dois hospitais; estações de captação, tratamento e distribuição de água nas duas cidades; usinas de força; mais de 70 quilômetros de estradas; dois portos fluviais; estação de rádio e telefonia; duas mil casas para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias; duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração; departamento de pesquisa e análise de solo; plantação de 1.900.000 seringueiras em Fordlândia e 3.200.000 em Belterra.
Belterra é uma cidade que aproveita muito o legado de Ford, e apesar de sua gente viver principalmente da agricultura familiar, pecuária e pequenas indústrias, tem hoje no turismo uma grande fonte de renda, pois possui praias junto ao rio Tapajós, e também uma floresta intocada e preservada, como a FLONA.
PRIMEIRO DIA:
Saímos embarcados na van da Muriki, e o destino era a cidade de Belterra, local de muita história, que conto logo mais. O Paulo, no caminho, já adiantou um pouco dela para nós. Interessante que de alguma forma a gente já sabia, mas a história contada e observada no local, fica bem mais clara, e ainda mais interessante.
Seguimos rumo sul. Paramos no meio de uma estrada de chão, depois da localidade de Pindobal, talvez cerca de 20 km de Alter. Pegamos as bicicletas e ali começamos nossa aventura com a Muriki pela Amazônia.

Pouco à frente, surpreendentemente, entramos por uma trilha, de mata secundária, bem bacana, e depois de um tempo entrávamos na organizada e planejada cidade.
Fomos direto até a Vila Americana, onde pudemos observar diversos imóveis construídos pela empresa de Henri Ford, além do Bosque das Seringueiras, árvore que motivou o investimento do empresário americano na região.



Em seguida, fomos conhecer um parque, o Platô da Vila Americana, onde se mantém conservadas várias espécies de árvores nativas, além de possuir um lindo mirante para o rio Tapajós. Lembro que a cidade fica numa elevação, um platô, enfim. Infelizmente, em razão da poluição pelas queimadas, também ali não conseguimos uma bela imagem.Mas vimos um ambiente muito legal, com árvores como a Copaíba, o Mogno, Maçaranduba, Pau-Brasil, entre outras.
Um pouco mais de história, e seguimos pedalando pelas ruas da cidade, observando o casario típico da época, inclusive a igreja.
Mantém-se alguns hidrantes usados antigamente, assim como as caixas d'água típica americana.
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Esta seria a casa construída em 1938, para receber o magnata Henry Ford, porém ele nunca esteve lá. Em 1940 acabou hospedando o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas. Foi Secretaria do Meio Ambiente, e hoje está em reforma. |



Henry Ford, nos EUA, construiu
pequenos vilarejos nos arredores de Detroit – Michigan, que depois tornaram-se
grandes cidades, dentre as quais Alberta, num modelo arquitetônico importado do
Sul da Inglaterra, no estilo “Cape Cod”, nas décadas de 1930 a 1950. No seu
empreendimento em Belterra, o estilo seguiu os mesmos padrões, pois as Plantas
Arquitetônicas para lá foram levadas e utilizadas no complexo das 14 casas da
Vila Mensalista – um anexo da Vila Americana, que serviam de moradias ao staff
do alto escalão da empresa.


Paramos num Meliponário, o Eiru Su, onde pudemos conhecer diversos tipos de colmeias de abelhas sem ferrão do baixo Amazonas, e tomamos um belo café, acompanhado de guloseimas produzidas pelos proprietários.
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Explicação sobre o tipo de abelha, e como funciona a produção de produtos |
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Belo de um café, com frutas da época |
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Meliponário
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Pegamos, então, a estrada em direção a Alter do Chão. No caminho paramos num igarapé, uma espécie de rio de água cristalina, no meio da mata, muito comum por lá.Uma delícia tomar banho naquele lugar. Ficamos ali um bom tempo, até chegarmos à cidade.
Foram 32 km, aproximadamente, o passeio total. Muito gratificante.



