ROTA DOS
TROPEIROS
CASTRO
11/05/2013
Tiramos o dia para passear pela cidade. Ainda de manhã fomos
conhecer o Museu do Tropeiro, que fica localizado junto a uma casa das mais
antigas do local. Dentro do espírito da nossa viagem, tinha de tudo para entender
ainda melhor a história desses desbravadores: os tropeiros. O cuidado com o
acervo começava pelos pés, ou seja, tivemos que caminhar sobre chinelos
felpudos, para não riscar o piso de madeira original. O museu de Castro foi o
primeiro a ser criado sobre o assunto, isso em 21/01/1977.
Logo na entrada há uma onça pintada empalhada, junto a dois
manequins de tropeiros, com as vestimentas da época, com um painel
demonstrativo ao fundo. Tem muito material utilizado pelos tropeiros, como cabrestos
e bucais, cangalhas com retrancas e peitorais, serigotes, bastos e lombilhos,
socadilhos, cutucas, pelegos, caronas, albardas, mantos de couro e de lã,
baixeiros, arreios, forros, cinchadores, freios, rabichos, laços, talas,
sobrecinchas, sobrecargas, arrochos, bruacas e burras, trempes, chocolateira,
panelas, pratos, bules, canecas, mantimentos em geral, etc...
Os tropeiros vestiam-se de chapéu, lenço, camisa, bombacha,
guaiaca, faca, arma, bota, esporas, poncho e tirador. Na verdade o tropeiro era
o dono da tropa, e nem sempre seguia com ela. No grupo havia o madrinheiro, o
tocador, arrieiro, cangalheiro, seleiro, trançador, cesteiro, funileiro e
ferreiro. O madrinheiro via de regra era jovem e aprendiz; seguia à frente da
tropa, com a égua madrinha, e fazia comida para a tropa.
Existiam dois tipos de tropas: a chucra e a cargueiro ou
arriada. A primeira era composta por animais chucros e que eram amansados pelo
caminho; serviam para serem vendidos na feira de Sorocaba. A segunda era
composta por animais mansos, cargueiros e levavam toda a mercadoria em suas
bruacas, cestos ou canastras, produtos que eram vendidos pelo caminho. A
passagem dessas tropas fizeram com que consolidassem vilas, que mais tarde se
transformaram em cidades, como Cruz Alta, Passo Fundo, Viamão, Lajes,
Curitibanos, Rio Negro, Lapa, Castro e Itapeva.
O tropeirismo deixou marcas na cultura brasileira, que até
hoje fazem parte dos costumes. Durante a jornada, nas paradas, tocavam viola e
cantavam, além de contar muitos causos. Assim surgiram lendas como do boitatá,
de fantasmas que apareciam como assombrações; simpatias, rezas e benzimentos
até hoje são utilizados. Há um texto em que lembra ser atual a lenda de que
para evitar filhos basta a mulher tomar chá de casco de mula torrado e moído...
Na língua nacional também sobraram alguns termos: Picar a
mula, Dar com os burros na água, teimoso como mula, deixar de ser besta, ser
uma besta quadrado, ficar emburrado, quando um burro fala o outro abaixa a
orelha, etc...
No museu há uma ordem para a visita: primeiro o Hall de
entrada, depois alguns Painéis, Sala de Apresentação (Quem era o Tropeiro),
Sala do Roteiro (Donde veio o Tropeiro), Sala do Pouso (Como viveu o Tropeiro),
Sala da Casa do Tropeiro, Sala de Aferição (Medidas em tempo de Tropeiro), Sala
Testemunho de uma época, Sala de Arte Sacra e o Alpendre. Enfim, é possível
entender tudo o que acontecia na época dos tropeiros, que teve início (Caminho
do Viamão) em 1732, por Cristóvão Pereira de Abreu.
Numa placa estava escrito assim: “ TROPEIRO SÓ FALA EM BURRO/
CARREIRO SÓ FALA EM BOI/ MOÇA FALA EM NAMORO/
E VELHO CONTA O QUE FOI!
Depois da aula de tropeirismo fomos para outra aula, desta
feita na “Casa da Praça”, uma casa antiga, que serviu de residência do
historiador e prefeito Pedro Novaes Rosa, e hoje serve como Salão de Artes. Lá
encontramos uma figura especial, o Sr. Joel “Wahl” Lourenço, que é membro do
Conselho Científico, pesquisador da memória indígena e escoteiro, no seu mais
alto grau. Diria mais, ele é um “mateiro”, um desbravador, um “índio”. Ficamos
por muito tempo conversando, e por várias vezes ele falava na língua do povo
“jê”, que, segundo ele, são cerca de 30 tribos no país. Eu o deixei “bravo”
logo no início quando falei no Canyon Guartelá. – Pera aí, deixe-me corrigi-lo:
Canyon do Iapó. Guartelá seria o nome do parque, mas o canyon é do rio Iapó.
