ARACAJÚ – BREJO GRANDE
Como combinado, acordamos cedo e
às sete da manhã já estávamos deixando Aracajú. Foram mais de 10 km percorridos
desde a praia da Atalaia até passar pela linda Ponte Estaiada. O movimento de
carros já era intenso, chegando a praticamente parar perto do centro. Mas de
bicicleta fomos mais sossegados, pois a cidade conta com ciclovias e
ciclofaixas que permitem grande agilidade para nós ciclistas.
Cruzamos por Barra dos Coqueiros
e iniciamos a jornada, propriamente dita, pela estrada, rumo norte, até
Pirambú. O sol já castigava desde cedo e outro fator passou a ser preponderante
dali para frente: o vento contra. Soubemos mais tarde que no dia anterior
chegou a bater vento sul, o que nos ajudaria, mas justamente neste momento virou
pra leste e a coisa complicou. Apesar de plano, a velocidade atingida
dificilmente chegava a 20 km/h.
Depois de um bom tempo, e um pneu
furado, cruzamos a ponte da cidade de Pirambú, que fica junto à foz do rio, e
que à frente possui lindas praias. Aliás, praias que deveríamos conhecer, pois
o planejado era seguir por elas até onde desse, pois nosso destino no dia era a
foz do rio São Francisco. Seriam mais de 40 km de praias desertas, onde somente
tartarugas transitam protegidas, para botar seus ovos e seguirem com suas vidas
marinhas.
Havia, é claro, necessidade de
conhecer a tábua das marés. Começamos a questionar com moradores locais. Num
grupo de taxistas, eles orientaram a pegar a estrada de piçarras (chão de
pedras), indicando que a maré não seria favorável e, talvez, pegar a praia a
partir de Lagoa Redonda perto de 30 km dali. Era mais longe do que seguir pela
praia, mas garantida a passagem. Havia a opção, essa mais longa ainda, de
seguir pelo asfalto mesmo, passar por Japaratuba, até a BR 101; dali pegar
outra estrada, cruzar a cidade de Jaboatã, até chegar a Neópolis, onde há balsa
para Penedo, atravessando ali o rio São Francisco. Eu e a Carmo já fizemos isso
em 2006 e não queríamos repetir. Mesmo porque era bem mais longe e sem graça
alguma.
Resolvemos dar uma olhada na
praia local, antes de decidir seguir pela estrada de piçarras. Ao chegarmos fui
até à beira da praia verificar as condições da areia, e realmente parecia
difícil transitar por ali, e a maré ainda estava alta. Conversando com o gerente
de um bar, este nos falou que poderíamos seguir pela praia uns treze
quilômetros, até Lagoa Redonda, e depois pegar a outra estrada, mas não tinha
muita convicção do que dizia. Resolvemos seguir a orientação dos taxistas, e
voltamos para a vila, pegamos o asfalto por mais alguns quilômetros, até entrar
num outro povoado, à direita, para chegar à tal estradinha. Logo no começo uma
baita de uma subida e a Carmo teve cãibras. No alto do morro a estrada ficou
mais plana, mas o calor estava sufocante.
Com tanta dificuldade, já
cansados e com fome, chegamos à Lagoa Redonda. Cruzamos toda a vila e chegamos
ao final da estrada, à beira de um riacho. Lá tinha opção de almoço, e o
“Peteca” nos atendeu. Pescador, sabia tudo de maré, é claro, e, perguntado, logo
disse que a partir das três horas seria possível seguir pela praia por mais
cerca de 20 km até o povoado de Ponta do Mangue . Perguntamos sobre a estrada
que leva a Brejo Grande, e ele respondeu que tinha de voltar um trecho da vila
e pegar à direita. Realmente cruzamos com essa entrada, mas não havia qualquer
sinalização.
O jeito era ficar por ali mesmo,
almoçar, descansar, e seguir pela praia. Seria mais rápido e prazeroso.
Tínhamos uma hora e meia para esperar. Ficamos ali pelo rio, nos refrescamos
até sermos servidos, numa mesa de bar, dentro do próprio rio, à sombra das
árvores. O prato de peixe frito trazido para nós, fez com que disséssemos que
estávamos só nós ali, e que a família tinha ficado (rs). Estava muito bom, mas
não conseguimos comer tudo.
Deixamos o local agradável,
atravessamos o rio e seguimos em direção à praia, por entre os coqueirais. Um
quilômetro depois e avistamos a linda praia. Havia uma faixa de areia
suficiente para pedalar, e a maré realmente estava baixando gradativamente. No
começo, em alguns trechos tivemos que descer das bicicletas, mas no geral
seguia bem; se o vento colaborasse, seria dos deuses, mas parece que só havia
aumentado sua intensidade. Entendemos o porque do parque Eólico existente antes
de Pirambú, perto do porto de Aracajú.
O tempo passava e não rendíamos
bem; a Carmo sofria muito para seguir, e deixava de pedalar e seguia a pé.