Já em Alter, procuramos descansar o restante da tarde, porque a programação ainda não tinha acabado. Fomos a pé até a Casa Uru Alter, para um café da tarde, quase de noite, num ambiente super especial, charmoso, com um ar exótico, de comida excêntrica, de sabor bem regional, preparados especialmente pela simpática anfitriã, Thais Helena.
Segundo ela, "a comida tem base profunda nas redes alimentares locais e virtuosas. Está amparada pela produção e consumo de plantas que apoiam segurança alimentar e a redução das emissões, bem como podem promover o desperdício e equidade social tão importantes em tempos de mudanças climáticas.
Somos de vários lugares, mas nosso território de reprodução social, significações alimentares e bioculturais é o Tapajós-Arapiuns-Amazonas."
Assim, o Cardápio que nos foi apresentado, estava pautado na cultura alimentar sem desprezar as multiculturalidades impressas nas mãos que o fazem e o dará de comer aos comensais. Tem como orientação a cozinha de memória, de beira de fogão a lenha acompanhado de avós, tias, primas, mãe.
Os pratos eram servidos um a um, sempre apresentados de formas diferentes e delicadas, em recipientes diversos, e até naturais. Vamos lá:
- Açaí (o puro, e não aquele que costumamos ver aqui pelo sul do país, adoçado por frutas e outras coisas mais). É forte para o nosso paladar, mas extremamente saudável, nutritivo, e usado em diversos pratos, inclusive salgados.
- Água aromatizada com casca de abacaxi, gengibre e açafrão da terra (muito refrescante).
- Café
- Frutas locais e da época: mamão, manga, abacaxi, caju e azeitona (o Jamelão);
- Mingau de banana grande, com leite de coco e cumaru, salpicado de cacau 100%;
Bolo podre e beiju mole na calda de jerimum;
- Beijus de farinha d'água e goma de tapioca com castanhas de Amazônia, vindos do Quilombo de Oriximiná, acompanhada de geleia de cupuaçú;
- Torta de massa de macaxeira com queijo coalho;
- Beiju de três farinhas: bagada, crueira e babaçu, recheado com pesto de jambú, pirarucu defumado e fatia de abacaxi;
- Tapioquinha com queijo coalho, gergelim preto e branco mais chia.


SEGUNDO DIA:
O destino do dia era Ponta de Pedras, aquele mesmo lugar que passamos no sábado, quando partimos de Santarém.
Desta vez saímos pedalando nossas bicicletas, mesmo porque era preciso atravessar da praia principal para a praia dos amores, sem barco mesmo, porque com a seca, isso é possível.
Do outro lado seguimos pela areia, rumo norte, às vezes empurrando, beirando o rio, até chegar à entrada da trilha.
Ali tem um pórtico de entrada, com os dizeres: "Serra Ibitira Piroca - Piroca, segundo o dicionário nheegatu de Ermano Stradelli, significa: 'pelado, depenado, descascado'. Os indígenas Borari ao contemplarem a Serra, desprovida de árvores, a chamavam espontaneamente de Ibitira Piroca (monte pelado, monte sem mato).
Historicamente, desde a época da colonização, este monte é conhecido por Ibitira Piroca ou, simplesmente, Serra Piroca, por conta de ser desprovida da típica mata alta predominante na Floresta Amazônica."
A trilha tem 2 km, e chega ao alto dos 110m, com uma vista 360º.
Mas não seguimos toda ela; por orientação do Paulo, não daria tempo de subir, pois tínhamos que seguir nosso destino do dia. Pensamos em fazer a trilha completa outro dia, o que foi possível.
Como disse, não fomos até o final, e viramos à direita, na metade da trilha, pegando uma outra, ainda mais estreita. Felizmente, tanto uma como a outra, eram de areia batida, sem grande dificuldade para pedalar, apenas a vegetação que crescia aos lados, e alguns obstáculos no chão, dificultavam um pouco.
Muito calor, é claro, e seguimos pela trilha, que chegou até uma pequena estradinha de chão, voltando novamente à mata, e assim foi até Ponta de Pedras.
A região fica à beira do rio Tapajós, e apenas passamos por ali, pois tínhamos que fazer uma visita até o Lago Preto. Primeiro através de uma estradinha, e depois novamente por trilhas, na encosta, até descermos ao lago.
Deixamos as bicicletas no meio de uns arbustos, e fomos nos refestelar nas águas claras e frescas do lago.
Por lá ficamos um bom tempo, para então ir almoçar numa das barracas de praia de rio de Ponta de Pedras, previamente reservado pela Muriki, já que por ser baixa temporada, nem todas as barracas estão abertas e preparadas para atender.
Peixes deliciosos, comida da boa, e era hora de voltar.
O Paulo foi avisado que a Van não conseguiria resgatar a turma, pois índios Borari estavam fazendo um levante, através de barreiras nas estradas, quando protestavam pela preservação do meio-ambiente, já que grandes condomínios estavam desmatando área de preservação.
Briga justa, mas nos deixou com apenas uma opção: voltar pela mesma trilha até Alter do Chão.
Tínhamos pedalado até então cerca de 15 km, e seriam mais 10 km para voltar. Todos concordaram, e em pequenos grupos, fomos retornando.
Lembro que essa era a trilha que eu desconhecia, e não fiz com as meninas, quando da vinda de Santarém. No fim, estava percorrendo por duas vezes num só dia, rs.
A volta foi bem rápida, pois já tínhamos curtido na ida, com paradas e observações do Paulo sobre a região. Então, em apenas uma hora já estávamos sossegados no Hotel, que ficava bem em frente à praia.
Tiramos o resto do dia para descansar, e rodar pela vila, pois já passava das dezessete horas.


