ROTA DAS EMOÇÕES 2014
De 29 a 31 de agosto
JERICOACOARA A CHAVAL
Era preciso deixar Jeri; não tem jeito, pois a aventura
continua. Então, pela manhã, não muito cedo devido à maré, percorremos as
estreitas ruas de areia da vila, empurrando nossas bicicletas até a beira da
praia. Passamos pela duna Por do Sol, depois deslizamos suavemente pela parte
dura da areia, ao sabor do vento; logo estávamos na região de mangue seco (onde
se vê os cavalos-marinhos).
Ao chegarmos ao braço de mar, que separa os municípios de
Jijoca e Camocim, tentei cruzar a barra pela areia da praia, mas a maré não
estava baixa o suficiente, e estava começando a “naufragar”, com bicicleta e
tudo. Havia pedido para o pessoal ficar na areia firme, enquanto tentava a
travessia, acompanhado pelo Sergio Benthien. Desisti. Decisão sabia, pois
apesar do nosso bugueiro do dia anterior ter afirmado categoricamente que era
possível passar, pescadores informaram que não teríamos chance, pois com a
vazante, forma-se um canal de fortes correntezas, e apesar de parecer curto o
trecho, é muito difícil fazê-lo. Deveria ter seguido meus instinto e fazer o que
fiz das outras vezes: pegar a balsa.
Contornamos a ponta da areia, e retornamos por dentro da
barra até as balsas; negociamos o preço e seguimos em diante. Devo ressaltar
que agora as balsas estão propulsionadas por motores, tipo rabeta; antes as
movimentavam com longos troncos de bambu. Tivemos que passar pelo trecho de
areia fofa, fazendo um “empurrabike” por um tempo. Felizmente o lugar é bonito,
com árvores de mangue e suas raízes altas, e que deixam uma imagem contrastante
com a cor do mar.
Mais um longo trecho de areia, praias desertas, em torno de
20 km, e cruzamos o braço de mar de Tatajuba e Nova Tatajuba. Passamos pela
praia do Coqueiro Solitário e chegamos fácil, digamos, à barra do rio em
Camocim. Dali era só atravessar para a cidade e continuar a viagem. Porém,
resolvemos descansar um pouco no bar e restaurante, que fica numa barraca junto
ao atracadouro da balsa. Bebemos e comemos por ali mesmo. Foi uma delícia... E
para complementar, apareceu uma “figura”, o Beto. Um paulista de Guarujá, madeireiro,
que viajava por aquelas bandas, a serviço. Baixo, com um barrigão enorme,
pernas curtas e era quase careca. Chegou do nada de outra mesa, com um copo de
bebida na mão (segundo ele colocaram wisky na água de coco), pegou um
banquinho, sentou-se e começou a contar piada, principalmente de gaúcho, com
sotaque e tudo, pois soube que éramos do sul. Tivemos que aguentar as
brincadeiras, mas foi divertido afinal. Quando ele resolveu parar de falar e
retornou para sua mesa, tínhamos praticamente certeza que era um gaúcho
enrustido (rs).
Atravessamos para o outro lado e fomos direto lavar as
bicicletas num lava-jato. Já era
conhecido. Nós mesmos fizemos o serviço. Perto das duas horas da tarde fomos
procurar uma bicicletaria; a bicicleta do Fábio precisava de um câmbio traseiro
novo. Demorou muito o serviço, mas a bicicleta ficou novamente em boas
condições. Apesar de termos ainda quase 50 km pela frente, por asfalto, isso
não incomodava, pois o calor era maior naquele horário. Passamos por
Barroquinha, mas ao contrário da expedição do ano passado, não ficamos por lá –
a hospedagem é muito precária. Chegamos a Chaval no começo da noite, com faróis
ligados, mas ainda cedo, perto das seis horas. Mais de 90 km percorridos no
dia.
CHAVAL A PARNAÍBA
Pouco depois das oito da manhã deixamos a cidade de Chaval.
Deixávamos também o Estado do Ceará, para atravessar o Piauí. Cinco quilômetros
e paramos na divisa para uma foto especial. É preciso dizer que a passagem pelo
Ceará foi esplêndida; tudo deu muito certo, seja a maré, o vento a favor, a
integração do grupo, etc. Todos muito felizes, curtindo muito a jornada. A
esperança é que esses “bons ventos” continuassem no Piauí.
A paisagem na estrada, na saída de Chaval é muito legal. É
completamente diferente do que víamos até então: pedras brancas de formatos
interessantes, misturado com os cactos na mata, formavam um cenário bem
cangaceiro, levando a mente a imaginar que dali a pouco o bando de Lampião e
Maria Bonita cruzariam a estrada, fugindo dos soldados das volantes.
Apesar de interessante, a estrada é “pesada” para pedalar. O
vento não colabora; não estamos mais no litoral (neste trecho não é possível,
ou fácil, seguir por lá) e o calor no asfalto é muito maior do que à beira mar.