Pessoa extremamente simples e feliz por dividir sua cultura. Ficou chateado por
não termos tanto tempo para ele nos conduzir até alguns locais próximos a
Castro, onde foram encontradas residências subterrâneas de índios, além de
grutas e cachoeiras.
CAMINHO DO PEABIRÚ
O Wahl nos lembrou, ainda, de que um outro caminho importante
passou por estas bandas de Castro: o Caminho do Peabirú. Foi um caminho
transcontinental, o mais importante da época anterior ao descobrimento da
América. Foi denominado “Peabirú” pelos indígenas, e dirigia-se do atual
litoral paulista, em São Vicente, para o sul, rumo ao Paranapanema, e de lá
para uma das nascentes do Rio Ribeira, até os campos de Castro. Depois até o
rio Paraná, passando pelos rios Tibagi, Ivaí e Piquiri. Tratava-se de um
caminho muito batido, com largura de oito palmos. Foram descobertos no caminho,
alguns “petroglifos”, que são sinais existentes e paralelos ao “caminho”, que
serviam para indicar os cruzamentos e direções para não haver engano nos rumos
a serem tomados.
Estivemos ainda na Casa de Sinhara, ainda no centro antigo,
próxima à Igreja Mastriz de Sant’Ana. Trata-se de uma extensão do Museu do
Tropeiro, que mostra em seus ambientes objetos, móveis e utensílios que
retratam exatamente a época do tropeirismo. Muito legal, principalmente porque
a casa também é antiga.
Depois, de bicicleta, fomos a Castrolanda e à Fazenda Capão
Alto. A ocupação holandesa não é tão antiga, mas a cultura do local é muito
forte e está presente nos costumes dos moradores. Até um Moinho existe por lá,
magnífico, e funciona como demonstração. Dizem que é o maior fora da Holanda.
Ainda na região de Castrolanda, fica a Fazenda Capão Alto, berço do tropeirismo
em Castro. Fica às margens do rio Iapó; tem grande importância na passagem da
rota dos tropeiros. Cedida em sesmarias pela Colônia Portuguesa à família
Taques de Almeida. Tornou-se depois propriedade da Ordem Carmelita do Brasil.
Chama atenção por suas construções, refletindo a imagem de casarões típicos das
fazendas coloniais. O casarão central foi erguido em taipa de pilão na segunda
metade do século XIX, um dos únicos do gênero no Paraná. Em 1751 a família fez
doação da mesma aos religiosos de Nossa Senhora de Monte Carmelo, que deixaram
a fazenda aos cuidados de seus escravos por cerca de 100 anos. Havia ali uma
capela em louvor a Santo Antonio e um pequeno cemitério, hoje em ruínas. Foi
tombada pelo Patrimônio Histórico e Artistico do Estado em 1982.
O interessante foi encontrar outra figura: o seo João. É o
cuidador e contador de história do local. Você chega e ele pede pra você
sentar-se num banquinho feito de tronco de madeira, do lado de fora do casarão;
abre o papel, coloca o fumo, enrola, acende, dá um trago e começa a contar
histórias. Fantástico. Conhecemos tudo ao seu lado, e depois fomos para o
bosque de pinheiros. Retirou umas batatas do solo para conhecermos, pois disse
que muita gente não sabe da onde vem a batata. Senti uma “chuva” vindo do alto,
refletindo do sol de final de tarde, mas o céu estava limpo. Eram macacos
bugio; uma família deles estava passeando e se alimentando de pinhão, quando um
fez xixi. Depois vimos um casal de pássaros que nem o seo João, nem um mateiro
que ele chamou, conhecia. Para finalizar, conhecemos um pinheiro que “morreu”,
e jaz na terra no longo de seus 40 metros, todo oco, sendo possível tirar uma
foto praticamente dentro dele, junto a sua raiz. Pedalamos cerca de 36 km nesse
dia maravilhoso.
Museu do Tropeiro |
Ídem |
Ídem |
Sr. Wahl |
Casa de Sinhara |
Rio Iapó |
Caminho alternativo para Castrolanda |
Faz. Capão Alto |
Sr. João |
Tronco dos escravos |
Bugio |
E vidão!!!!!!!! Dia de folga hj. :D
ResponderExcluirVida boa né Mildo? hehehe. Sei que vc também gostaria de estar por essas estradas... Estou atualizando agora. Abraços.
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