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Deixando uma trilha, para pegar outra |

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Vista para o Lago Preto |
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Lago Preto |
TERCEIRO DIA:
Destino: praia de Aramanaí ("Terra de Fartura").
Primeiro, embarcados na van, fomos novamente rumo sul, pelo mesmo caminho para Belterra, porém a 15 km, aproximadamente, e depois de Pindobal, paramos numa bifurcação, pegamos nossas bicicletas, e descemos até o rio Tapajós.
A estradinha era de terra batida, boa de pedalar, e logo chegávamos num ponto em que ela seguia paralela ao rio. Passamos pela praia Paraíso, Comunidade Porto Novo, e entramos numa trilha muito legal, no meio da mata fechada. Era tão fechada, que fechou mesmo, kkk. Árvores caíram e trancaram a passagem. Tentamos abrir o caminho, mas o Paulo achou melhor, por segurança, retornar à estradinha.
Passamos também pela praia de Cajutuba, que fez jus ao nome, pois era época de caju, e comemos alguns que pegamos do pé.
Preciso fazer um parênteses aqui. Sabe que eu trouxe umas castanhas dessas para Curitiba, essas mesmas que eu comi o caju. Deixei secar cinco delas, por quatro meses, e plantei. Não é que quatro delas vingaram, e formaram pequenas árvores. Mudei três delas na casa de praia de São Francisco do Sul, em SC, e delas, duas estão crescendo; uma, infelizmente, secou. Ainda tenho uma muda num vaso, aqui em casa, em Curitiba; vou esperar crescer um pouco mais para transferir para um local definitivo. Legal, né?
Pedalamos no total, pouco mais de 17 km, e chegamos a Aramanaí, um balneário de Belterra.
Lá, enquanto esperávamos pelo almoço, numa barraca de praia, fomos apreciar as belas águas de um igarapé.
Retornamos de van para Alter.
Tudo para nós era "cereja do bolo" da viagem, mas chegava o dia de entrar no meio da floresta, na Floresta Nacional do Tapajós (FLONA).
A FLONA foi criada em 1974, e é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), como parte de um sistema nacional de áreas protegidas. Tem como missão, proteger os recursos naturais e promover o desenvolvimento socioambiental.
Fomos de van, sem bicicletas, pelo mesmo caminho de Aramanaí, do dia anterior, porém um pouco mais para frente.
Passamos por várias comunidades e pela cancela de entrada da FLONA, uma região extremamente importante para a preservação de espécies, tanto vegetais como animais, a nossa biodiversidade.
Fomos divididos em dois grupos, cada qual com um guia. Só é permitida a presença nas trilhas, com um guia da região.
A caminhada começa passando pela mata secundária, para depois entrar na primária, onde aparecem as grandes árvores, como a sumaúma (ou samaúma), por exemplo, que é a árvore rainha da Amazônia, e sagrada para os povos antigos. Suas grandes raízes, as sapopemas, são capazes de absorver água das profundezas do solo, hidratando não só a ela, mas também as plantas vizinhas na época de seca. Tem árvores centenárias por lá.
Os guias paravam, às vezes, e explicavam detalhes da flora; muito interessante.