Infinitas retas, em sobe e desce, deixaram o
cenário desanimador. Mas ao avistarmos novamente o litoral, as coisas
modificaram, pois apareceram as dunas, o próprio mar, o vento a favor,
descida... Logo chegamos à praia de Coqueiro para descansar e almoçar. Já
havíamos parado duas vezes no caminho para hidratação, mas era preciso comer
alguma coisa. Tomamos banho de mar, curtimos a tarde e fomos para a cidade de
Parnaíba, passando por Luiz Correia.
Infelizmente não cruzei novamente com o amigo Genário, um
guia da região que conheci noutra oportunidade, e que mora por lá. Ele estava a
caminho do aeroporto, em viagem de trabalho, e conversei com ele apenas por
telefone. Talvez encontre com ele em Barreirinhas, no Maranhão, onde escrevo
agora.
Era hora, agora, da despedida de um dos membros do grupo, o
Sergio Benthiem. Ele havia deixado claro de antemão que não poderia fazer a
expedição até o final, e voltaria de Parnaíba para Curitiba, passando novamente
por Fortaleza. Preferiu fazer um reconhecimento da região do aeroporto, dar uma
volta pela cidade, e acabou se hospedando em pousada diferente da nossa. De
noite cruzamos ainda com ele, assim como na manhã do dia seguinte, quando
pegaria seu voo.
Como ainda era cedo, por volta das quatro da tarde,
procuramos por uma bicicletaria para conserto, desta vez da bicicleta do
Wendell. A partir de certo momento, o cassete (catracas traseiras) estava
girando em falso, ficando sem tração. Chegamos a empurrá-lo num trecho, mas às
vezes a tração voltava. Apesar de ser um sábado, tinha loja aberta, felizmente.
Desmontaram a peça inteira, limparam, lubrificaram e parece que tudo voltou ao
normal. Abrigados, tomamos um bom e revigorante banho e fomos jantar.
É preciso lembrar, ainda, um fato curioso e ao mesmo tempo
impressionante: Linhares, um ciclista da região, de bicicleta speed, que cruzou
conosco entre Luiz Correia e Parnaíba. Assim que percebeu o grupo, deu meia
volta, e emparelhou conosco, perguntando sobre nossa aventura. Mas a aventura
maior, sem dúvida, era a dele. Ele pedalava apenas com uma perna...
PARNAÍBA
Escolhi levar o pessoal nesse dia de “folga” para conhecer a
Pedra do Sal, um dos locais preferidos do piauiense para curtir as praias do
seu curto litoral. Fica aproximadamente a 20 km da cidade. Manhã preguiçosa de
domingo e saímos depois das dez. Bicicletas levezinhas sem a carga de viagem.
Porém a ida é com vento contra; rendimento baixo é claro. Passamos antes na
agência para acertar o transporte de barco pelo delta. Passamos pela ponte
sobre o rio Igaraçú e continuamos pela estreita e perigosa estrada até lá.
Percebemos que estão duplicando a estrada, sendo certo que as coisas vão
melhorar nesse sentido. A região também contempla uma “plantação de
ventiladores gigantes” (rs).
Encontramos uma acolhedora barraca de praia e por lá ficamos.
Ela se encontra praticamente na divisa do mar de praias bravas, com o mar em
enseada, junto às pedras, de praia mansa. Bebemos muita cerveja; era merecido.
Tudo estava muito bom. Eu disse “bebemos”, porque também aderi, um pouco, ao
“suco de ceveda” refrescante. Resolvemos
não almoçar, mas sim apenas fazer uma “boquinha” para fazer uma refeição melhor
de noite.
Num determinado momento, apareceu outra “figura” em nossa
mesa. Tratava-se do Bob, um simpático e folclórico senhor com cerca de 80 anos
de idade. Parecia uma mistura de Sivuca, com Raul Seixa e Falcão. E já checou
dizendo: “Eu sou palhaço, artista, ator, mágico, cantor (sic). Já trabalhei até
com o Rei. Vocês sabem; o Rei Roberto Carlos. Vou cantar um trecho da música,
vocês vão conhecer. Eu hoje estou aqui
vivendo estes momentos lindos... Eu sou palhaço, mas ninguém liga pra mim;
estou velho e as pessoas não dão bola, mas eu sou cantor, vou cantar mais um
trecho de música... Eu sou corno; sou corno sim, kkkk. Vocês me dão um
dinheirinho? Eu falo muito, não? Kkkk. Me dão um trocado aí para eu sair da
mesa...” Saiu.
Enquanto estávamos por lá, passaram muitos vendedores também,
mas uma coisa chamou a atenção: um sujeito tinha espetado num pau várias
arraias, já limpas. Confesso que não gostei do que vi. Vendiam ovo de codorna,
camarão assado, amendoim, castanha, queijo coalho, pastel, crepe, e tantas
outras coisas. Vale lembrar que a praia estava bem movimentada, pois domingo
diversos ônibus saem do interior do estado para essas praias.
Na volta, no meio da tarde, retornamos para a cidade, com
vento a favor, e fomos tomar um sorvete especial, de frutas típicas da região
nordeste. O dia estava completo, só faltava chegar a noite para jantar e
descansar.
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