segunda-feira, 13 de maio de 2013

ROTA DOS TROPEIROS - CASTRO


ROTA DOS TROPEIROS
CASTRO
11/05/2013

Tiramos o dia para passear pela cidade. Ainda de manhã fomos conhecer o Museu do Tropeiro, que fica localizado junto a uma casa das mais antigas do local. Dentro do espírito da nossa viagem, tinha de tudo para entender ainda melhor a história desses desbravadores: os tropeiros. O cuidado com o acervo começava pelos pés, ou seja, tivemos que caminhar sobre chinelos felpudos, para não riscar o piso de madeira original. O museu de Castro foi o primeiro a ser criado sobre o assunto, isso em 21/01/1977.

Logo na entrada há uma onça pintada empalhada, junto a dois manequins de tropeiros, com as vestimentas da época, com um painel demonstrativo ao fundo. Tem muito material utilizado pelos tropeiros, como cabrestos e bucais, cangalhas com retrancas e peitorais, serigotes, bastos e lombilhos, socadilhos, cutucas, pelegos, caronas, albardas, mantos de couro e de lã, baixeiros, arreios, forros, cinchadores, freios, rabichos, laços, talas, sobrecinchas, sobrecargas, arrochos, bruacas e burras, trempes, chocolateira, panelas, pratos, bules, canecas, mantimentos em geral, etc...

Os tropeiros vestiam-se de chapéu, lenço, camisa, bombacha, guaiaca, faca, arma, bota, esporas, poncho e tirador. Na verdade o tropeiro era o dono da tropa, e nem sempre seguia com ela. No grupo havia o madrinheiro, o tocador, arrieiro, cangalheiro, seleiro, trançador, cesteiro, funileiro e ferreiro. O madrinheiro via de regra era jovem e aprendiz; seguia à frente da tropa, com a égua madrinha, e fazia comida para a tropa.

Existiam dois tipos de tropas: a chucra e a cargueiro ou arriada. A primeira era composta por animais chucros e que eram amansados pelo caminho; serviam para serem vendidos na feira de Sorocaba. A segunda era composta por animais mansos, cargueiros e levavam toda a mercadoria em suas bruacas, cestos ou canastras, produtos que eram vendidos pelo caminho. A passagem dessas tropas fizeram com que consolidassem vilas, que mais tarde se transformaram em cidades, como Cruz Alta, Passo Fundo, Viamão, Lajes, Curitibanos, Rio Negro, Lapa, Castro e Itapeva.

O tropeirismo deixou marcas na cultura brasileira, que até hoje fazem parte dos costumes. Durante a jornada, nas paradas, tocavam viola e cantavam, além de contar muitos causos. Assim surgiram lendas como do boitatá, de fantasmas que apareciam como assombrações; simpatias, rezas e benzimentos até hoje são utilizados. Há um texto em que lembra ser atual a lenda de que para evitar filhos basta a mulher tomar chá de casco de mula torrado e moído...

Na língua nacional também sobraram alguns termos: Picar a mula, Dar com os burros na água, teimoso como mula, deixar de ser besta, ser uma besta quadrado, ficar emburrado, quando um burro fala o outro abaixa a orelha, etc...

No museu há uma ordem para a visita: primeiro o Hall de entrada, depois alguns Painéis, Sala de Apresentação (Quem era o Tropeiro), Sala do Roteiro (Donde veio o Tropeiro), Sala do Pouso (Como viveu o Tropeiro), Sala da Casa do Tropeiro, Sala de Aferição (Medidas em tempo de Tropeiro), Sala Testemunho de uma época, Sala de Arte Sacra e o Alpendre. Enfim, é possível entender tudo o que acontecia na época dos tropeiros, que teve início (Caminho do Viamão) em 1732, por Cristóvão Pereira de Abreu.

Numa placa estava escrito assim: “ TROPEIRO SÓ FALA EM BURRO/ CARREIRO SÓ FALA EM BOI/ MOÇA FALA EM NAMORO/  E VELHO CONTA O QUE FOI!