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Demos uns tragos no cigarro de palha |


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Dizem que é árvore macho, Será? kkk |


Na parte mais íngreme, tem um mirante, e também um belo igarapé, muito bom para um banho refrescante. Depois do banho, retornamos à base, na comunidade de Jamaraquá.
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Um igarapé no meio da mata
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Lá funciona o IPEA, Instituto de Estudos Integrados Cidadão da Amazônia, que dá apoio às práticas ligadas ao extrativismo e à produção artesanal do látex da seringueira na comunidade.
Tem por objetivo, além desse apoio, também realizar estudo de mercado, inventário florestal 100% dos seringais na sua área; estruturar o núcleo comunitário para beneficiamento, armazenamento e comercialização, criando logomarca, embalagens e etiquetas; desenvolvem material de divulgação dos produtos criados, como blog, catálogo e panfletos, entre outros atributos.
As atividades do dia não terminaram por ali. Perto de Jamaraquá havia um balneário (Ponta do Maguari), onde fomos almoçar no restaurante Casa do Elton, especializado em peixe, claro. O Jaraqui e o Tambaqui são os principais do cardápio. Muito bom.
Deu tempo para um banho refrescante no belo igarapé da região.

Para finalizar, uma visita à Unidade de beneficiamento de óleo de andiroba, da Comunidade de São Domingos.
A Unidade tem apoio do Fundo Amazônico, que propiciou uma sede própria, mais estruturada aos associados, nativos da região da FLONA, que fazem o extrativismo sustentável.
O óleo sempre foi usado na medicina tradicional, e agora serve como fonte de renda.
Ele possui propriedades anti-inflamatórias e regeneradoras da pele, podendo ser usado para auxiliar no tratamento de doenças de pele, como eczema, micose ou feridas. Ajuda também, na redução de inchaço da pele, coceira ou vermelhidão. É cicatrizante e hidratante.
Eficaz como repelente de insetos, pois possui limonoides e terpenos.
Nesse caso, queria lembrar aqui, que sob a orientação do Paulo, da Muriki, passamos esse óleo na pele antes de adentrar à mata, posto que na região tem uma espécie de carrapato, muito pequeno, os "micuim", quase imperceptível, que pode causar grandes problemas, principalmente quem tem alergia de pele.
Mas isso não foi suficiente, pois vários do grupo, dias depois, sofreram com coceiras e vermelhidão pelo corpo, como a Rosany, o Conrado e o Wesley, de Botucatu, e a Carmo, de Curitiba. Todos ficaram bem depois de alguns dias, felizmente.
É possível também, extrair de forma sustentável, óleo do piquia, copaíba e cumarú.
Lá também é a sede do projeto "Amélias da Amazônia", de mulheres que fazem produtos naturais, aproveitando os recursos da floresta.
Interessante conhecer o projeto. Possuem uma lojinha, que é atração para os visitantes, que podem adquirir produtos naturais de diversas aplicações.
QUINTO DIA:
Partimos pela manhã, pedalando a partir do hotel em Alter, e logo estávamos na PA 457, a rodovia que liga a Santarém, e que tem ciclovia.
