PRAGA – LINZ – GREIN – TULLN – VIENA
Cedo acordamos e partimos para a estação, logo ao lado. A manhã daquela quinta-feira, dia 27 de setembro, estava cinzenta, e alguns pingos foram sentidos enquanto seguíamos. Esperamos pela publicação no painel de partidas, e depois de algum tempo soubemos que o trem sairia da plataforma 7-J. Sem dificuldades a encontramos e a composição já nos aguardava. Bicicletas no lugar próprio e lá fomos nós, com destino à Áustria, cidade de Linz. Saída pontual às 07h16, e chegada 12h16 na estação de Linz.
Viajar de trem às vezes também é bom. A vista dos lugares que passamos fica diferente daquela de quando pedalamos. No começo ainda existiam alguns morros, mas aos poucos, ao se afastar de Praga, a paisagem voltou a ser plana, para novamente, na divisa com a Áustria, passar para montanhoso.
O trem passou por Benesov, Votice, Tábor, Sobeslav, Veseli nad Labem, Céske Budejovice, Kaplice e Dolni Dvoriste, na República Tcheca e Freistadt e Gallneukirchen, na Áustria.
Chegar ao Danúbio foi uma emoção especial. Estamos novamente na região dos Alpes, onde já estivemos em outra jornada de bicicleta (região de Insbruck). No horizonte, olhando para o sul, já se observam as primeiras montanhas, menores é claro, mas que fazem parte do complexo que é um espetáculo quando neva; além dos lagos que forma, etc.
Desembarcamos e procuramos dar uma volta pela simpática cidade de Linz, e almoçar. Corríamos, de certa forma, contra o tempo, pois tínhamos muito chão pela frente até Viena, ou seja, cerca de 225 km, que pretendíamos fazer em dois dias.
Eram duas da tarde quando pegamos a ciclovia à margem do Danúbio.
Lindo, lindo, lindo. É o mínimo que posso dizer do Danúbio. É largo, simétrico e navegável para balsas e alguns barcos de passageiros; parece um canal feito pelo homem. Talvez até seja, em alguns pontos, de dezenas em dezenas de quilômetros, existem barragens, que trazem comportas para passagem dos barcos. A vegetação ao largo é composta por árvores típicas de região onde neva. No começo não havia morros, mas aos poucos eles foram aparecendo, e tornando o passeio ainda mais bonito. A ciclovia, perfeita, determinava que se passasse de um lado para o outro do rio. Ao contrário do Elba (Labem), no Danúbio estamos descendo o rio, assim parece que sempre estamos em vantagem. Mas as coisas enganam com o vento contra, lembrando que com a superfície plana, não há descanso na pedalada; há que se pedalar sempre...
Quando começou a aparecer mais montanhas e a paisagem ficando ainda mais bonita, estávamos chegando à cidade de Grein, 64 km depois, e que nos recebia com uma fortaleza em sua encosta. Percebemos que era hora de parar. A média do passeio, com as paradas, necessárias, não era tão grande, e não tínhamos certeza de abrigo logo adiante. Grein é uma pequena vila, e que também tem sua história, antiga é claro. Hoje tem várias hospedagens para cicloturistas como nós. Os cômodos não são baratos nessa região, mesmo nas pensões, mas muito bem cuidados e o serviço sempre de primeira. Jantamos num restaurante indicado pela proprietária da pensão. O lugar fica bem à margem do rio, e existem fotos das enchentes de agosto de 2002, que cobriu praticamente todo o estabelecimento.
Cálculo aritmético é fácil, não é? 225 menos 64, sobra 161 km para percorrer no dia seguinte, sexta-feira. Fácil, fácil. Bom que sou eu a escrever por aqui, porque se fosse a Carmo... ai, ai, ai.