Depois da aula de tropeirismo fomos para outra aula, desta feita na “Casa da Praça”, uma casa antiga, que serviu de residência do historiador e prefeito Pedro Novaes Rosa, e hoje serve como Salão de Artes. Lá encontramos uma figura especial, o Sr. Joel “Wahl” Lourenço, que é membro do Conselho Científico, pesquisador da memória indígena e escoteiro, no seu mais alto grau. Diria mais, ele é um “mateiro”, um desbravador, um “índio”. Ficamos por muito tempo conversando, e por várias vezes ele falava na língua do povo “jê”, que, segundo ele, são cerca de 30 tribos no país. Eu o deixei “bravo” logo no início quando falei no Canyon Guartelá. – Pera aí, deixe-me corrigi-lo: Canyon do Iapó. Guartelá seria o nome do parque, mas o canyon é do rio Iapó. Pessoa extremamente simples e feliz por dividir sua cultura. Ficou chateado por não termos tanto tempo para ele nos conduzir até alguns locais próximos a Castro, onde foram encontradas residências subterrâneas de índios, além de grutas e cachoeiras.

CAMINHO DO PEABIRÚ
O Wahl nos lembrou, ainda, de que um outro caminho importante passou por estas bandas de Castro: o Caminho do Peabirú. Foi um caminho transcontinental, o mais importante da época anterior ao descobrimento da América. Foi denominado “Peabirú” pelos indígenas, e dirigia-se do atual litoral paulista, em São Vicente, para o sul, rumo ao Paranapanema, e de lá para uma das nascentes do Rio Ribeira, até os campos de Castro. Depois até o rio Paraná, passando pelos rios Tibagi, Ivaí e Piquiri. Tratava-se de um caminho muito batido, com largura de oito palmos. Foram descobertos no caminho, alguns “petroglifos”, que são sinais existentes e paralelos ao “caminho”, que serviam para indicar os cruzamentos e direções para não haver engano nos rumos a serem tomados.

Estivemos ainda na Casa de Sinhara, ainda no centro antigo, próxima à Igreja Mastriz de Sant’Ana. Trata-se de uma extensão do Museu do Tropeiro, que mostra em seus ambientes objetos, móveis e utensílios que retratam exatamente a época do tropeirismo. Muito legal, principalmente porque a casa também é antiga.
Depois, de bicicleta, fomos a Castrolanda e à Fazenda Capão Alto. A ocupação holandesa não é tão antiga, mas a cultura do local é muito forte e está presente nos costumes dos moradores. Até um Moinho existe por lá, magnífico, e funciona como demonstração. Dizem que é o maior fora da Holanda. Ainda na região de Castrolanda, fica a Fazenda Capão Alto, berço do tropeirismo em Castro. Fica às margens do rio Iapó; tem grande importância na passagem da rota dos tropeiros. Cedida em sesmarias pela Colônia Portuguesa à família Taques de Almeida. Tornou-se depois propriedade da Ordem Carmelita do Brasil. Chama atenção por suas construções, refletindo a imagem de casarões típicos das fazendas coloniais. O casarão central foi erguido em taipa de pilão na segunda metade do século XIX, um dos únicos do gênero no Paraná. Em 1751 a família fez doação da mesma aos religiosos de Nossa Senhora de Monte Carmelo, que deixaram a fazenda aos cuidados de seus escravos por cerca de 100 anos. Havia ali uma capela em louvor a Santo Antonio e um pequeno cemitério, hoje em ruínas. Foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artistico do Estado em 1982.

O interessante foi encontrar outra figura: o seo João. É o cuidador e contador de história do local. Você chega e ele pede pra você sentar-se num banquinho feito de tronco de madeira, do lado de fora do casarão; abre o papel, coloca o fumo, enrola, acende, dá um trago e começa a contar histórias. Fantástico. Conhecemos tudo ao seu lado, e depois fomos para o bosque de pinheiros. Retirou umas batatas do solo para conhecermos, pois disse que muita gente não sabe da onde vem a batata. Senti uma “chuva” vindo do alto, refletindo do sol de final de tarde, mas o céu estava limpo. Eram macacos bugio; uma família deles estava passeando e se alimentando de pinhão, quando um fez xixi. Depois vimos um casal de pássaros que nem o seo João, nem um mateiro que ele chamou, conhecia. Para finalizar, conhecemos um pinheiro que “morreu”, e jaz na terra no longo de seus 40 metros, todo oco, sendo possível tirar uma foto praticamente dentro dele, junto a sua raiz. Pedalamos cerca de 36 km nesse dia maravilhoso.

Museu do Tropeiro
Ídem
Ídem
Sr. Wahl
Casa de Sinhara
Rio Iapó

Caminho alternativo para Castrolanda

Faz. Capão Alto
Sr. João



Tronco dos escravos
Bugio





2 comentários:

  1. E vidão!!!!!!!! Dia de folga hj. :D

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    1. Vida boa né Mildo? hehehe. Sei que vc também gostaria de estar por essas estradas... Estou atualizando agora. Abraços.

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