Víamos o Rubens se afastar cada vez mais lá na frente, e o sol a se pôr à nossa
esquerda. O cenário não poderia ser mais bonito, ainda mais com as lindas dunas
que seguiam paralelas à praia, ao longe, mas o cansaço era mais forte, e não
vislumbrávamos qualquer pista sobre a tal vila; só víamos praia pela frente. Os
quilômetros foram passando e passando. A vontade era de parar e tomar um bom e
refrescante banho de mar, mas o final da tarde estava chegando; o dia acaba
cedo no Nordeste.
O sol se pôs, não víamos mais o
Rubens; nem ele e nem mais ninguém ou alguma vila. Era bom ele ir à frente pra
ver se descobria algo. Cheguei a avistar uma antena, perto das dunas, mas não
vi casas, nem luz, e segui. Nessas alturas a Carmo ficou um pouco mais atrás.
Finalmente vi movimentação à frente: era uma carroça, com algumas pessoas,
vindo em nossa direção. Tinham acabado de deixar uma rede de pesca no mar e
voltavam para a vila. Perguntei sobre a vila e disseram para seguir o rastro da
carroça, no sentido contrário do qual vínhamos. Mas e o Rubens? Teria ele
seguido em frente; não havia rastro na praia. Será que ele entrou em algum
ponto para procurar a vila? Perguntei por nosso amigo, e ele apenas falou: -
por aqui ele não passou, mesmo porque ninguém segue mais a frente, a praia
acaba logo ali nas pedras, e depois já é o rio. Falava do rio São Francisco, ou
seja, chegamos à foz do rio. Fim da linha.
Quando viramos o corpo na direção
contrária, logo vimos um farol aceso, daqueles típicos de bicicleta, cerca de
quinhentos metros de distância. Só podia ser o Rubens vindo naquela escuridão.
Ele também viu a antena, largou a bicicleta em algum ponto (fora da nossa
visão), e foi correndo até o alto das dunas. Lá, não achou nada, apenas pontos
de luz, que seriam casas. Deveria ter visto mesmo as luzes das casas da vila.
Fiquei preocupado em não encontrá-lo, mas acabou dando tudo certo. Bem, tudo
certo não é bem a coisa, pois o perrengue não tinha acabado. Seguimos a trilha
da carroça, com os faróis, e o carroceiro vinha logo atrás, no breu;
escutávamos o barulho. A trilha estava alagada, com trechos fundos, e quase fui
para o brejo. Alertado pela voz ao longe do pescador, saí da parte funda e
segui uma espécie de ponte de troncos de árvore do lado direito. A Carmo e o
Rubens seguiam passos atrás. Finalmente chegamos à vila. Era um lugar chamado
Boca da Barra.
As casas ficavam esparsas pela
estradinha de areia; viam-se apenas suas luzes. Logo percebemos que a carroça
entrou em uma delas e desapareceu. No breu fomos seguindo a estrada pensando
chegar no “centro”, mas não havia um. Pelo menos tinha um barzinho, e foi ali
que decidimos a sequencia do dia, ou da noite...
O casal proprietário era muito
bacana, nos recebeu bem. Eram o Ninho e a Maul. Pedimos um refrigerante e
praticamente deitamos no espaço vazio do bar. Até eu começava a ter cãibras,
talvez pelo esforço dobrado feito em alguns trechos da praia, quando ajudei a
Carmo, empurrando-a. Procuramos por algum abrigo para dormir. Havia a casa de
seu Jorge, que costumava receber pessoas para tal fim. O Ninho seguiu
gentilmente de moto até lá, e retornou com a notícia de que a casa do sujeito
(na verdade uma escola) estava sem água e a esposa estava fora; não seria
possível nos receber. Brejo Grande, uma vila maior, à beira do rio São
Francisco, nosso objetivo do dia, ficava a, talvez, uns 20 km dali. Realmente
não tínhamos condições de seguir pedalando. Perguntamos por transporte, e
novamente o proprietário deu um jeito, ligou para um parente que fazia frete e
morava numa outra vila vizinha. Lá veio ele, de Ponta do Mangue, local antes
indicado pelo Peteca, depois de algum tempo, com sua pick up Strada.
Acomodamos as bicicletas na
caçamba e seguimos até Brejo Grande. Percebemos que seria difícil pedalar até
lá. O homem nos deixou na porta da Pousada Raízes, um lugar bacana da pequena e
simples vila. Tomamos um belo de um banho e fomos até a praça principal
encontrar algo para comer. Achamos uma pizzaria, sem forno a lenha, mas o
suficiente para repor os carboidratos para a sequencia da jornada. Uma bela
noite de sono e com certeza estaríamos refeitos.
Olá pessoal: Pelo jeito o perrengue foi grande mesmo pois quando acabei de ler até eu já me senti exausto. Um abração a todos e divirtam-se muito. IIIIIIIIIIUUUUUHHHHHRRRRUUUUU........
ResponderExcluirComigo é assim né Neimar, só perrengue, kkkkk. Mas tem mais pela frente... Grande abraço.
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