segunda-feira, 28 de abril de 2014

BREJO GRANDE

ARACAJÚ – BREJO GRANDE

Como combinado, acordamos cedo e às sete da manhã já estávamos deixando Aracajú. Foram mais de 10 km percorridos desde a praia da Atalaia até passar pela linda Ponte Estaiada. O movimento de carros já era intenso, chegando a praticamente parar perto do centro. Mas de bicicleta fomos mais sossegados, pois a cidade conta com ciclovias e ciclofaixas que permitem grande agilidade para nós ciclistas.






Cruzamos por Barra dos Coqueiros e iniciamos a jornada, propriamente dita, pela estrada, rumo norte, até Pirambú. O sol já castigava desde cedo e outro fator passou a ser preponderante dali para frente: o vento contra. Soubemos mais tarde que no dia anterior chegou a bater vento sul, o que nos ajudaria, mas justamente neste momento virou pra leste e a coisa complicou. Apesar de plano, a velocidade atingida dificilmente chegava a 20 km/h.

Depois de um bom tempo, e um pneu furado, cruzamos a ponte da cidade de Pirambú, que fica junto à foz do rio, e que à frente possui lindas praias. Aliás, praias que deveríamos conhecer, pois o planejado era seguir por elas até onde desse, pois nosso destino no dia era a foz do rio São Francisco. Seriam mais de 40 km de praias desertas, onde somente tartarugas transitam protegidas, para botar seus ovos e seguirem com suas vidas marinhas.


Havia, é claro, necessidade de conhecer a tábua das marés. Começamos a questionar com moradores locais. Num grupo de taxistas, eles orientaram a pegar a estrada de piçarras (chão de pedras), indicando que a maré não seria favorável e, talvez, pegar a praia a partir de Lagoa Redonda perto de 30 km dali. Era mais longe do que seguir pela praia, mas garantida a passagem. Havia a opção, essa mais longa ainda, de seguir pelo asfalto mesmo, passar por Japaratuba, até a BR 101; dali pegar outra estrada, cruzar a cidade de Jaboatã, até chegar a Neópolis, onde há balsa para Penedo, atravessando ali o rio São Francisco. Eu e a Carmo já fizemos isso em 2006 e não queríamos repetir. Mesmo porque era bem mais longe e sem graça alguma.

Resolvemos dar uma olhada na praia local, antes de decidir seguir pela estrada de piçarras. Ao chegarmos fui até à beira da praia verificar as condições da areia, e realmente parecia difícil transitar por ali, e a maré ainda estava alta. Conversando com o gerente de um bar, este nos falou que poderíamos seguir pela praia uns treze quilômetros, até Lagoa Redonda, e depois pegar a outra estrada, mas não tinha muita convicção do que dizia. Resolvemos seguir a orientação dos taxistas, e voltamos para a vila, pegamos o asfalto por mais alguns quilômetros, até entrar num outro povoado, à direita, para chegar à tal estradinha. Logo no começo uma baita de uma subida e a Carmo teve cãibras. No alto do morro a estrada ficou mais plana, mas o calor estava sufocante.


Com tanta dificuldade, já cansados e com fome, chegamos à Lagoa Redonda. Cruzamos toda a vila e chegamos ao final da estrada, à beira de um riacho. Lá tinha opção de almoço, e o “Peteca” nos atendeu. Pescador, sabia tudo de maré, é claro, e, perguntado, logo disse que a partir das três horas seria possível seguir pela praia por mais cerca de 20 km até o povoado de Ponta do Mangue . Perguntamos sobre a estrada que leva a Brejo Grande, e ele respondeu que tinha de voltar um trecho da vila e pegar à direita. Realmente cruzamos com essa entrada, mas não havia qualquer sinalização.

O jeito era ficar por ali mesmo, almoçar, descansar, e seguir pela praia. Seria mais rápido e prazeroso. Tínhamos uma hora e meia para esperar. Ficamos ali pelo rio, nos refrescamos até sermos servidos, numa mesa de bar, dentro do próprio rio, à sombra das árvores. O prato de peixe frito trazido para nós, fez com que disséssemos que estávamos só nós ali, e que a família tinha ficado (rs). Estava muito bom, mas não conseguimos comer tudo.




Deixamos o local agradável, atravessamos o rio e seguimos em direção à praia, por entre os coqueirais. Um quilômetro depois e avistamos a linda praia. Havia uma faixa de areia suficiente para pedalar, e a maré realmente estava baixando gradativamente. No começo, em alguns trechos tivemos que descer das bicicletas, mas no geral seguia bem; se o vento colaborasse, seria dos deuses, mas parece que só havia aumentado sua intensidade. Entendemos o porque do parque Eólico existente antes de Pirambú, perto do porto de Aracajú.