Foram tranquilos 20 km até a entrada de uma estrada secundária, de chão. Até ali, só o calor complicava um pouco. De tempo em tempo parávamos para juntar o grupo.
Dali daquele ponto, até a entrada para a Casa do Saulo, foram mais 8 km, quando chegamos à Inter Praias. Essa estrada que chegamos, é aquela que narrei no começo, naquele primeiro dia (sábado), quando saímos de Santarém. Era o mesmo ponto onde decidimos seguir em frente, e não entrar na Casa, para poder conhecer com a turma.
Mais um pouco, menos de um quilômetro, e estávamos na frente da famosa, bonita e aconchegante Casa do Saulo.
História:
O restaurante começou em Santarém, há mais de 15 anos, e eram apenas 5 mesas para servir amigos após aulas de kitesurf. Hoje soma três prêmios como melhor restaurante da Região Norte, pela revista Prazeres da Mesa (@casadosaulotapajos).
Tem uma pousada no local, a Bangalôs da Selva, uma imersão de floresta com 10 bangalôs com vista para o rio Tapajós (@bangalosdaselva).
Outro empreendimento é o Casa do Saulo de Onze Janelas, cartão postal de Belém, às margens da baía do Guajará, com os mais belos pores do sol e culinária tapajônica com a raiz paraense (@casadosauloonzejanelas).
Outro é Casa do Saulo Quinta de Pedras, casarão do século XVIII, intimista e aconchegante, onde o Jardim é um atrativo junto à cozinha contemporânea e de fusão servida por lá (@casadosauloquintadepedras).
Por último, a Casa do Saulo Museu do Amanhã, uma experiência sensorial amazônica na cidade do Rio de Janeiro, por meio da curadoria do FRUTUROS (@casadosaulomuseudoamanha).
O Saulo foi nomeado Embaixador da Gastronomia Brasileira da Região Norte em 2022.
Bem, nesse restaurante que ali estávamos, a estrutura para receber seus clientes, é bem luxuosa, e mistura o moderno com o tradicional da região, com piscina e áreas de repouso. Um deck leva até a praia e também aos bangalôs.
Tudo que fazem lá, é para viver uma experiência Amazônica. Respeitam e ressaltam suas raízes, hábitos culinários, a sustentabilidade e o retorno social consciente.
Os peixes, as farinhas, as ervas, as frutas e os artesanatos vêm de pequenas comunidades rurais e/ou ribeirinhas próximas a Santarém. Uma cadeia produtiva sustentável que fazem questão de manter, respeitando os ciclos naturais e conhecendo a origem dos produtos que levam sabor e valor até a sua mesa.
É claro que os pratos servidos são, de certa forma caros, mas cada um deles ajuda a manter projetos sociais, como a "Casa do Saulo Amigo", uma parceria público/privada que colabora com a educação de 75 crianças em uma escola comunitária: "Tapajós Vivo", no qual levam fomentos de treinamentos conscientes de manejos, cultivo do plantio orgânico; "Cozinha Tapajós", quando chefs de toda a América Latina trocam experiências com chefs de Santarém, em uma imersão pela cadeia produtiva amazônica.

Chegamos praticamente no horário em que a Casa abre, às onze horas, então o jeito foi relaxar por lá, nos espaços próprios, visitar toda a propriedade e ir até a praia junto ao rio Tapajós.