O jeito é pegar a ciclovia e ver no que vai dar. O café foi servido tarde, e conseguimos partir apenas 08h30 (olha a conspiração...). Independente de conseguirmos chegar a Viena ou não, é que a paisagem que vislumbramos nesse trecho foi fantástica. Castelos, alguns em ruínas, apareciam de longe no alto dos morros. Alguns deles podiam ser visitados. Muitas dessas edificações pertencem a grandes cultivadores de uvas, e produtores de grandes vinhos. Pequenas e charmosas vilas eram cortadas por nós uma a uma, e às vezes deixávamos a margem do rio para passar no meio de parreirais. Acredito que logo vai ter colheita, pois as parreiras já estavam carregadas. Novamente as macieiras estavam presentes, e paramos para pegar algumas frutas.
Foi assim que o tempo passou: pedalando, curtindo a paisagem, cruzando com muitos e muitos ciclistas, algumas vezes em grupos organizados, com guia e tudo, sem roupas apropriadas e sem bagagens, o que indicava passeios mais curtos, entre cidades, o que é muito comum na região. Fizemos apenas pequenos lanches durante a difícil empreitada. Lembro, é difícil porque temos que pedalar o tempo todo, e isso deixa as pernas duras. Começamos a fazer contas novamente, e tudo indicava que para chegar a Viena, somente apurando muito a pedalada, e assim mesmo era certo que seria ao anoitecer.
Chegar a uma cidade grande, de noite, não é uma boa ideia, principalmente quando não se conhece ela. Sensato seria parar antes e pela manhã dar a cartada final. Foi o que fizemos. Depois dos longos 136 km, chegamos a Tulln, uma pequena e encantadora cidade, próxima a Viena. Perguntando chegamos ao Posto de Informação ao Turista, e em seguida nos abrigamos no Albergue da Juventude. Sabia decisão. Jantamos sossegados, descansamos bem e no dia seguinte pedalamos tranquilamente até Viena. Falando em jantar, lembrei da Carmo escolhendo o que comer no restaurante. Como não entendia o cardápio em alemão, pediu em inglês, e não adiantou nada, pois quando sua sopa chegou, o aspecto daquela bolinha, naquela cambuquinha pequenina, com um pouquinho de caldo, na hora falei para ela: - Carmo, isso aí deve ser testículo de boi. E soltei aquela gargalhada. Um pouco constrangida, procurou pelo seu dicionário, mas estava no quarto. Não sossegou enquanto não chegava ao Albergue. Ansiosa correu para o livrinho e descobriu: - Sergio, tá aqui, olhe. “Clear beef soup with liver dumpling”, quer dizer “Sopa de Fígado de Boi”. Ah, melhorou!!!! Continuei a rir, pois que tinha cara daquilo tinha. Ela disse que o gosto era estranho...
Neste sábado, dia 29, depois de pedalar mais 44 km (total de 180km-deveria ser considerado também o trecho até entrar no centro de Viena), chegamos. Esse sim foi um pedalzinho sossegadinho, tranquilo, com a mesma paisagem de morros ao entorno, poucas vilas, e duas vezes tivemos que transpor o rio. Tinha o endereço de dois Albergues da Juventude (tem três em Viena), e resolvemos ficar naquele que fica localizado mais próximo ao rio Danúbio, com fácil saída para Bratislava e Budapeste. Depois de perguntar daqui e dali, chegamos ao Albergue. Novo, bonito, mas que não permite fazer suas próprias refeições, nem bebidas alcoólicas podem ser consumidas, e não há espaço para lavar e secar roupas. Conceito diminuído...
Lá pelas duas da tarde fomos a pé até o centro histórico. “Apenas” uma hora e meia depois, chegamos. Mas vale à pena. Gostaria nestas horas de ser mais culto para entender esta cidade. Interessante você saber que por aqui viveu Strauss, o “Moço”, e tantos outros expoentes da música e das artes. A Áustria é a terra de Mozart, que nasceu em Salzburg. Chegamos a conhecer alguns dos belos prédios históricos, sem entrar; almoçamos, e quando estávamos discutindo o que fazer, começou a chover. Procuramos uma lojinha para comprar um guarda-chuva, e como não estamos em Curitiba, lá se foram 10 euros...
Amanhã vamos curtir melhor essa bela cidade.
Clic aqui e assista ao vídeo da chegada a Viena http://youtu.be/_ZNXAfOJS7E
Clic aqui e assista ao vídeo da chegada a Viena http://youtu.be/_ZNXAfOJS7E