O tempo passava e não rendíamos bem; a Carmo sofria muito para seguir, e deixava de pedalar e seguia a pé. Víamos o Rubens se afastar cada vez mais lá na frente, e o sol a se pôr à nossa esquerda. O cenário não poderia ser mais bonito, ainda mais com as lindas dunas que seguiam paralelas à praia, ao longe, mas o cansaço era mais forte, e não vislumbrávamos qualquer pista sobre a tal vila; só víamos praia pela frente. Os quilômetros foram passando e passando. A vontade era de parar e tomar um bom e refrescante banho de mar, mas o final da tarde estava chegando; o dia acaba cedo no Nordeste.

O sol se pôs, não víamos mais o Rubens; nem ele e nem mais ninguém ou alguma vila. Era bom ele ir à frente pra ver se descobria algo. Cheguei a avistar uma antena, perto das dunas, mas não vi casas, nem luz, e segui. Nessas alturas a Carmo ficou um pouco mais atrás. Finalmente vi movimentação à frente: era uma carroça, com algumas pessoas, vindo em nossa direção. Tinham acabado de deixar uma rede de pesca no mar e voltavam para a vila. Perguntei sobre a vila e disseram para seguir o rastro da carroça, no sentido contrário do qual vínhamos. Mas e o Rubens? Teria ele seguido em frente; não havia rastro na praia. Será que ele entrou em algum ponto para procurar a vila? Perguntei por nosso amigo, e ele apenas falou: - por aqui ele não passou, mesmo porque ninguém segue mais a frente, a praia acaba logo ali nas pedras, e depois já é o rio. Falava do rio São Francisco, ou seja, chegamos à foz do rio. Fim da linha.


Quando viramos o corpo na direção contrária, logo vimos um farol aceso, daqueles típicos de bicicleta, cerca de quinhentos metros de distância. Só podia ser o Rubens vindo naquela escuridão. Ele também viu a antena, largou a bicicleta em algum ponto (fora da nossa visão), e foi correndo até o alto das dunas. Lá, não achou nada, apenas pontos de luz, que seriam casas. Deveria ter visto mesmo as luzes das casas da vila. Fiquei preocupado em não encontrá-lo, mas acabou dando tudo certo. Bem, tudo certo não é bem a coisa, pois o perrengue não tinha acabado. Seguimos a trilha da carroça, com os faróis, e o carroceiro vinha logo atrás, no breu; escutávamos o barulho. A trilha estava alagada, com trechos fundos, e quase fui para o brejo. Alertado pela voz ao longe do pescador, saí da parte funda e segui uma espécie de ponte de troncos de árvore do lado direito. A Carmo e o Rubens seguiam passos atrás. Finalmente chegamos à vila. Era um lugar chamado Boca da Barra.

As casas ficavam esparsas pela estradinha de areia; viam-se apenas suas luzes. Logo percebemos que a carroça entrou em uma delas e desapareceu. No breu fomos seguindo a estrada pensando chegar no “centro”, mas não havia um. Pelo menos tinha um barzinho, e foi ali que decidimos a sequencia do dia, ou da noite...

O casal proprietário era muito bacana, nos recebeu bem. Eram o Ninho e a Maul. Pedimos um refrigerante e praticamente deitamos no espaço vazio do bar. Até eu começava a ter cãibras, talvez pelo esforço dobrado feito em alguns trechos da praia, quando ajudei a Carmo, empurrando-a. Procuramos por algum abrigo para dormir. Havia a casa de seu Jorge, que costumava receber pessoas para tal fim. O Ninho seguiu gentilmente de moto até lá, e retornou com a notícia de que a casa do sujeito (na verdade uma escola) estava sem água e a esposa estava fora; não seria possível nos receber. Brejo Grande, uma vila maior, à beira do rio São Francisco, nosso objetivo do dia, ficava a, talvez, uns 20 km dali. Realmente não tínhamos condições de seguir pedalando. Perguntamos por transporte, e novamente o proprietário deu um jeito, ligou para um parente que fazia frete e morava numa outra vila vizinha. Lá veio ele, de Ponta do Mangue, local antes indicado pelo Peteca, depois de algum tempo, com sua pick up Strada.

Acomodamos as bicicletas na caçamba e seguimos até Brejo Grande. Percebemos que seria difícil pedalar até lá. O homem nos deixou na porta da Pousada Raízes, um lugar bacana da pequena e simples vila. Tomamos um belo de um banho e fomos até a praça principal encontrar algo para comer. Achamos uma pizzaria, sem forno a lenha, mas o suficiente para repor os carboidratos para a sequencia da jornada. Uma bela noite de sono e com certeza estaríamos refeitos.

2 comentários:

  1. Olá pessoal: Pelo jeito o perrengue foi grande mesmo pois quando acabei de ler até eu já me senti exausto. Um abração a todos e divirtam-se muito. IIIIIIIIIIUUUUUHHHHHRRRRUUUUU........

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  2. Comigo é assim né Neimar, só perrengue, kkkkk. Mas tem mais pela frente... Grande abraço.

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