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Hora do almoço |
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Pratos deliciosos |
Hora de voltar para Alter. Fomos embarcados; não pedalaríamos mais, porém ainda tinha atividades pela frente, dentro da programação da Muriki.
A tarde foi de descanso, para então, de noite, irmos até um local encantador, à beira de uma praia junto ao Lago Verde.
Saímos a pé, todo o grupo, guiados pelo Paulo, e talvez a um quilômetro do Hotel, chegamos ao final de uma viela, que virou uma trilha; trilha essa que levava até à praia. A partir dali, o percurso era todo enfeitado, cercado de tochas, muito bacana e intrigante; exótico, cercado de uma certa alquimia, e que fascinou mais ainda ao chegar à praia, onde foi montada uma bancada e uma mesa, toda esculpida na areia.
Ao redor, as tochas acesas deixavam o ambiente ainda mais acolhedor, e a música soava gostosa ao fundo. Um grupo nos esperava. Era o receptivo do evento, a PIRACAIA.
Piracaia (Pira- peixe, e Kaia- queimado/assado), é um termo de origem tupi-guarani, que significa "peixe queimado" ou "peixe assado". O nome se refere à forma de preparo de peixes em rituais e festas indígenas, onde o peixe é assado na brasa, ou sobre pedras quentes.
Pois então, estávamos num verdadeiro ritual, uma cerimônia bem legal, lembrando essa tradição indígena. Lógico que se aproveita hoje para atrair a nós, turistas, mas isso não tira o brilho.
Aliás, brilho é que não faltou; o céu estrelado, o reflexo da luz nas calmas águas do lago, a comida, as tochas acesas, a música e a dança.
Sim, teve dança. Uma das anfitriãs, professora de carimbó, dançava suave e maravilhosamente nas areias frescas da praia, à nossa frente, e não suficiente, nos convidou para aprender a dança. Acredito que todos nós abraçamos a ideia e nos divertimos muito, fazendo as coreografias ensinadas pela mestre.
Bebemos caipirinha de diversas frutas que ali estavam, e nos deliciamos com as guloseimas típicas da região que nos foram servidas.
Que noite maravilhosa!

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Peixe assado na brasa, na areia. |
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Prato servido com comida típica amazônica |
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Apresentação de dança do Carimbó |
Uma pena, mas tínhamos que deixar a Piracaia e voltar para o Hotel. Mas a noite parecia que não acabava. Os festejos de carimbó estavam à toda na parte central da vila.
A música rolava solta num pequeno palco, e o povo local, misturado aos turistas, dançava alegre o ritmo frenético do carimbó.
Sexto Dia:
Nesse dia não havia uma programação "oficial" da Muriki, apenas a sugestão de fazer passeio de barco pela região, principalmente até o rio Arapiuns.
Eu e a Carmo resolvemos ficar em Alter, caminhar por lá. O Juarez nos acompanhou por um tempo; a Cida ficou fazendo outras atividades, e a Alice, com os casais de Porecatu, Sandra e Conrado e Rosany e Wesley preferiram seguir a dica do passeio no rio.

O passeio de barco leva até à comunidade Coroca, com visita ao artesanato local, ao Lago das tartarugas e também um Meliponário.
Pode-se conhecer as praias da Ponta do Icuxi, Ponta do Toronó, Ponta Grande e Ponta do Caracaraí.
No final, ainda, quando possível, dá para vislumbrar um belo por do sol em Punta do Cururó.
Se divertiram bastante, segundo relataram na volta. Infelizmente o clima não estava tão propício, e a parte da navegação no extenso rio, com a batida dos ventos, não foi tão tranquilo.
Nos últimos momentos na Amazônia, procuramos conhecer um pouco mais da cultura local, experimentando o tacacá, entre outras guloseimas. Caminhamos até o Morro da Piroca, já citado aqui, descansamos na piscina do hotel e na praia do lago verde
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Experimentando o Tacacá
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Yaamo se refere a espíritos da floresta na cosmologia WaiWai.
Chamam de "Vivência YAAMO".
Lá conheceram a história do povo WaiWai.
No local é possível ver apresentação de danças, como Dança da Bebida, dos Caçadores, do Tracajá, e do Yaamo.
Tem ritual de benção e é servida uma comida tradicional.
Eles botaram a mão na massa, literalmente, com o manuseio da mandioca; se divertiram com o arco e flecha; manuseio de adornos, etc.
E essa conto mais pra frente: Lagos do sul do Chile, realizada em março/abril deste ano de 2025.
Abraços
Sensacional relato e pedal. Parecia q estava junto...
ResponderExcluirQue legal. A ideia é essa mesmo, que as pessoas possam seguir nessa viagem junto, mesmo que apenas lendo a história. Valeu! Abraços e boas pedaladas.
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